Cidades

Para a polícia, houve imprudência e negligência durante passeio de lancha

postado em 25/05/2010 08:08
Os indícios de que houve imprudência e negligência durante o passeio de lancha que acabou em acidente na madrugada do último sábado podem acarretar o indiciamento do técnico em informática José da Rocha Costa Júnior, 33 anos. Se confirmadas as mortes das irmãs Juliana Queiroz de Lira, 21 anos, e de Liliane Queiroz de Lira, 18, o piloto responderá por homicídio culposo (quando não há intenção de matar). A pena para esse tipo de crime é de um a três anos de detenção. Para o delegado-chefe da 9; Delegacia de Polícia (Lago Norte), Silvério de Andrade, o condutor poderia ter evitado a tragédia se tivesse seguido todas as normas de segurança (veja quadro).

Para o delegado, o uso do colete salva-vidas, por exemplo, é imprescindível para evitar os afogamentos. Dos 11 tripulantes, nenhum usava o equipamento. Apenas o arte finalista Hugo Antunes Almeida, 23 anos, chegou a usá-lo por alguns minutos, mas o retirou em seguida. ;Nós podemos dizer que o acidente aconteceu por um somatório de fatores. Por tudo o que vimos até agora, houve no mínimo imprudência e negligência. Como piloto habilitado, José Júnior tinha por obrigação exigir o uso do colete, principalmente por parte das meninas que não sabiam nadar;, destacou. O indiciamento por homicídio culposo, porém, será feito apenas no caso de os bombeiros encontrarem as irmãs sem vida. Por telefone, José Júnior disse ao Correio que não foi notificado sobre essa possibilidade.

Até agora, oito pessoas prestaram depoimento na 9; DP. Ainda esta semana, o delegado pretende ouvir o relato de Rita de Cássia Queiroz Lira, 26 anos, irmã das vítimas desaparecidas e última jovem a receber alta do Hospital Regional da Asa Norte (Hran). Além dela, a polícia vai intimar o autor de uma filmagem que registrou cenas do barco minutos antes da embarcação afundar. O homem, identificado como Welvis Fernandes da Silva, deve comparecer hoje à delegacia para prestar esclarecimentos sobre os momentos que antecederam o acidente.

;Nasci de novo;
Ontem, Natália Serra de Oliveira, 22 anos, e a amiga Tanandra Carvalho Mendes Lira, da mesma idade, estiveram na 9; DP. Elas estavam acompanhadas da funcionária pública Luciene Serra, 48 anos, de Júlia Serra,18 anos, (mãe e irmã de Natália, respectivamente) e de Marcos Paulo França Mercaldo, 20 anos. ;A sensação que eu tenho é que nasci de novo;, disse rapidamente o rapaz, visivelmente abalado. Por enquanto, as vítimas evitam falar com a imprensa. Em depoimento, Tanandra contou que chegou por volta das 23h para realizar o passeio e que seguiram até a Ponte JK. ;Ela disse que, na volta, teve um momento em que bateu uma tristeza profunda em todos;, disse Silvério. A jovem contou que a embarcação se encheu de água após o piloto reduzir a velocidade e que, em menos de 15 segundos, o barco afundou. Juliana e Liliane ainda teriam tentado se agarrar no pescoço de Tanandra, que conseguiu se desvencilhar das duas ao perceber que iria se afogar.

Das pessoas ouvidas, todas disseram que viram uma marola envolver a lancha. A única divergência entre os passageiros foi registrada no depoimento de Marcelo da Silva e Santos, 26 anos, que relatou ter visto o piloto consumir bebida alcoólica durante o passeio. ;Eles não estavam embriagados, mas a ingestão de álcool é fato;, destacou Silvério. O teste feito em José Júnior constatou 0,15 miligramas de álcool por litro de ar expelido dos pulmões. ;O exame foi feito às 7h15, quatro horas depois do acidente. Com certeza, esse nível era muito maior na hora do acidente.; Para concluir o inquérito, o delegado aguarda também o resultado do laudo da perícia que será feita na embarcação encontrada ontem à tarde no fundo do lago. Feita essa análise, ele garante ter condições de concluir a investigação nos próximos 30 dias. A Delegacia Fluvial da Marinha também investiga o caso.


Depoimento

Luciene Serra, 48 anos, funcionária pública (mãe de Natália e Júlia Serra)

Para mim esse acidente foi uma fatalidade. É um grupo de jovens que sempre se encontram e a maioria são amigos de infância. Ninguém está falando que não houve um grau de irresponsabilidade, mas o piloto, culpado ou não, ele também é uma vítima. São duas famílias que estão desesperadas e até agora não há uma explicação para o que aconteceu. Estou muito sensibilizada com a família da Liliane e da Juliana. Graças a Deus minhas filhas tiveram tranquilidade para boiar mais de uma hora até a chegada do socorro. As meninas estavam longe umas das outras uns 50 metros quando os bombeiros chegaram. Uma chamava pela outra, mas ninguém ouvia. Pelo que a Júlia me contou, ela olhava a luz e as árvores e nadava rumo a elas, mas quando levantava a cabeça de novo a árvore já estava do outo lado.Elas beberam muita água e pensaram que realmente iriam morrer.



O que pode ter contribuído para o acidente

1; - Ingestão de bebida alcoólica - O resultado do teste de alcoolemia feito no piloto da lancha, José da Rocha Costa Júnior, 33 anos, registrou 0,15 miligramas de álcool por litro de ar expelido dos pulmões. Para o delegado-chefe da 9; DP, Silvério de Andrade, nível real de álcool seria superior no momento do acidente;

2; - Não uso do colete salva-vidas - De acordo com o delegado, o piloto foi informado de que as meninas não sabiam nadar. Por esse motivo, ele deveria ter obrigado os integrantes a usarem o equipamento de segurança antes de iniciar o passeio. Nenhum dos tripulantes usava o equipamento no momento em que o barco afundou. Apenas o arte- finalista Hugo Antunes, 23 anos, teria usado equipamento por algumas horas, mas retirado durante a madrugada;

3; - Excesso de pessoas - O número de tripulantes era quase o dobro permitido. Havia 11 pessoas: seis mulheres e cinco homens. A capacidade de segurança era de apenas seis pessoas sentadas;

4; - Passeio noturno - Durante a noite, a pouca visibilidade aumenta os riscos de se velejar. Na visão do delegado Silvério, durante o dia, as chances das jovens se salvarem seriam maiores.

[SAIBAMAIS]

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