Cidades

Serviços têm alta acima da inflação em 2009

Trabalhadores especializados subiram os preços, em média, acima da inflação no Distrito Federal, com destaque para os estofadores, que elevaram em 29,43% o conserto de sofás e poltronas

Mariana Flores
postado em 02/02/2010 08:28
Elenilda reajustou os preços da costura sob medida. Ter a renda média mais elevada do país(1) significa um peso aos moradores da capital. Os preços dos serviços, que costumam ser mais caros do que em boa parte do país, têm reajustes elevados na cidade. No ano passado, de 27 atividades de prestação de serviços pesquisadas pelo Correio, com base em dados do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA)(2), 26 encareceram mais do que em 2008. E destas, 14 superaram a inflação média da cidade no período que ficou em 4,92%, de acordo com os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os consertos de eletrodomésticos e eletroeletrônicos, por exemplo, aumentaram 10,36%. Na média nacional, o reajuste foi menor: 4,54%. Os serviços de saúde subiram 6,42% em todo o país e em Brasília, 6,58%. Os serviços pessoais ultrapassaram a média nacional (7,50%) e foram reajustados em 8,12% na capital federal.

;O poder aquisitivo elevado de Brasília faz com que os prestadores de serviços se sintam à vontade para aumentar os preços acima da média. Chegamos a um extremo. Hoje, os flanelinhas sabem mais sobre os reajustes dos servidores públicos do que os próprios servidores. O governo libera um aumento para uma categoria e eles passam a cobrar mais caro dessas pessoas;, afirma o diretor do curso de economia da Universidade Católica de Brasília (UCB), Ricardo Coelho.

Os estofadores foram os que mais reajustaram o valor dos serviços, que, na média nacional, tiveram uma elevação de 5,47% em relação a 2008, contra 29,43% em Brasília, de acordo com o IBGE. O aumento de 10,36% nos consertos de eletrodomésticos e eletreletrônicos foi uma tentativa dos profissionais para garantir a sobrevivência da atividade. Entre os muitos concorrentes, um dos maiores foi a redução dos preços dos aparelhos novos, o que incentivou os consumidores a optarem pelo lançamento e ignorarem a possibilidade de reparo dos equipamentos antigos.

Além da redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) nos eletrodomésticos, nos últimos anos o setor de consertos tem sido prejudicado pelo aumento da oferta de crédito, pela queda dos juros e pelo prolongamento dos prazos de financiamento, segundo informações de representantes do Sindicato da Reparação e da Manutenção de Equipamentos Elétricos e Eletrônicos. O conserto de bombas d;água e os reparos residenciais ficaram, respectivamente, 4,79% e 2,73% mais caros no ano passado. Quem precisou fazer reforma ou construir, arcou com reajuste médio de 8,42% na mão de obra da construção civil. Com o boom imobiliário, o setor encontrou mais facilidade na hora de negociar os reajustes da categoria, em maio do ano passado.

Andar de táxi ou de transporte escolar também está mais caro. Os taxistas estão cobrando, em média, 20,51% mais. Os motoristas de transporte escolar, 9,39%. Os custos de manter ou consertar os veículos subiram, mas abaixo dos 4,92% da média da inflação. Os mecânicos cobram 4,90% mais. Os pintores de veículos, 4,77%. O serviço de emplacamento e licenciamento de automóveis teve um reajuste de 3,30% em 2009. Mas o seguro facultativo de veículo teve uma queda de 3,77% em relação a 2008, segundo o IBGE.

Trabalhadores especializados subiram os preços, em média, acima da inflação no Distrito Federal, com destaque para os estofadores, que elevaram em 29,43% o conserto de sofás e poltronasCuidados próprios
Tratar da saúde e da aparência pessoal está demandando mais do bolso dos brasilienses. O valor cobrado pelos hospitais subiu 10,81%, em média. Quem vai fazer uma cirurgia está gastando 12,31% mais. Os serviços médicos subiram 7,79%. Fazer um eletrodiagnóstico ficou 5,40% mais caro, e pagar um plano de saúde, 6,42%. Os tratamentos psicológicos e fisioterápicos estão 4,87% mais onerosos que há um ano. Os exames de laboratório, 3,71%. Os dentistas foram os que menos reajustaram os preços. O tratamento dentário está custando apenas 1,57% mais. Os tratamentos estéticos também ficaram mais caros. Em média, os serviços pessoais ficaram 8,12% mais elevados. ;Os serviços de beleza não foram prejudicados com a crise econômica. É um setor privilegiado porque as pessoas se preocupam cada vez mais em estar bem-cuidadas para o mercado de trabalho e, com isso, temos liberdade para recompor preços;, afirma a presidente do Sindicato de Salões e Institutos de Beleza, Barbeiros, Cabeleireiros do Distrito Federal, Elaine Furtado.

