Cidades

Batista usa servidor pago pelo governo

Sete funcionários da Administração de Águas Claras estavam trabalhando ontem para deputado em cooperativa ligada a ele

postado em 16/04/2010 08:08
Sete funcionários da Administração de Águas Claras estavam trabalhando ontem para deputado em cooperativa ligada a eleO vínculo do deputado Batista é tão próximo com as Cooperativas (adotado como um sobrenome político) que o distrital perdeu os limites. Padrinho da Administração de Águas Claras ; os cargos nessa repartição são de indicação do parlamentar ;, ele desvia os funcionários públicos do GDF para prestar serviços em uma cooperativa do Recanto das Emas que já foi presidida por Batista e hoje presta apoio político a ele. Na tarde de ontem, sete servidores que deveriam dar expediente em Águas Claras prestavam serviço na cooperativa do Recanto ; nas paredes da sede da entidade, há várias fotos do parlamentar. A missão: convocar o máximo de pessoas possível para a reunião que Batista pretende fazer em sua chácara no próximo domingo.

Com o objetivo de confirmar a informação, a reportagem telefonou para o escritório onde funciona a cooperativa e se mostrou interessada em participar do evento no fim de semana. A secretária que atendeu ao telefonema deu algumas informações sobre o compromisso. Perguntada se falava da cooperativa do Batista, respondeu que sim. Em seguida, a reportagem disse que queria saber sobre o café da manhã. Mas Maria José Feitosa Rodrigues corrigiu: ;Na verdade não é um café da manhã, é um almoço;, disse. A secretária, que não pertence aos quadros da administração, afirmou ainda que um ônibus partiria às 11h da frente da cooperativa, que fica na QR 104, Lote 4, no Recanto das Emas, para a casa de Batista no domingo. E deu a entender que qualquer pessoa seria bem-vinda (leia ao lado o diálogo).

Mas ainda faltava confirmar se as pessoas lotadas em Águas Claras de fato estavam desviadas de função. Foi então que a reportagem perguntou por Daiane Garcia de Jesus. Ela foi chamada e atendeu ao telefonema. Em seguida, chamamos por Vanessa, que se identificou com nome e sobrenome. ;É a Vanessa Lima?;. E a funcionária respondeu: ;Vanessa de Oliveira Lima;. Daiane e Vanessa estão lotadas no Núcleo de Comando de Reparos da Administração de Águas Claras. Exercem cargos comissionados como encarregadas e recebem salário de R$ 520.

Além das duas, a reportagem perguntou por Edneide Gomes Fernandes de Sena, Lucineide Moreira dos Santos, Stefhanie de Sousa, Maria José Almeida Barroso e Valdenice Vieira Rocha Paiva. A presença de uma a uma delas na cooperativa foi confirmada por Vanessa. Edneide e Lucineide são secretárias administrativas, a primeira da Gerência de Serviços Públicos e a segunda da área de Desenvolvimento Social da Administração de Águas Claras. Ambas com salário de R$ 920. Stephanie é assistente do Núcleo de Promoção e Assistência Social e Maria José do setor social, de segurança e saúde. Ganham DFA-5, com valor de R$ 790. Valdenice, por sua vez, é a chefe do Protocolo e Arquivo e recebe DFG-10 (R$ 1,5 mil).

Com o desvio dos funcionários comissionados na Administração de Águas Claras, o volume de serviço que deveria ser distribuído entre os 136 servidores sobrecarrega em especial os concursados, que não ficam necessariamente submetidos às ingerências de deputados. Dois servidores nessas condições relataram ao Correio que o desfalque de comissionados sempre ocorreu, mas a frequência aumentou bastante ultimamente. ;Em alguns dias, o Núcleo de Comando de Reparo fica fechado por horas, porque não tem ninguém. Tá todo mundo trabalhando pro Batista;, conta o funcionário, que preferiu manter o sigilo para evitar perseguição.

Visita
O Correio esteve ontem na sede da cooperativa em Recanto das Emas. Quando a reportagem chegou, já não havia nenhuma das pessoas que anteriormente haviam atendido ao telefonema. Após falar com a reportagem, a secretária desconfiou da ligação e foi orientada a dispensar as funcionárias em desvio de função. Maria José, a mesma que atendeu à ligação telefônica, negou a presença das demais servidoras. Disse que não estava autorizada a falar pela cooperativa. A pedido do Correio, telefonou supostamente para ;o presidente da Federação de Cooperativas;, a quem disse: ;Já era;.

A reportagem foi procurada por um assessor do deputado, que tomou conhecimento do teor das informações que seriam publicadas. Nem Batista, nem sua assessoria, no entanto, retornaram aos pedidos de entrevista.

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