Cidades

Vizinhos e familiares dizem que homem que matou esposa com serrote era tranquilo

postado em 29/04/2010 08:12
O marceneiro João da Silva Pereira Damacena, 46 anos, é descrito por quem o conhece como um homem discreto, de bom trato e respeitoso. Ele e a mulher, Luzia Ricardo Araújo, 54 anos, não circulavam muito pelo Lago Azul, bairro do Novo Gama (GO). Reservados, não gostavam de falar da vida alheia e passavam a maior parte do tempo em casa, na Quadra 119, onde viviam há mais de duas décadas. Os vizinhos relatam que eles tinham brigas como todo casal, mas nada que chamasse a atenção. Eram pais de Elaine, 25 anos, e de Luana, 20. Mas na noite de terça-feira, a aparente calmaria foi quebrada quando João matou Luzia, enquanto mantinham relação sexual, alegando que ela teria se transformado em ;metade homem e metade diabo;.

João e Luzia, que são pais de duas filhas, moravam na Quadra 119 há mais de 20 anos: parentes relatam A notícia do assassinato brutal foi recebida com incredulidade por parentes e vizinhos. ;Se ele fosse uma pessoa ruim, eu até esperaria. Por isso o choque para todo mundo;, declarou Zélia Marcos Araújo, prima de Luzia. ;Eles eram muito queridos aqui. As pessoas estão revoltadas por toda a situação;, afirmou Zelita Gomes de Souto, vizinha do casal há 25 anos. A merendeira conta que notou mudanças no comportamento de João assim que reencontrou o amigo no início desta semana, depois de nove meses sem vê-lo. O motivo do afastamento do marceneiro foi a mudança para São Paulo, onde trabalhou e fez um tratamento para curar-se de alcoolismo. Durante esse período, marido e mulher se desentenderam e ficaram separados, mas haviam reatado recentemente. Luzia passou 15 dias em São Paulo e o casal voltou junto para o Novo Gama.

;Na segunda-feira, quando chegou, ele estava com o ar de louco. Ele me disse: ;Estou com uma agonia na minha cabeça;; relatou a vizinha. Luzia confessou a Zelita que estava preocupada porque o marido voltara a beber e estava tomado os remédios prescritos em virtude do tratamento realizado em São Paulo. Não há informações sobre qual medicação o marceneiro usava. Às 2h de terça-feira, João bateu à porta da cunhada, Maria Odete de Araújo, dizendo que estava sendo perseguido e que o diabo queria fazer sexo com ele. ;Ninguém tinha dúvida de que ele tinha bebido. Parecia que tinha tomado uma garrafa de cachaça em um trago só;, descreveu a irmã de Luzia.

Discurso incoerente
Apenas 10 horas depois, o marceneiro estava frente a frente com o ;diabo; outra vez. Segundo relatou à polícia, ele viu a mulher se transformar em ;homem; enquanto faziam sexo. ;Era uma voz de homem, com queixo, barba e bigode compridos;, descreveu. O relatório do flagrante diz que, primeiro, João desferiu tapas contra a esposa, depois bateu e, em seguida, cortou a mulher com um serrote. ;Nunca mais você vai perturbar a cabeça de homem;, disse o agressor.

Eram cerca de 12h20 quando um vizinho ouviu os gritos vindos do terreno onde o casal vivia: ;Matei; Matei; Matei o diabo, que é metade diabo, metade homem. Eu não vou transar com homem;. O morador tentou acalmar o amigo, mas foi ameaçado: ;Matei. Chama a polícia. Se você entrar aqui, eu te mato também;. Quando a polícia chegou, encontrou o assassino lavando os pés, sujos de sangue, no quintal e o corpo de Luzia no chão do quarto. Ele foi preso em flagrante e confessou ter cometido o homicídio. ;Mesmo assim, ele não acredita ter matado a mulher. Seu discurso era muito incoerente;, frisou o delegado Fabiano Medeiros, da Delegacia do Novo Gama. ;Ele ficou procurando a Luzia, dizendo que ela precisava saber que ele tinha matado o diabo;, acrescentou a vizinha Zelita.

Ontem, após ser liberado pelo Instituto Médico Legal, o corpo de Luzia foi velado e enterrado no Cemitério do Gama. O funeral foi acompanhado por mais de 50 pessoas. João da Silva está detido na penitenciária do Novo Gama e será indiciado por homicídio doloso, pelo qual pode pegar de 6 a 20 anos de reclusão. ;Nós não podemos julgá-lo. Só Deus pode fazê-lo, só Ele pode salvar essa vida;, lamentou João Rodrigues Farias, irmão da vítima. ;Agora, quero justiça;, concluiu Maria Odete, inconformada com a morte da irmã.

"Ele ficou procurando a Luzia, dizendo que tinha matado o diabo"
Zelita Gomes de Souto, vizinha

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