Cidades

Semana começa sem ônibus

Motoristas e cobradores entram em greve geral a partir de hoje. Eles garantem que vão colocar 60% da frota em circulação, como manda a Justiça. Micro-ônibus também vão parar

postado em 21/06/2010 07:33
Rodoviários decretaram greve geral por tempo indeterminado, a partir da 0h de hoje, em assembleia realizada na manhã de ontem, na sede do sindicato da categoria, no Conic. Aproximadamente 4 mil cobradores e motoristas participaram do encontro e votaram, por unanimidade, pela paralisação do serviço de transporte público. O Sindicato dos Rodoviários, porém, não conseguiu reverter na Justiça do Trabalho a determinação de levar às ruas, no mínimo, 60% da frota dos ônibus (2,4 mil coletivos no total). A intenção da entidade era a de disponibilizar apenas 30%. A multa estipulada em caso de desrespeito à ordem é de R$ 100 mil por dia.

[SAIBAMAIS]O presidente do sindicato dos trabalhadores, João Osório, anunciou também a adesão dos motoristas e cobradores dos micro-ônibus à greve. ;Os empresários desse setor ofereceram 8% de aumento salarial aos funcionários. Mas não dá para aceitar. Por isso, a partir de agora, esses companheiros também vão aderir às nossas manifestações;, informou.

Com isso, o brasiliense pode se preparar para ainda mais transtornos nos próximos dias ; por dia, mais de um milhão de pessoas andam de ônibus no DF. ;O movimento pode durar dois dias ou meses. Isso só depende do governo e dos patrões quererem negociar;, afirmou João Osório. O próximo encontro da categoria está marcado para amanhã, às 17h.

Para tentar diminuir os impactos da greve, o Metrô vai circular com a capacidade máxima em todos os horários, das 6h às 23h30. São 19 trens, sendo que cada um pode transportar 1,3 mil pessoas. Por dia, os vagões levam 160 mil passageiros. A tendência é de aumento de 30% de passageiros, diariamente. É o único esquema especial pensado pela Secretaria de Transportes até o momento.

BarreirasRodoviários aprovaram, por unanimidade, a paralisação a partir de hoje. Amanhã, fazem nova assembleia para definir os rumos do movimento
A negociação com o sindicato patronal está paralisada. Os empresários se recusam a conceder os benefícios exigidos pelos rodoviários sem o aumento de pelo menos 28% no preço da tarifa. O governo, por sua vez, afirmou que não vai intervir na questão e não fala em alterar o valor da passagem, que custa em média R$ 2,50 e subiria para R$ 3,20, caso as reivindicações fossem aceitas.

O clima ontem era de indignação entre os rodoviários. ;É absurdo e muito revoltante o governo dizer que não tem responsabilidade. Está na Constituição: prover transporte público de qualidade é dever do Estado. Quando as autoridades participam das negociações, elas fluem mais rápido;, queixou-se Osório.

A primeira assembleia dos rodoviários ocorreu no dia 13 último. Nela, a classe trabalhista decidiu por adiar em uma semana a greve ; a princípio marcada para começar no último dia 14 ; na esperança de negociar com o governador Rogério Rosso (PMDB). ;Ele me ligou e pediu para darmos mais uma semana a ele. Mas, depois disso, nunca mais apareceu. Não restou outra saída senão a greve, que é fruto da impossibilidade de negociação;, afirmou Osório. A assessoria do governador disse ontem que ele não ia se manifestar sobre a paralisação.

O presidente do sindicato mostrou aos rodoviários uma liminar da Justiça do Trabalho que proíbe a realização do movimento da Catraca livre, no qual os passageiros são transportados de graça, como forma de protesto. ;Tentamos não prejudicar a população, mas não teve como;. Na semana passada, os rodoviários se reuniram com representantes dos empresários.

Os patrões propuseram apenas a manutenção dos benefícios do último acordo coletivo como alternativa para evitar a paralisação. Mas os rodoviários não aceitaram. Segundo representantes da categoria, desde então, o tíquete-alimentação e a cesta básica que os motoristas e cobradores recebiam estão suspensos. O Correio tentou contato com o Sindicato das Empresas de Transporte Coletivo do DF, mas a assessoria da entidade informou que nenhum representante vai se manifestar.

