Cidades

Jardim Botânico 3 não tem benfeitorias essenciais, como iluminação pública

Falta também coleta de lixo e segurança

Helena Mader
postado em 27/01/2011 08:00
Luciana e Rodrigo mostram o asfalto deteriorado. Parte do setor não tem drenagem pluvial, mas o GDF promete retomar as obras no localSituado em uma das áreas mais valorizadas do Distrito Federal, o Setor Jardim Botânico 3, na região administrativa do Jardim Botânico, foi lançado em outubro de 2008 como uma promessa de moradia regularizada para a classe média. Os compradores dos primeiros lotes pagaram cerca de R$ 170 mil para viver no bairro. Na licitação pública que a Companhia Imobiliária de Brasília (Terracap) realiza hoje, o valor médio dos terrenos é de R$ 420 mil. A escalada de preços na região, entretanto, não serviu como garantia de infraestrutura pública. Os primeiros moradores do Jardim Botânico 3 ainda convivem com a falta de iluminação e de segurança. Como não há serviço de limpeza urbana, é preciso carregar o lixo no próprio carro para descartá-lo. Na falta de placas de sinalização e de endereçamento, os visitantes facilmente se perdem nas ruas do setor.

A comunidade decidiu se unir para cobrar do governo melhorias para a área. Quando o GDF começou a vender os imóveis, os compradores receberam informações de que o bairro teria posto policial, praças e parques. Nada disso saiu do papel. Hoje, além de viverem às escuras, por conta da falta de iluminação pública, eles enfrentam os efeitos da chuva, que destrói o asfalto recém-colocado e desgasta terrenos ainda vazios. As primeiras quadras licitadas até hoje não têm sistema de drenagem das águas pluviais.

A sensação de abandono pode ser percebida na entrada do bairro. A pista de acesso não tem asfalto e não há nenhuma placa de sinalização do Setor Jardim Botânico 3. Para piorar, uma empresa que recolhe restos das obras em andamento abriu uma clareira no meio do mato alto para despejar os resíduos de construção. Montes de entulho são formados por funcionários pilotando tratores e caminhões. Não há fiscalização, nem controle.

Fortaleza
O empresário Ilton de Queiroz Júnior, 33 anos, construiu uma fortaleza no Setor Jardim Botânico 3. Ele comprou um lote no bairro na primeira licitação da Terracap, em 2008. Só conseguiu começar a construir em janeiro do ano passado, quando obteve a liberação da água e da luz para seu imóvel. Além do muro alto, a residência tem câmeras e cercas eletrificadas. "Tenho um bebê em casa, não posso brincar com a segurança. Infelizmente, estamos expostos à violência", explica Ilton.

Todos os fins de semana, o empresário liga para a Polícia Militar. Perto de sua casa, jovens aproveitam a situação de abandono para realizar festas ao ar livre. "Como não tem iluminação, tem gente que faz da rua um motel. Além disso, muitos jovens batem pega e ficam dando cavalinho de pau. A PM diz que não tem viatura suficiente para vir até aqui", conta Ilton. Perto da casa do empresário, é possível constatar no asfalto as marcas de pneu.

Dos 695 lotes residenciais previstos para o Setor Jardim Botânico 3, mais de 70% já foram vendidos pela Terracap, que arrecadou R$ 102 milhões com o negócio. Mas apenas 10 famílias moram na região atualmente. Muitas preferiram adiar a construção da casa própria para aguardar a chegada da prometida infraestrutura. Cerca de 80 residências estão em obras hoje. A comunidade não descarta recorrer à Justiça para cobrar do governo a conclusão das obras públicas.

O servidor público Rodrigo Goulart Silva, 34 anos, e a estudante Luciana Mourão Terra, 25, foram os primeiros a construir no bairro. O casal arrematou um terreno de 840m; por R$ 207 mil, em maio de 2009. Mas só conseguiu a ligação da água para a residência sete meses depois. "Ligávamos para a Caesb e eles diziam que não conseguiam achar o endereço", relembra o servidor público.

Outra queixa é a qualidade do asfalto. "Acho que usaram pavimentação de má qualidade. Está desse jeito antes mesmo da chegada dos moradores", reclama Luciana. Nas primeiras quadras licitadas, também não há meios-fios.


TERRENOS À VENDA
; Na primeira licitação do ano e da nova gestão, a Terracap vai vender hoje 123 terrenos em 12 cidades do DF. Além de 22 imóveis no Setor Jardim Botânico 3, a empresa incluiu no edital cinco lotes em Sobradinho, seis em Santa Maria, 50 em Samambaia, um no Riacho Fundo, nove no Recanto das Emas, um em Planaltina, um no Núcleo Bandeirante, quatro no Guará, 17 em Ceilândia, um em Brasília e seis em Águas Claras. O mais caro da lista é um lote de 2,1 mil metros quadrados na área central do Riacho Fundo, cujo lance mínimo é R$ 1,4 milhão. Os imóveis do Jardim Botânico 3 variam entre R$ 372 mil e R$ 544 mil.

Sem acesso a telefone

Para o servidor público Manoel Lopes Júnior, 47 anos, um dos maiores transtornos é a ausência de cabos para telefone ou internet. "A gente só pode usar telefone celular e, para termos acesso à internet, é bem mais caro. O governo não fez projeto de cabeamento para telefonia e isso nos traz muitos problemas", reclama Manoel.

Na opinião da dona de casa Elsa de Souza Borges, 35 anos, a necessidade mais urgente é o reforço no policiamento do Setor Jardim Botânico 3. Apesar do muro alto, a casa da família foi assaltada há três semanas. "Cortaram a cerca elétrica que ainda não estava ligada e roubaram um monte de coisas, bicicletas e equipamentos. Depois disso, vivemos com medo", afirma Elsa. "A gente precisa urgentemente de um posto da polícia aqui dentro, além de rondas constantes", acrescenta. Neste sábado, os moradores e compradores de lotes da região se reúnem, a partir das 16h30, na igreja que fica na entrada do bairro. Eles vão discutir medidas para exigir a implantação da urbanização.

Atraso nas obras
Desde o lançamento do novo bairro, a Terracap divulga a informação de que a infraestrutura consolidada seria o grande diferencial do Setor Jardim Botânico 3. Em um encarte de junho de 2009, a empresa informou que estava investindo R$ 50 milhões na urbanização da região. "Isso é para que não se repita o que aconteceu no Setor Sudoeste, onde as projeções foram vendidas sem infraestrutura", afirmava a publicidade.

A assessoria de imprensa da Terracap informou que não é responsável pela execução de obras de infraestrutura e garantiu que a Secretaria de Obras é quem responde pela construção de benfeitorias no Setor Jardim Botânico 3. A pasta, por sua vez, disse que a conclusão das obras de infraestrutura da região atrasou por conta da chuva e afirmou que os trabalhos serão retomados em breve. A secretaria, entretanto, informou não ser responsável pela iluminação pública. Procurada pela reportagem, a Companhia Energética de Brasília (CEB) afirmou que a rede elétrica, indispensável para a iluminação pública, só foi instalada em junho de 2010. A assessoria da empresa garantiu que a nova gestão fará um orçamento e encaminhará o projeto à Administração do Jardim Botânico. (HM)

Falta também coleta de lixo e segurança

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