Cidades

População de Cocalzinho tenta voltar à rotina após roubo a agência bancária

postado em 12/11/2010 08:01
O medo se espalhou por Cocalzinho (GO), município distante 100km de Brasília. Após o assalto da agência do Banco Itaú, na madrugada da última quarta-feira, os moradores custam a acreditar que a cidade foi palco de uma ação criminosa daquelas vistas apenas no cinema, com direito a arrombamento de caixa eletrônico, confronto com a polícia e a utilização de armamento pesado e de uso restrito, como o fuzil AR-15. O barulho desesperou os vizinhos do estabelecimento, que, dentro de casa, não sabiam o que estava acontecendo.

Há quem tenha se escondido embaixo da cama para se proteger dos disparos. Foi o que fez a dona de casa Marilza Magagnin, 45 anos. Ela estava sozinha com o filho de 10 anos e, ao ouvir a conversa dos bandidos, que ficaram, por alguns minutos, próximos ao portão de sua casa, ela decidiu se proteger. ;Ouvi eles conversando, mas não dava para entender nada. De repente eu ouvi um dizer: ;Olha os caras chegando!’ Para mim, eles estavam falando dos policiais. Nessa hora, começou o tiroteio. Foi bem aterrorizante. Até ontem (quarta-feira) eu estava parecendo um defunto em pé porque não consegui pregar o olho e dormir;, disse Marilza.

A comunidade de Cocalzinho tem pouco mais de 15 mil habitantes e a notícia do roubo se espalhou rapidamente pelas ruas do lugar. ;A gente que mora numa cidade pacata não espera que vá acontecer uma coisa dessas. O barulho do tiro do fuzil foi tão forte que parecia uma bomba explodindo dentro de casa;, contou a dona de casa Wesdra das Graças Aguiar de Oliveira, 36 anos.

14 policiais
O tiroteio começou depois que um soldado e um sargento da Polícia Militar goiana, os dois são irmãos, se aproximaram para verificar uma denúncia de movimentação estranha no banco. Os bandidos nem deixaram a viatura se aproximar e começaram a atirar contra os PMs, que usavam colete à prova de balas, mas munidos apenas de pistolas de calibre .40, não chegaram a assustar os criminosos. O sargento foi atingido (veja depoimento). A dupla faz parte da equipe de 14 policiais da cidade. Por dia, dois trabalham na viatura e outros dois ficam no quartel. Diariamente, somando os policiais civis, são nove em serviço.

Cerca de 80 cápsulas de armamento pesado foram encontradas nas proximidades da agência bancária. As marcas dos tiros estão em quiosques, árvores e muros das casas da Rua São Paulo. A polícia acredita que o bando seja formado por pelo menos sete pessoas, que agiram em três carros diferentes: um Fiorino, um Corsa Sedan e um Astra de vidros escuros.

Deitada em sua cama, a aposentada Nair Vieira da Cunha, 68 anos, não conseguiu se mexer quando o tiroteio começou. De olhos arregalados e enrolada em um cobertor, a senhora de cabelos grisalhos ouviu os disparos de fuzil. Parecia que o tiroteio era na porta de sua casa. ;Foi muito tiro. Fiquei tremendo de tanto medo e nem tive coragem de sair de dentro de casa;, contou. A madrugada da última quarta-feira foi de puro nervosismo para Nair. ;Passou de tudo pela minha cabeça. No começo, imaginei que era bombinha jogada na rua, depois eu pensei que eram bandidos querendo entrar na minha casa. Fiquei desesperada;, disse a aposentada.

Um vigilante do banco, desarmado, e um colega, foram feitos reféns momentos antes da chegada da PM. ;Eles falaram para a gente não bancar o herói, disseram que não iam fazer nada conosco e só queriam o dinheiro;, contou o segurança, à reportagem do Correio. Para arrombar o caixa eletrônico, eles usaram maçarico, um balão de oxigênio, um botijão de gás, além de pás e pés de cabra. Toda a ação durou cerca de uma hora.

Troca de informações com a Polícia Federal
A Polícia Federal esteve em Cocalzinho na última quarta-feira para oferecer ajuda à polícia goiana na investigação do roubo. A apuração do crime está a cargo do Grupo Antiassalto a Banco, unidade especializada da Polícia Civil de Goiás, mas a ideia é trocar informações com a PF para tentar identificar e prender o bando. A desconfiança é que os assaltantes integrem uma quadrilha especializada, que tinha informações prévias a respeito da agência, uma vez que os criminosos sabiam o nome do vigilante do banco e fizeram o roubo justamente no dia em que os caixas eletrônicos foram abastecidos.

De acordo com o delegado-chefe da delegacia de Cocalzinho, André Soares Veloso, está sendo estudada a possibilidade de se fazer um retrato falado dos criminosos. Até agora, três testemunhas prestaram depoimento. O maçarico, o botijão de gás e o pé de cabra usados no roubo foram apreendidos e periciados na tentativa de encontrar as digitais de algum integrante da quadrilha.

A polícia acredita que os assaltantes sejam os mesmos que roubaram outras duas cidades em Goiás. Um deles foi há 15 dias a uma agência bancária no Jardim Ingá, bairro de Luziânia. Lá, eles conseguiram levar R$ 100 mil. A assessoria de imprensa do Banco Itaú não informou a quantia levada pelos bandidos na agência de Cocalzinho. Até o fechamento desta edição, eles também não informaram se a segurança no local será reforçada.

Depoimento
"Traz o fuzil, traz o fuzil"
;Um vigia ligou para a gente informando sobre uma movimentação estranha no Banco Itaú. Nós fomos verificar o que estava acontecendo e, ao chegar perto do local, com a viatura ainda em movimento, eles começaram a atirar. De tanto tiro, a viatura parou sozinha. Estávamos eu e meu irmão, que também é policial, dentro do carro. Pedimos reforço pelo rádio e ficamos escondidos atrás da lataria. Atiramos na direção deles (bandidos), mas a munição estava acabando. Tínhamos que procurar um lugar seguro para nos proteger. Nessa hora, ouvi os caras gritando: ;traz o fuzil, traz o fuzil;. E o pedido foi atendido. Quando vimos que o local onde estávamos não era seguro, resolvemos mudar de abrigo, mas, no momento que eu fui correr, fui alvejado. O tiro foi de um fuzil, que, de tão forte, me fez cair no chão. Sorte que pegou de raspão no ombro. Meu irmão recuou para me ajudar. Estava doendo muito, mas aquela cena, do meu irmão voltando, me deu forças para levantar e procurar um outro lugar. Não tínhamos chance com o armamento pesado que eles usavam. Só pensei em salvar a minha vida e a do meu irmão, mas foi Deus que nos salvou. A troca de tiros durou de cinco a sete minutos. Antes de ir embora, eles fuzilaram a viatura. Em um fogo cruzado, o que a gente pensa é na família e em salvar a própria vida;.

Sargento baleado, 42 anos, 22 anos na Polícia Militar

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