Entenda o caso
Rotina de transtorno


Dia 10 último, o rodoviários deram o primeiro indicativo de greve com uma paralisação surpresa dos serviços, no início da manhã. O movimento deixou mais de 600 mil sem transporte, provocou tumulto e protestos da população. Três dias depois, os rodoviários tentaram chamar a atenção dos donos de empresas de ônibus ao liberar a catraca para os passageiros viajarem de graça. Mas o movimento ocorreu com a categoria dividida.

Na semana seguinte, a frota de ônibus rodou com apenas 75% da capacidade em horários de pico, de acordo com o Sindicato dos Rodoviários ; e 25%, segundo os patrões. O número representa 599 coletivos a menos para a população entre as 5h30 e as 7h30 e das 16h30 às 19h. Resultado: filas enormes nos terminais e coletivos mais cheios do que o comum.


Discursos acalorados
Por volta das 10h, os líderes sindicais subiram no trio elétrico, sob o forte sol de domingo, e reclamaram da quantidade de pessoas. ;Não sei se é por causa do jogo do Brasil, mas hoje veio pouca gente;, lamentou Osório. Na primeira assembleia, houve tumulto e venda de bebida alcoólica. Dessa vez, ele fez um apelo aos trabalhadores. ;Não bebam, pelo amor de Deus! Não estamos de férias, mas sim em greve;, pediu. O pedido surtiu efeito e poucos circulavam com latas de cerveja. Em seguida, Osório pediu para que ninguém vestisse o uniforme das empresas durante a greve. ;Na madrugada, a gente se torna alvo fácil para passageiros revoltados;, explicou.

Em cima do trio, também estavam os deputados distritais Érika Kokay, Cabo Patrício e Paulo Tadeu, todos do PT, que falaram ainda em nome do deputado federal Geraldo Magela e do colega na Câmara Legislativa Chico Leite. Nenhum deles perdeu a oportunidade de discursar aos possíveis eleitores. Érika Kokay fez promessas. ;A bancada do PT na Câmara Legislativa não vai votar nenhum projeto de interesse do governador, enquanto ele não sentar com vocês para negociar;, garantiu a distrital. (LM)


O povo fala

;A greve é absurda. Esse aumento de salário já tinha que ter sido dado há muito tempo. A população sofre com todos os prejuízos. Agora, a única solução é esperar na parada. Se o ônibus não vier, vou perder o dia de trabalho.;
Adão Gonçalves, 40 anos, soldador, morador do Recanto das Emas

;A única alternativa que sobra quando não tem ônibus é usar o metrô. O problema é que quando não tem o ônibus, o metrô lota demais, fica insuportável. Mesmo assim, eu apoio os rodoviários, acho que eles devem mesmo lutar pelos seus direitos.;
Maria Luisa Dias, 35 anos, técnica bancária, moradora de amambaia

;Amanhã (segunda-feira) eu vou para o ponto de ônibus e pego o primeiro carro pirata que passar. Não tem outro jeito. Essa greve é o caos e a culpa é do governo. Podiam muito bem ter feito os empresários darem o reajuste da categoria.;
José Castro da Silva, 45 anos, vendedor autônomo, morador de Santa Maria

;Me pegaram de surpresa com essa decisão de greve geral. Isso prejudica a gente demais e de várias formas. Na última vez em que eles pararam, eu cheguei ao trabalho meio-dia. Na hora de voltar para casa é ainda pior. A vida vai ficar complicada.;
Anne Érica Menezes, 28 anos, auxiliar de produção, moradora de Samambaia

;Nos últimos dias, eu enfrentei muitos transtornos com a falta de ônibus. Com a greve geral, não vou nem sair de casa. Não vou trabalhar. Não quero passar por isso. O patrão entende, afinal não tem outra solução para quem depende do ônibus.;
Jefferson Oliveira, 26 anos, auxiliar de marketing, morador do Recanto das Emas


Reivindicação
O que os rodoviários querem
Entre as exigências de uma pauta com mais de 100 itens estão:
; Aumento salarial de 20%.
; Aumento no tíquete-alimentação e na cesta básica também de 20%.
; Plano de saúde.
; Licença-maternidade de seis meses.
; Fim da obrigatoriedade da jornada extra.
; Renovação da frota de ônibus com motor traseiro.


Fiscalização

Na semana passada, o Tribunal Regional do Trabalho determinou que os fiscais da Justiça fiquem nos terminais para identificar se os rodoviários estão cumprindo o limite de 60%.

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