Cidades

Casos resolvidos por tabela

Investigação do triplo assassinato ajudou a solucionar um roubo, levou à prisão de duas pessoas e ainda evitou um latrocínio

Renato Alves
postado em 25/10/2009 09:23
A equipe da 1ª Delegacia de Polícia (Asa Sul) ainda não conseguiu resolver o triplo homicídio da 113 Sul, mas a investigação dos assassinatos levou à elucidação de outros crimes, à prisão de duas pessoas e evitou uma execução. A maioria dos casos começou a ser apurada por meio de ligações anônimas ao Disque-Denúncia (197) da Polícia Civil. Os denunciantes deram pistas sobre o provável envolvimento de criminosos nas mortes do casal de advogados José Guilherme Villela, 73 anos, e Maria Carvalho Mendes Villela, 69; e da principal empregada deles, Francisca Nascimento da Silva, 58, ocorridas em 28 de agosto. Por enquanto, a relação dos suspeitos com o esfaqueamento dos três e o sumiço de joias e dólares dos Villela não foi comprovada. Uma das denúncias levou a 1ª DP a esclarecer um crime antes de ele ser registrado pela polícia. Dois homens confessaram ter levado mais de US$ 45 mil de um estabelecimento comercial dois dias antes do triplo assassinato da 113 Sul. O denunciante informou que um dos autores do roubo estaria esbanjando dinheiro em Caldas Novas (GO), a 230km de Brasília. Ele havia se hospedado num hotel de luxo e teria comprado um carro. O acusado continua foragido, mas dois comparsas dele, que também teriam participação no roubo ao ex-local de trabalho, compareceram à 1ª DP na quinta-feira e devolveram o dinheiro. Cada um havia ficado com US$ 15 mil. Eles responderão por furto qualificado em liberdade. Extermínio Até agora, dois homens estão presos por suspeita de envolvimento no triplo assassinato. Mas faltam provas para vinculá-los de forma definitiva ao crime. Os primos D. e A. permanecem detidos há três semanas, por acusações de pistolagem e clonagem de veículos. Segundo a polícia, testemunhas viram a dupla e um terceiro homem na 513 Sul na noite em que José Guilherme, Maria e Francisca foram mortos. D. teria dirigido o carro usado na fuga dos assassinos. Contra A. pesa a suspeita de ser o responsável pelos golpes de faca contra as três vítimas. Os dois integrariam, de acordo com a polícia, o Primeiro Comando da Capital (PCC), facção criminosa de São Paulo. D. também seria matador de aluguel ligado a um grupo de extermínio do PCC. Os investigadores do caso Villela encontraram, na casa do primo dele, o suspeito identificado como A., uma lista com nomes e placas de veículos de pessoas que seriam mortas. Um dos alvos seria o então presidente da Cooperativa dos Profissionais Autônomos de Transporte de Samambaia (Coopetram), Noel Santos Abreu. Ele sofreu a tentativa de latrocínio (roubo com morte) em setembro. Abreu foi recentemente destituído da cooperativa devido a denúncias de desvio de verbas e apropriação indébita. Há um inquérito contra ele aberto na 21ª DP, em Taguatinga Sul. D. mora no Riacho Fundo com a mulher e a filha dela. Em conversa com o Correio, a companheira dele admitiu que D. esteve no Plano Piloto no mesmo dia das mortes, mas negou que ele tenha qualquer participação na tragédia. O desafio dos policiais da 1ª DP é reunir as provas capazes de vincular os suspeitos ao triplo assassinato. Após 54 dias de investigações, ainda faltam os laudos realizados por peritos da Polícia Civil, por exemplo. No carro apreendido com D., foi coletada amostra de sangue, mas ainda não se sabe de quem é. No entanto, um relatório do Instituto de Criminalística que deve ser encaminhado à 1ª DP nesta semana %u2014 conforme reportagem exclusiva publicada ontem pelo Correio %u2014 conclui que três pessoas executaram os Villela e a empregada da família. De acordo com o documento, José Guilherme, Maria Carvalho e Francisca foram dopados por um assassino, rendidos por outro e esfaqueados pelo terceiro bandido. Depoimentos A delegada Martha Vargas esteve na 1ª DP, ontem, entre as 16h e as 18h, período no qual ouviu alguns depoimentos. Ela não revelou quantos. %u201CTeve um monte%u201D, limitou-se a dizer. As denúncias anônimas também já levaram os investigadores a pessoas que, aparentemente, nada têm a ver com o triplo assassinato ou outros crimes. Um pedreiro de Luziânia, a 56km do Plano Piloto, prestou depoimento no caso em 17 de outubro. A polícia o identificou após rastrear as ligações telefônicas feitas pelos Villela %u2014 a quebra do sigilo contou com autorização judicial. O homem foi à 1ª DP acompanhado da mulher e escoltado por dois policiais civis. A companheira dele informou ao Correio que o número do telefone do marido apareceu em uma das relações de chamadas originadas ou feitas por meio de celular ou telefone fixo, fornecidas pela operadora de telefonia dos Villela. O homem conversou com a polícia na condição de testemunha. No depoimento, o pedreiro confirmou que ligou para o número de José Guilherme cerca de um mês antes do crime, mas teria feito a ligação por engano. Na noite em que descobriram a lista de supostos nomes de pessoas marcadas para morrer e foram à casa de Noel Santos Abreu, os agentes da 1ª DP levaram algemado à delegacia um pedreiro que prestava serviço na residência do então presidente da Coopetram. A justificativa: o empregado teria reagido de maneira suspeita à chegada da polícia. Ele prestou depoimento e acabou liberado horas depois, sem qualquer acusação. Com base em ligação para o Disque-Denúncia, segundo a delegada Martha Vargas, a 1ª DP intimou o prefeito de Planaltina de Goiás, José Olinto Neto, para depor no caso Villela. Ele foi à delegacia em 16 de setembro e deixou o prédio dizendo que não conhecia José Guilherme, nunca havia estado com o ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral e que, no horário do crime, estava em três compromissos oficiais no município do Entorno. A delegada minimizou o episódio, alegando tratar-se de uma %u201Ctestemunha indireta%u201D.

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