Cidades

Álcool perde a vantagem em Brasília

Mariana Flores
postado em 14/10/2009 08:00

Garantir o preço mais baixo na hora de abastecer o carro voltou a ser um processo de cálculo matemático. O álcool está custando mais caro em alguns postos do Distrito Federal, e, em contrapartida, a gasolina está sendo vendida a preços mais baixos em outros estabelecimentos. O servidor público Jailson Souza trocou o carro a gasolina por um biocombustível e percebeu que não vale a pena encher o tanque com álcool

Com isso, o proprietário de um carro bicombustíveis ; representam nove em cada 10 veículos vendidos no país ; não pode mais escolher de olhos fechados o álcool, caso a opção seja pelo mais barato. Agora, é preciso avaliar qual das duas opções vale mais a pena.Como rende menos, o álcool só é vantajoso quando seu preço corresponder, no máximo, a 70% do valor da gasolina. Em alguns postos do Distrito Federal essa diferença já não ocorre. Até o início de outubro, o máximo que o álcool chegava a custar era 68% do valor da gasolina.

Na semana passada, a proporção chegou a 72%, segundo o levantamento semanal da Agência Nacional do Petróleo (ANP). A culpa é do aumento do preço do álcool em função de uma redução na produção de cana-de-açúcar, cultura prejudicada pelo excesso de chuvas nos últimos dois meses.


;O preço aumentou para os postos e tivemos que repassar para os consumidores;, justifica o presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis Automotivos e de Lubrificantes do Distrito Federal (Sinpetro), José Carlos Ulhôa.

; Compare os valores cobrados pelo litro de nos estabelecimentos da capital

Um tanque cheio com álcool rende 30% menos do que a gasolina. Um carro que faz 10 quilômetros por litro de gasolina, por exemplo, faz sete quilômetros por litro de álcool. Os especialistas reforçam que o consumidor pode usar o combustível que quiser e misturar um com o outro no mesmo tanque. A escolha deve ser feita por razão econômica. Três dias depois de trocar um carro a gasolina por um bicombustível, o servidor Jaílson Souza Nascimento, 28 anos, viu que o álcool não seria uma boa opção, mantida a tendência de alta dos preços.

No posto em que abasteceu, na Asa Sul, o álcool corresponde a 69% do valor da gasolina. ;Abasteci com álcool hoje por impulso, porque tenho ouvido falar que ele vale mais a pena. Mas, daqui para frente, vou fazer o cálculo antes e ver qual dos dois é melhor;, afirma o morador de Águas Claras, que gasta cerca de R$ 450 por mês com combustível.

A previsão do setor é que, apesar do aumento, o álcool consiga manter a competitividade, segundo o vice-presidente executivo do Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e de Lubrificantes (Sindicom), Alísio Vaz. ;Esse patamar de preços não é o que deve ficar em um mercado estabilizado. O álcool tem condições de continuar competitivo na maior parte do país. A explicação para este aumento está em um excesso de chuvas que prejudicou a colheita da cana-de-açúcar desde agosto;, explica.

Mas o consumidor não deve se animar. Os usineiros não pretendem deixar que a relação baixe muito aquém do percentual médio verificado em Brasília ; álcool valendo 67% do preço da gasolina. ;O álcool não deve voltar a valer menos de 60% do preço da gasolina, como ocorreu há um tempo. O preço dos últimos meses não estava remunerando os produtores. Mas também não vai passar de 70%, não temos uma margem grande para aumentar, senão o consumidor troca de combustíveis;, afirma Sérgio Prado, representante paulista da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Única).

Como fazer a conta
Como tem um rendimento menor, o álcool tem que custar, no máximo, 70% do valor da gasolina para ser vantajoso. Multiplique o preço do litro da gasolina por 0,7. Sempre que o resultado for superior ao preço do álcool, opte pelo segundo. Exemplo: os valores médios cobrados pela gasolina e pelo álcool no Distrito Federal estão em R$ 2,65 e R$ 1,78. Multiplicando R$ 2,65 por 0,7 dá R$ 1,85, valor superior ao do álcool, então, nos postos em que o litro do biocombustível corresponder a este preço vale a pena abastecer. Neste caso, o álcool vale 67% do valor da gasolina. Mas, se for considerado o preço máximo do álcool, R$ 1,86, e o mínimo da gasolina, R$ 2,58, a relação sobe para 72%, ou seja, economicamente a opção pelo derivado da cana-de-açúcar não compensa.

Repasse para a bomba

De acordo com ANP, os valores pagos pelos donos de postos às distribuidoras aumentaram e foram repassados para os clientes. Até o início do mês, os postos pagavam, em média, R$ 2,20 pelo litro de gasolina. Na semana passada, o valor subiu para R$ 2,24. O litro de álcool comprado pelos empresários aumentou de R$ 1,42 para R$ 1,46.

Proporção no DF é a menor do país
A queda de preços nos últimos anos ajudou o álcool a ganhar mercado no Distrito Federal. Nos oito primeiros meses de 2009, foram vendidos 155,1 mil m; de álcool, 40,8% mais que no mesmo período de 2008. Por outro lado, a venda de gasolina caiu 3,1% nos mesmos meses. Foram comercializados 489,1 mil m; de gasolina. Para cada litro de álcool vendido no DF, são comercializados três de gasolina. No ano passado a proporção era de 4,4 litros de gasolina para cada litro de álcool. Em 2004, um ano após o início das vendas dos carros bicombustíveis, a participação do álcool era bem menor. Eram comercializados nove litros de gasolina para cada um de álcool. Mas a proporção na capital federal ainda é menor que a do país. Nas 27 unidades da Federação a proporção é de 1,5 litro de gasolina para cada litro de álcool.

O aumento da participação do álcool no mercado se deu pelos preços mais baixos, já que na maior parte dos nove meses de 2009 ele foi mais vantajoso. ;Nos últimos meses, a demanda estava muito aquecida, o que acabou puxando os preços agora. A decisão final é do consumidor, e, em Brasília, o preço médio ainda vale a pena;, afirma o vice-presidente executivo do Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e de Lubrificantes (Sindicom), Alísio Vaz.

Mas muitos consumidores ainda continuam optando pela gasolina. Caso do analista de sistemas Lúcio Marques, de 43 anos, que nemsequer faz a conta antes de escolher. ;É questão de costume, já estou condicionado, nem olho o preço do álcool, só uso a gasolina;, afirma o morador da Octogonal, que gasta, mensalmente, cerca de R$ 500 com gasolina.

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