Cidades

Equipe brasiliense que é campeã de ginástica acrobática dribla dificuldades

postado em 26/05/2011 07:51

As professoras Márcia Colognese, paulista, e Ekaterina Malykhina, russa: trabalho intenso já começou a apresentar bons resultados.
A falta de espaço e de equipamentos adequados para treinar não foi o suficiente para atrapalhar os planos da única equipe brasiliense de ginástica acrobática, a atual campeã nacional nessa modalidade. O esporte é relativamente novo no Distrito Federal. Começou a ser praticado por aqui em 2008, quando uma renomada professora de São Paulo decidiu reiniciar a carreira do zero, em Brasília. Três anos depois, a dona dessa ideia, Márcia Janete Colognese, 39 anos, está à frente de uma turma de mais de 100 meninos e meninas, de 6 a 21 anos, capacitados e cheios de motivação.

A equipe treina no Centro Interescolar de Educação Física (Cief), na 907 Sul, mantido pela Secretaria de Educação. Duas vezes por semana, os ginastas precisam se deslocar para o Colégio Setor Leste, na 612 Sul. Isso porque no primeiro local não há estrutura física adequada (como esteiras acolchoadas no chão, entre outros equipamentos) para a prática do esporte. No Setor Leste, eles dividem o espaço com alunos de outros tipos de ginástica. O grupo é formado por crianças de várias classes sociais.

O time faz apresentações em troca de doações de colchões e uniformes, entre outros materiais necessários para as aulas. Situações do dia a dia demonstram as dificuldades. Houve casos de alunos que chegaram para treinar sem antes ter almoçado, por falta de dinheiro. Desmaiaram no meio da atividade. Em situações como essa, o clube tenta apoiar as famílias mais carentes. Oferece ajuda para o transporte e o lanche. Quando precisam viajar para competir, é hora de procurar patrocínio. Na última competição de ginástica artística, muitos viajaram de avião pela primeira vez.

No Cief, jovens que moram no Lago Sul convivem com pessoas de lugares simples, como a Vila Estrutural. Durante as aulas, todos são iguais. Não há distinção de origem social na hora de escolher quem ficará na base ou no topo da pirâmide. ;Sentir-se um ginasta, para muitos, é uma chance de alçar voos mais altos e assim chegar mais longe. O ginásio do Setor Leste tem servido como palco para os sonhos de gente determinada;, avalia a professora Márcia.

Recém-chegada
Há um mês, a chegada de uma voluntária trouxe novo ânimo para os aprendizes. Não se trata de uma ajuda qualquer. A ginasta russa Ekaterina Malykhina, 25 anos, que compete e treina desde os 6, se ofereceu para estar ao lado de Márcia na preparação dos alunos. Ekaterina tem os cabelos naturalmente loiros, lisos e longos. Os olhos grandes e azuis iluminam o rosto pequeno e delicado. De estatura média, ela desfila a boa forma e a leveza dignas de grandes ginastas.

Mas confessa: é uma ;russa falsificada;, nas palavras dela mesma. A jovem se sente um tanto brasileira. ;Adoro coxinha, mas não posso comer sempre. As frutas brasileiras são muito gostosas. Tipo açaí, cupuaçu; Não temos nada parecido com isso na Rússia. Uma amiga está fazendo experimentos culinários com frutas do Cerrado. É ;o maior gostoso;;, disse ela, em português claro e com vocabulário típico da geração jovem brasiliense.

Ekaterina adora observar seus alunos. ;Eles têm a pele tão bonita, morena. São tão lindos;, encanta-se. Gosta também de calor humano e sorri sem precisar de motivos, diferentemente de boa parte de seus conterrâneos, como ela mesma admite. ;Os russos, à primeira vista, não têm o coração aberto. Mas é por conta do frio e também do histórico de guerras. Olhando mais de perto, são boas pessoas. Comparar é injusto. O brasileiro é muito feliz;, explicou.

A russa se apaixonou pelo Brasil, e especificamente por Brasília, em 2000. Naquele ano, ela chegou à capital do país com a família ; o pai é diplomata. Não encontrou grandes dificuldades para se comunicar, afinal havia morado durante três anos no Chile e arriscava um ;portunhol; engraçado. Chegou a cursar psicologia na Universidade de Brasília (UnB), mas só conseguiu concluir o curso em sua terra natal.

Movimento solidário
A ginástica acrobática é diferente da ginástica rítmica (na qual usam-se fitas e cordas, por exemplo) e da artística, caracterizada, principalmente, pela presença de equipamentos conhecidos como cavalo, barra fixa e trave de equilíbrio. É um esporte para ser praticado em grupo (duplas, trios e quartetos). Nela, os ginastas formam pirâmides, em uma de suas acrobacias mais conhecidas. Eles exercitam o companheirismo, pois dependem uns dos outros para o sucesso dos movimentos.

Apaixonada por Brasília
Ekaterina viveu em Brasília de 2000 a 2005. Por conta do trabalho do pai, precisou voltar para a Rússia. Estudou psicologia e, assim que conseguiu ter o diploma em mãos, resolveu que retornaria ao Brasil, país que adotou como seu. Há um mês, Ekaterina conseguiu alcançar esse objetivo. Agora, luta para ficar na cidade. Está em busca de alguma atividade que ofereça remuneração. Como ela não é formada em educação física, não poderá dar aulas sem enfrentar problemas com o conselho que regula a profissão.

;O que ela está nos oferecendo é uma oportunidade única de aprender. A ginástica está para a Rússia como o futebol está para o Brasil;, afirmou Márcia. A estrangeira tem várias medalhas e títulos na ginástica acrobática. ;Quando a gente ensina, sempre aprende. É uma relação vantajosa para todos. Mas ainda estamos em busca de uma forma de mantê-la aqui;, disse a professora brasileira.

Márcia também é gabaritada. Veio de São Paulo para o DF quando o marido, funcionário do Banco do Brasil, precisou ser transferido. Deixou para trás uma carreira com 18 anos de história. Em São Paulo, Márcia treinava atletas de alto rendimento. Alguns de seus alunos, hoje, estão no Cirque du Soleil. Aqui, ela passou a ensinar sua arte a comunidades carentes no Cief e em Sobradinho.

Há registros da prática do que hoje é chamado de ginástica acrobática em 2.300 a.C., no Egito, além de relatos antigos na China. Estudar o significado da palavra acrobacia ajuda a entender o objetivo dessas crianças e de suas professoras. Acrobacia vem do grego ;acrobates; cujo significado é ascensão, vir à tona, ir adiante.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação