Cidades

Rede virtual oferece oportunidades de hospedagem gratuita pelo mundo

postado em 19/06/2011 14:00
Para a turismóloga Cristiane, a prática oferece oportunidades de viver outra cultura e de fazer novas amizades: espaço cativo para o couchVocê é franco admirador de futebol. A satisfação plena, para você, dura pouco e é esporádica: 30 dias a cada quatro anos. É quando o mundo inteiro só pensa nisso. Não pode ficar de fora da Copa do Mundo de 2014, sediada no Brasil, o único pentacampeão do planeta. Mas seu orçamento não será capaz de arcar com os gastos de hospedagem. Já basta a expectativa de preços salgados para os ingressos. Você pode apenas querer uma alternativa de acomodação para viajar pelo país, conhecer gente e acompanhar o desenrolar da competição. Saiba que, pelo menos, em Brasília, um sofá livre de custo pode estar à sua espera.

Essa é a proposta do couchsurfing ; surfando no sofá, tradução livre do inglês ;, uma rede internacional de pessoas que abrem suas casas para receber hóspedes que nunca viram na vida sem cobrar um tostão por isso. A ideia, concebida em 1999 e posta em prática desde 2004, é promover a troca de experiências, culturas e costumes entre cidadãos de diferentes partes do mundo. O Brasil é o oitavo país com mais adeptos à ação no planeta. Entre os 78.021 mil brasileiros cadastrados no serviço, mais de 3 mil vivem em Brasília. Eles poderão ser peças-chave para tornar mais democrático o acesso ao mundo.

O couch, no vocabulário dos iniciados, entrou na vida de Tiago Aquino, 27 anos, em 2007. A primeira experiência que o funcionário público teve foi em uma república na capital argentina, Buenos Aires. Moravam lá um polonês, um grego e um espanhol. A experiência foi tão boa que, quando voltou da viagem, ele decidiu oferecer, também, o seu sofá. Bem, o sofá da casa de seus pais. ;No começo, minha mãe não gostou. Hoje, ela aceita;, conta. Até 2014, ele espera já estar morando sozinho. Se puder, vai tentar recepcionar um grupo de estrangeiros de nacionalidades diferentes para tentar recriar em casa a atmosfera de um estádio. ;Pode ser legal. Às vezes, a pessoa vem para entrar no clima da copa, que já é diferente. Não tem ingresso, mas chega para tentar ver o que consegue fazer;, afirma.

Seleção criteriosa
Desde que aderiu ao couchsurfing, Tiago já hospedou entre 25 e 30 pessoas, selecionadas com critério para evitar problemas. Ele garante que 99% de suas experiências foram positivas. O sistema de camaradagem funciona com perfis individuais montados no site e os anfitriões podem avaliar seus hóspedes. Quanto mais avaliações positivas, mais ;seguro; é considerado o hóspede, consequentemente, mais fácil é conseguir ser aceito em outra casa. ;Se a pessoa fizer alguma coisa errada, é só ela que tem a perder;, diz Tiago.

É difícil saber com antecedência, explica ele, se esse será um recurso muito utilizado por turistas, já que os acordos de hospedagem são feitos com antecedência menor do que o sistema de reserva em hotéis e albergues. ;Eu também não sei se vou estar em casa, se poderei receber a pessoa. Mas, como a Copa do Mundo é um evento muito grande e exige outros preparativos, acredito que os pedidos de couch serão feitos com mais antecedência;, diz.

Redução dos custos
O couchsurfing é visto pelos usuários mais como uma forma de intercâmbio cultural do que como uma maneira de baratear os custos de uma viagem. ;Não é só pela farra, mas pela oportunidade de viver outra cultura, de fazer outras amizades e sair de um circuito turístico limitado;, opina a turismóloga Cristiane Marques Almeida, 26 anos, surfista desde 2007. A redução dos custos de uma viagem, no entanto, é fato para quem a pratica e pode aumentar as chances de participação, na Copa do Mundo, de pessoas que não se enquadram no perfil padrão do turista desse tipo de evento, cuja renda costuma ser alta. Uma pesquisa feita pela Fundação Getulio Vargas (FGV) a pedido do Ministério do Turismo brasileiro mostrou que cada estrangeiro gastou, em média, R$ 11,4 mil, excluindo a passagem aérea, na África do Sul durante o mundial de 2010.

Mochileira de coração, Cristiane nunca foi fã de hotéis. Desde que descobriu o esquema do couch, nunca mais quis viajar de outra maneira. No ano passado, ela viajou pela América Latina por sete meses com hospedagem garantida por meio da rede de sofás. Em troca, ela também abriu as portas de sua casa para forasteiros. ;É uma filosofia, mesmo. As pessoas querem essa troca. Se você for de coração aberto e disposto a viver outra realidade, é muito especial;, diz. Agora, ela está arrumando as malas. Se mudará para uma casa maior, com duas amigas, que compraram a ideia. ;Terá um espaço cativo para o couch;, garante.

Cristiane manteve contato com muitos amigos que a acolheram pelas américas e muitos já manifestaram o desejo de ter reservado um pedacinho do sofá durante os jogos. ;É uma oportunidade única para os sulamericanos ter uma copa tão perto. As pessoas já estão começando a fazer planos;, conta. Cristiane e Tiago apostam que o couchsurfing vai pegar em Brasília durante o mundial. ;A demanda será muito grande e o setor hoteleiro não suporta;, opina Tiago.

O presidente da Associação Brasileira da Indústria Hoteleira do Distrito Federal (Abih-DF), Tomaz Ikeda, não compartilha a mesma opinião. Segundo ele, até 2013, Brasília disporá de 36 mil leitos, 10 mil a mais do que a oferta atual. Não se sabe quantos turistas virão à capital brasileira, visto que tudo dependerá do sorteio dos grupos e de quantos jogos a cidade sediará, informações divulgadas apenas no ano da competição. Independentemente de a cidade estar lotada ou não, Ikeda não acredita que as modalidades de hospedagem concorram entre si. ;Não vai competir com o setor hoteleiro. O público é outro. O mochileiro é completamente diferente;, afirma.

4; lugar
O Brasil é o oitavo país com mais adeptos ao couchsurfing no mundo. Mais de 2,8 milhões de pessoas estão cadastradas na rede. Dessas, 78.021 são brasileiros, que representam 2,7% de registrados. A cidade onde a prática é mais difundida é São Paulo, lar de 15 mil surfistas, seguida pela capital do Rio de Janeiro. Brasília está em quarto lugar, com mais de 3 mil sofás disponíveis.

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