O reajuste médio das costureiras foi de 1,35% no ano passado, mas algumas conseguiram aumentar mais. A profissional Elenilda de Mesquita, 41 anos, reajustou, em média, em 5% seus preços, conta. Segundo a moradora da Ceilândia, o aumento de preços foi necessário para cobrir custos da produção e a melhoria na qualidade do serviço oferecido.

Há sete anos no mercado, ela se formalizou como microempreendedora individual há alguns meses, o que lhe abriu a possibilidade de oferecer nota fiscal e aceitar pagamento com cartão de crédito. ;Faço pesquisa de mercado para acompanhar os preços e vi que eles não caíram. Como melhorei a qualidade do meu produto e do meu serviço, aumentei em torno de 5% os preços da costura sob encomenda. Sei que meu acabamento é bom, então posso aumentar;, afirma.

1 - Salários altos

O rendimento do brasiliense é o mais alto do país. Em 2008 o salário médio era de R$ 2.117, mais que o dobro da média nacional, de R$ 1.036. A segunda colocada no ranking, São Paulo, tem um salário médio de R$ 1.290, segundo números da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

2 - Inflação
O IPCA abrange as famílias com rendimentos mensais compreendidos entre um e 40 salários-mínimos, qualquer que seja a fonte de rendimentos. O índice é calculado mensalmente em nove regiões metropolitanas, além das cidades de Brasília e Goiânia.

Inflação mantém tendência de alta
>>Mariana Branco


A inflação no Distrito Federal subiu em janeiro, cravando seu segundo mês consecutivo de alta. O custo médio da cesta básica em quatro cidades do Distrito Federal aumentou 1,01%, de R$ 389,35 para R$ 393,28 entre dezembro e o primeiro mês de 2010. A informação é da Universidade Católica de Brasília, que divulgou ontem o Índice de Custo de Vida do DF (ICV-DF) referente a janeiro.

Plano Piloto, Ceilândia e Guará puxaram o aumento dos preços. Nesses locais, o custo da cesta básica subiu, respectivamente, de R$ 375,86 para R$ 393,57 (4,71%); R$ 416,50 para R$ 429,13 (3,03%) e $ 399,95 para R$ 411 (2,83%) no período. Taguatinga foi a cidade onde os moradores pagaram os menores preços: entre dezembro e janeiro houve recuo de R$ 365,11 para R$ 339, 14, ou seja, de 7,11%, no valor final do conjunto de 54 produtos que compõem a cesta do ICV-DF.

Segundo a economista Kátia Velásquez, pesquisadora da UCB e coordenadora da pesquisa mensal do custo de vida no DF, os resultados reafirmam uma tendência verificada em meses anteriores. Ceilândia e Guará, onde as populações têm poder aquisitivo inferior à do Plano Piloto, registraram as cestas básicas mais caras, com valores acima de R$ 400. A cesta de Ceilândia em janeiro custou 9,04% mais do que a do Plano, apesar de a inflação ter crescido a um ritmo maior na região mais rica. A cesta do Guará pesou 4,5% a mais no bolso. A de Taguatinga foi a única a ficar mais barata no período, recuando 13,83%.

;Usamos o Plano Piloto como referência justamente pela questão do poder aquisitivo significativamente mais alto do que o das outras cidades. E acabamos vendo que em locais como Ceilândia e Guará, apesar de ganharem menos, as pessoas pagam mais do que na região central;, afirma Kátia. A economista atribui o fenômeno dos preços inflados nas duas cidades à não existência de uma economia dinâmica nesses locais. ;Não são lugares com atacadões, supermercados de grandes redes. Ceilândia tem apenas um atacadão, por exemplo, mas muitos moradores preferem fazer suas compras em mercearias e mercados locais, que não podem oferecer preços competitivos;, diz. Quanto a Taguatinga e seus preços em conta, a pesquisadora diz que a iniciativa privada é robusta na cidade, o que pode explicar a cesta básica mais barata.

Kátia Velasquéz aconselha os moradores de Ceilândia e Guará a pesquisarem, mesmo que o comércio local ofereça poucas opções, para não pagar tão caro pelos produtos da cesta básica. ;Quem tem veículo pode inclusive fazer a conta e ver se compensa se deslocar a uma outra cidade para fazer uma compra de supermercado mais barata;, acrescenta.

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