Cidades

Besouro força derrubada de árvores na quadra 216 da Asa Norte

postado em 23/10/2010 08:00
O inseto se aloja entre a raiz e o caule da árvore. As larvas se alimentam do interior da planta, deixando-a oca e frágilMoradores da 216 Norte dividem opiniões sobre a retirada de 14 mongubas que propiciavam sombra em uma área verde em frente ao bloco I da quadra. As árvores, infestadas pelo besouro Euchroma gigantea, foram cortadas semana passada pela Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap). Mais de 1,5 mil exemplares da espécie deixaram de fazer parte da vegetação da capital, desde que a companhia identificou o risco eminente de queda das árvores condenadas pelo inseto. Ainda restam 800 unidades infestadas. Está prevista para hoje a retirada de mongubas da W3 Norte.

A estudante Ângela Figueiredo, 37 anos, moradora da bloco I não gostou de ver o espaço em frente ao seu prédio, antes tomado pelo verde, vazio. ;A gente perdeu a sombra e o ar puro. Brasília já é tão seca, ainda vão cortar árvores?;, questionou. Para ela, a vegetação abundante próxima de seu apartamento amenizava o clima árido da capital da República. ;Acho isso errado. Não deveriam cortar ;, reforça.

O analista Paulo Roberto Farias, 59 anos, discorda da vizinha. ;Quem reclama é porque não sabe o motivo da retirada. Essas árvores podem tombar a qualquer momento, podendo acertar carros ou até mesmo pessoas;, explica ele, apontando para os besouros , responsáveis pela queda das árvores. ;Se elas estão com problemas têm que ser cortadas sim, traz segurança para nós moradores. Se uma árvore dessas cair, ninguém vai querer assumir a culpa. Mas alguém tem que assumir;, acrescenta a funcionária pública Maria Betânia Maia, 57 anos, também moradora do bloco I.

O chefe do Departamento de Parques e Jardim (DPJ) da Novacap , Rômulo Ervilha explica que o inseto Euchroma gigantea, chamado popularmente de broca, penetra na base da monguba e põe seus ovos entre o caule e a raiz da planta. As larvas do besouro, que chegam a medir até 15cm, se alimentam do interior da vegetação, deixando-a oca. ;Muitas vezes a árvore não apresenta sintomas externos, mas está comprometida e pode cair com uma ventania ou até mesmo com um empurrão de uma pessoa;, afirma Rômulo.

Queda
O trabalho na 216 Norte ainda não acabou. Segundo Rômulo, ao todo, 30 exemplares comprometidos devem ser retirados do setor residencial. A Novacap foi acionada depois que uma monguba caiu na entrada da quadra em 10 de setembro. ;Por pouco a árvore não atingiu uma moradora que passava de carro. Quando ela caiu, coloquei as mãos na cabeça. Foi um susto muito grande. Ver uma planta dessas ser cortada dói o coração, mas se é para evitar um desastre, acho melhor;, comenta a porteira Valdivina Pereira da Trindade, 57 anos, que assistiu semana passada ao trabalho dos funcionários da Novacap.

O chefe do DPJ, Rômulo Ervilha, conta que de cada três árvores que caem no DF, uma é monguba. ;O número tem diminuído porque estamos tirando. A queda de uma planta dessas pode até matar alguém. Para cortá-la precisamos de um laudo técnico de um engenheiro florestal que confirme a condenação da árvore;, explicou. Segundo Rômulo, não há uma forma de combater ou controlar a praga que ataca as mongubas. ;Além disso, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) proibiu o uso de produtos agrotóxicos em área urbana;, completa. No lugar da espécie exótica (veja Para saber mais), a Novacap tem colocado plantas nativas do cerrado.

O que diz a lei
Segundo o Decreto n; 14.783/93, a decisão de cortar e erradicar árvores ; não tombadas ; nas áreas urbanas e verdes do Distrito Federal caberá à Novacap. O parecer pode ser concedido mediante: o comprometimento fitossanitário da planta; ameaça de queda iminente; interferência nas redes aéreas e subterrâneas de serviços públicos; comprometimento à saúde da população - devidamente comprovado por parecer médico e risco à integridade de edificações públicas e privadas.

PARA SABER MAIS
Importada da Amazônia
Originária da Floresta Amazônica, a monguba foi trazida para Brasília no início do programa de arborização da cidade. A planta ficou conhecida como monguba ou munguba, mas em outros lugares também pode ser chamada de paineira-de-cuba e castanhola. A espécie de grande porte e copa arredondada é considerada rústica, principalmente pela densidade da folhagem verde-escura. Na fase adulta, pode alcançar até 30m de altura. Os frutos lembram o cacau.

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