Cidades

Brasiliense inventa uma fechadura com dispositivo mecânico

O criador não tem formação nas áreas de matemática, mecânica ou outra especialidade afim. A instalação do equipamento não depende de fios ou parafusos

Juliana Boechat
postado em 02/02/2010 09:04
O criador não tem formação nas áreas de matemática, mecânica ou outra especialidade afim. A instalação do equipamento não depende de fios ou parafusosEm uma noite de 1996, Rudi Berwanger, 48 anos, chegou em casa e se deparou com uma surpresa desagradável: o pequeno apartamento onde morava sozinho em Taguatinga havia sido assaltado. O cadeado da grade estava destruído e a fechadura, arrombada. Os ladrões levaram talões de cheque, eletrodomésticos, máquina fotográfica e outros objetos de valor. Indignado com a situação, ele inventou uma forma de garantir segurança da casa. Mesmo sem ter estudado matemática, mecânica ou qualquer especialidade parecida, Rudi desenvolveu um sistema de fechadura sem chave. Foram oito anos de trabalho, dedicação e ideias borbulhando 24 horas por dia. Hoje, a tranca está patenteada, à espera de empresas interessadas. Orgulhoso, o inventor garante: ;Para entrar na casa, derrube a porta, mas não arrombe a fechadura;.

Em cima da maçaneta do lado de fora é instalado um teclado de 10 números e cinco letras. Ali, o morador grava a senha que, ao ser digitada, libera a tranca. A sequência desaparece a partir do momento em que a porta é fechada. Blindado, o dispositivo não conta com parafusos ou fios. O sistema mecânico evita que uma queda de energia impeça o morador de entrar em casa. ;A fechadura é prática, segura e funcional;, garante o inventor. A senha escolhida pelo morador pode ser alterada infinitas vezes pelo lado de dentro da porta. O matemático consultado por Rudi garantiu que podem ser feitas mais de 32 mil combinações diferentes, devido à quantidade de números e letras disponíveis no teclado.

A fechadura está pronta há quase dois meses. ;O caminho é complicado e demorado. Eu nunca tinha visto uma fechadura por dentro e nunca tinha desenhado nem uma árvore. Várias vezes achei que não conseguiria;, conta. Enquanto trabalhava, Rudi manteve o projeto em total sigilo ; e, por isso, não pedia ajuda a ninguém. Em um pequeno ateliê dentro de casa, serrava metais e colava peças. Nos casos mais complicados, ele ia à oficina. Segundo ele, o morador que conta com a fechadura de senha não se preocupa com segurança. ;É segura e prática. Aquela preocupação ;será que minha porta está trancada?; vai acabar;, prevê. Rudi ainda não instalou a fechadura na porta de casa. Por enquanto, aposta na segurança de um condomínio cercado na QNL de Taguatinga. ;Se minha porta tivesse a fechadura, eu ficaria na China por um bom tempo, com tranquilidade;, brinca.

Rudi Berwanger dedicou-se durante oito anos à construção do sistema. Orgulhoso, ele registrou patente, buscou parceria com a Associação Nacional dos Inventores e espera proposta de compra do projetoRudi começou o projeto do zero. Evoluiu, aos poucos, por insistência e muitas tentativas. Em oito anos de trabalho, o inventor desenvolveu quatro protótipos até chegar à versão final da fechadura. Se errava, jogava fora e começava de novo. Ao longo dos anos em que ganhou a vida como segurança, aeroviário, militar, funcionário público e motorista, o prazer de criar era apenas um hobby. Mas, nos últimos dois anos, Rudi dedicou tempo integral à ideia. Passava 16 horas por dia trabalhando. E quando deitava para dormir, continuava raciocinando. Durante o dia, esquecia de comer, beber água, recusava-se a atender o telefone e evitava de todos os jeitos perder a concentração. Durante este tempo, foram R$ 10 mil gastos no trabalho artesanal. ;Demorou e custou tanto porque foi tudo à base de teste. Não copiei nada;, explicou Rudi.

Esta não é a primeira invenção do descendente de alemães. Quando tinha 10 anos, ele criou um triciclo para brincar com os colegas. Há alguns anos, aperfeiçoou um brinquedo pula-pula para crianças. Mas o carro-chefe do inventor é a fechadura, da qual incha o peito para descrever. ;Gosto muito de falar da minha fechadura porque demandou muito trabalho e dedicação;, diz. Rudi acredita que tudo isso tem a ver com a curiosidade e a vontade de descobrir o mundo. ;Gosto de entender e compreender o funcionamento das coisas. Sempre quis entender como era o funcionamento de um motor. Hoje, sei tudo sobre isso;, orgulhou-se.

A ideia de Rudi está patenteada em nível nacional. Apesar dos retornos recebidos pela internet, ele ainda não recebeu proposta de compra. Para facilitar o processo, fechou uma parceria com a Associação Nacional dos Inventores (ANI). ;O projeto é flexível para todos os tipos de ideia;, explicou o inventor. A empresa interessada na fechadura pode mudar o design: deixá-la menor, maior, embutida na madeira da porta. Mas deve manter a mecânica original. ;Eu já acho a fechadura que fiz bonita. Imagina ela com investimento profissional?;, sonha. O inventor não pretende parar. O próximo passo será construir um aparelho de fisioterapia para ajudar pessoas com dificuldades de movimento. ;Mas ainda está em processo de amadurecimento;, disse.

Outras invenções
Volta e meia, um brasiliense surge no cenário nacional e internacional como inventor de um aparelho revolucionário. Em 1977, o mineiro Nélio Nicolai ficou conhecido por criar o sistema de Bina ; identificador de chamadas telefônicas. Na época, morador da capital federal, ele recebeu reconhecimento no Brasil e ganhou vários prêmios e homenagens. Hoje, a invenção de Nicolai é utilizada em todo o mundo nos aparelhos celulares.

O Bina foi patenteado em 1981. Logo depois, estudiosos canadenses se interessaram pelo trabalho do brasileiro. Em 1984, chegaram em Brasília para conhecer e entender os estudos de Nicolai. Brasileiros e canadenses acertam um acordo em que Nicolai desenvolveria um protótipo para ser levado ao exterior. Dois anos depois, os estrageiros lançaram, em Toronto, o início dos testes do aparelho. Logo em seguida, comercializaram o produto.

Decepcionado, Nicolai reclamava que o Brasil estaria deixando de receber US$ 1,3 bilhão por mês de royalties por ter deixado de lado a briga da patente industrial do Bina. Segundo o inventor, o mundo tem cerca de 1,3 bilhão de celulares. E as operadoras cobram de US$ 6 a US$ 10 mensais do usuário pelo identificador.

Como registrar sua criação
Após finalizar e patentear o projeto, Rudi foi atá a Associação Nacional dos Inventores (ANI), em São Paulo. Lá, descobriu que o trabalho era único no Brasil e ainda fechou parceria para a venda do projeto aos interessados. Quem também tiver uma boa ideia e quiser entrar em contato com a associação,pode acessar o site www.inventores.com.br. Ou ainda ligar para (11) 3873-3211.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação