Cidades

Ex-presidente do BRB negociou empréstimo irregular para construtora

Ana Maria Campos
postado em 25/03/2011 07:00 / atualizado em 22/09/2020 14:33

Um diálogo captado durante as investigações da Operação Aquarela, realizada pelo Ministério Público do Distrito Federal em 2007, mostra que o então presidente do Banco de Brasília (BRB), Tarcísio Franklim de Moura, se envolveu diretamente na concessão e repactuação do empréstimo no valor de R$ 6,7 milhões para que a empresa WRJ Engenharia de Solos e Materiais Ltda. pudesse construir o Residencial Monet, empreendimento imobiliário localizado em Águas Claras. Mais do que isso, a escuta telefônica, autorizada pela Justiça, indica que Tarcísio Franklim cobrou propina para autorizar as operações financeiras. ;Vai ter alguma coisa? É, porque... a gente tá fazendo uma coisa...;, questiona o então presidente do BRB ao ser informado por Antonio Cardoso de Oliveira, então gerente de crédito do banco, sobre detalhes da transação que beneficiaria a construtora. O funcionário respondeu, supostamente tentando disfarçar o crime: ;Honorários advocatícios serão negociados diretamente com o advogado;.

Na última quarta-feira, o Correio revelou com exclusividade que Joaquim Roriz (PSC), as três filhas ; Wesliane Roriz, a deputada federal Jaqueline Roriz (PMN-DF), e a distrital Liliane Roriz (PRTB) ;, além de um neto dele, Rodrigo Domingos Roriz Abreu, são acusados de receber da empresa WRJ, como propina, 12 apartamentos no prédio pela facilitação do empréstimo que viabilizou a construção do empreendimento. Em ação de improbidade administrativa proposta na última terça-feira na 3; Vara de Fazenda Pública do DF, os promotores do Núcleo de Combate às Organizações Criminosas (Ncoc) do Ministério Público do DF sustentam que Roriz usou da influência política e da amizade com Tarcísio Franklim para intermediar a operação fraudulenta que resultou em prejuízos ao BRB, uma vez que o financiamento nunca foi quitado. Ele também é réu na ação.

A relação próxima e nebulosa entre Roriz e o ex-presidente do BRB veio à tona durante a Operação Aquarela. Um diálogo entre osenador do DF pelo PMDB, à época, e Tarcísio Franklim provocou o escândalo que ficou conhecido como a Bezerra de Ouro. A conversa interceptada pela Polícia Civil do DF mostrou uma negociação sobre a partilha de um cheque, no valor de R$ 2,2 milhões, do empresário Nenê Constantino na tesouraria do BRB.

Esse episódio resultou numa outra ação de improbidade administrativa contra Roriz, Constantino e Tarcísio Franklim, protocolada pelos promotores do Ncoc em abril do ano passado. A estrutura do banco foi usada para saque de um cheque milionário do Banco do Brasil. Nesse caso, o ex-governador sempre sustentou que a operação envolveu um negócio particular, um empréstimo de Nenê Constantino para a compra do embrião de uma bezerra. O MP não confia nessa versão.

Os donos da construtora WRJ, os irmãos Renato e Roberto Cortopassi, também são réus na ação relacionada ao Residencial Monet. Durante os desdobramentos da Operação Caixa de Pandora, a Polícia Federal e o MP realizaram busca e apreensão na sede da empresa. Nos computadores, foram encontrados supostos contratos de gaveta que tratam da compra e venda dos 12 apartamentos no Monet para familiares de Roriz.

O porta-voz da família Roriz, Paulo Fona, afirma que a negociação nunca ocorreu. Eles teriam chegado a pensar em comprar os imóveis, mas nada teria sido concretizado. De acordo com o MP, os apartamentos foram vendidos em contratos de gaveta, sem escritura, em nome da família Roriz. Dados contábeis apreendidos da WRJ indicam que a empresa simulou a venda dos imóveis para a COSS Construções, que também pertencia aos Cortopassi, para justificar o negócio. Liliane afirma que nunca tomou conhecimento de qualquer transação envolvendo o prédio. Hoje, os apartamentos estão em nome do BRB. O banco executou a WRJ porque o empréstimo não foi quitado.

Lavagem de dinheiro
Em junho de 2007, a Polícia Civil do DF, numa ação conjunta com o Ministério Público do DF, prendeu 19 pessoas, entre as quais o ex-presidente do BRB Tarcísio Franklim de Moura e o então coordenador da Associação Nacional dos Bancos (Asbace), Juarez Cançado. Foi uma investigação sobre lavagem de dinheiro desviado de contratos do BRB.

Confira áudio com os diálogos que confirmam o envolvimento de Tarcísio Franklim no caso


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