Cidades

Confusão instalada na Câmara

De forma intempestiva, presidente interino da Casa encerra sessão sem que o novo líder do Legislativo local seja eleito. Deputados governistas tentam retomar os trabalhos, mas a votação é remarcada para terça-feira

postado em 27/01/2010 16:19

Cabo Patrício (E) suspendeu a sessão após denúncia de compra de votos e alegou que, como nem todos estavam presentes, não poderia haver votaçãoQuando tudo indicava que o deputado Wilson Lima (PR) seria o novo presidente da Câmara Legislativa, uma decisão inesperada mudou o rumo da situação. Depois de abrir a sessão plenária, o presidente interino, Cabo Patrício (PT), leu denúncia feita na internet sobre um suposto pagamento de propina para os deputados governistas votarem contra o impeachment do governador José Roberto Arruda (sem partido). A notícia explodiu como uma bomba no plenário e esquentou o ânimo dos 22 distritais presentes. A bancada petista entendeu que não seria possível prosseguir com a pauta. A sessão foi encerrada sem qualquer deliberação.

Estava prevista para ontem a escolha do novo comando da Casa, além da definição dos integrantes da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e da Comissão Especial e seus respectivos presidentes. Deputados governistas acusaram Cabo Patrício de ter influência sobre a nota na internet e não admitiram que a sessão acabasse. O presidente interino não deu ouvidos: de forma intempestiva, encerrou as atividades e remarcou as votações para a próxima terça-feira, quando a Câmara volta oficialmente do recesso. ;Diante da denúncia, não há como manter os trabalhos. Além disso, nem todos os deputados estão presentes para que se faça a votação;, alegou Patrício, antes de deixar o prédio.

A confusão foi tão grande que, quatro horas após Cabo Patrício ter encerrado os trabalhos, distritais da base de apoio a Arruda ainda tentavam ressuscitar a sessão. Eles pretendiam remarcar para hoje a votação para a presidência da Câmara, mas aconselhados pela equipe técnica, desistiram da ideia. ;Tivemos receio de fazer isso e depois ter que responder judicialmente;, afirmou o deputado Geraldo Naves (DEM). O regimento interno da Câmara não permite que uma sessão extraordinária seja aberta por deputados sem a anuência do presidente. Para a líder do PT, Erica Kokay, a tentativa dos governistas não poderia dar certo. ;A prerrogativa é do presidente da Casa. Isso é um absurdo;, afirmou.

Atrasos
Os deputados governistas, que queriam escolher o quanto antes o chefe do Legislativo local, argumentaram que a atitude inusitada de Cabo Patrício foi uma estratégia para o PT permanecer mais tempo no poder. ;É uma manobra da oposição para conduzir o processo do jeito deles;, reclamou Naves. Na opinião de Raimundo Ribeiro (PSDB), os petistas conseguiram atrasar por uma semana as investigações das denúncias reveladas pelo ex-secretário de Relações Institucionais do GDF, Durval Barbosa, que desencadearam a Operação Caixa de Pandora há dois meses.

Nos bastidores, porém, o adiamento da eleição para a presidência foi visto como uma estratégia para viabilizar a candidatura de Eliana Pedrosa (DEM). Apesar de a distrital ter fechado acordo com o governo na última terça-feira para sair de cena e dar espaço para Wilson Lima ; o preferido de Arruda para assumir o cargo ; , ela teria conseguido apoio da oposição. Os petistas negam e reafirmam que lançarão candidato à cadeira de chefe.


Suplentes reclamam espaço
No vaivém da quarta-feira, os deputados parecem ter se esquecido da posse dos suplentes que foram à Casa substituir os distritais envolvidos no escândalo revelado pela Caixa de Pandora. Dos oito suplentes convocados ontem pelo presidente interino da Câmara, Cabo Patrício (PT), cinco chegaram no início da tarde e aguardaram até a noite para ocupar o cargo. Sem sucesso, reclamaram do descaso com que foram tratados. E exigiram espaço apropriado e servidores da Câmara para poderem trabalhar na análise dos pedidos de impeachment do governador José Roberto Arruda.

O médico Roberto Lucena (PR) ; irmão do empresário da Linknet, Gilberto Lucena, que aparece em vídeos dando dinheiro para o ex-secretário de Relações Institucionais do GDF, Durval Barbosa ; disse que cada suplente precisa de, pelo menos, cinco funcionários. ;Não nos deram previsão de cargo de confiança;, queixou-se. O delegado de polícia aposentado Mário Nóbrega Gomes (PMN) afirmou que Cabo Patrício descumpriu a determinação judicial que convocou os substitutos a atuarem no lugar dos deputados citados por Durval. Já o empresário Olair Francisco (PT do B) garantiu que o interesse dos suplentes não é o salário de R$ 12,4 mil, equivalente ao de um deputado titular. ;Nós queremos é participar logo do processo.;

Compareceram ainda à Casa Joe Valle (PSB) e Washington Mesquita, que foi candidato pelo DEM. A posse deve ocorrer até amanhã. Segundo havia informado Cabo Patrício na terça-feira, os suplentes poderão trabalhar na Presidência da Câmara.

Os convocados
Roberto Lucena (PR)
Wigberto Tartuce (PMDB)
Ivelise Longhi (PMDB)
Raad Massouh (DEM)
Washington Mesquita (DEM)
Joe Valle (PSB)
Mário Gomes (PMN)
Olair Francisco (PT do B)

Nerci Soares, dona da Unirepro, falou por uma hora aos investigadoresEmpresária aceita depor à PF
Das 10 pessoas convocadas até agora pela Polícia Federal (PF) para prestarem depoimentos sobre as denúncias reveladas na Operação Caixa de Pandora, apenas duas contribuíram para as investigações. A diretora comercial da Uni Repro Serviços Tecnológicos, Nerci Soares, e outro depoente ; cuja identidade não foi divulgada ; aceitaram responder às perguntas do delegado responsável pelo caso, Alfredo Junqueira. O restante dos convocados ficou calado.

A diretora comercial da Unirepro Serviços Tecnológicos, Nerci Soares, compareceu ontem pela manhã à Superintendência da PF, no Setor Policial Sul. Chegou às 9h30 e saiu às 13h. Segundo a assessoria de imprensa da PF, o depoimento da empresária durou uma hora. Nerci foi gravada em vídeo negociando com Durval Barbosa, ex-secretário de Relações Institucionais do GDF e delator do suposto esquema de corrupção que envolveria o próprio governador, José Roberto Arruda (sem partido), secretários do GDF e distritais da Câmara Legislativa. As empresas supostamente fariam parte dessa rede de pagamento de propinas. Em uma das imagens, Nerci entrega uma sacola com dinheiro para Durval. Ao deixar o prédio, a empresária evitou a imprensa. A PF não informou o teor do depoimento dela.

No início da manhã, o dono da empresa de informática CTIS, Avaldir da Silva Oliveira, chegou ao prédio da Polícia Federal, acompanhado do advogado. O relato dele estava marcado para as 10h, mas o empresário se antecipou. Oliveira apresentou habeas corpus e permaneceu em silêncio. Deixou o local às 10h40.

O diretor-presidente da Info Educacional, Alexandre Assis Tavares, esteve na PF pouco antes das 14h. Saiu uma hora depois sem falar com os investigadores. A empresa de Tavares é acusada de pagar suborno para manter contratos com a Secretaria de Educação do DF. Assis é visto em vídeo no qual retira maços de dinheiro de uma pasta preta e os repassa a Durval. Ao todo, foram entregues R$ 298 mil. (LM)

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