Cidades

Quando a religião é bem-vinda

Nas escolas particulares, o estímulo às crenças na sala de aula é legítimo

Antonio Temóteo
postado em 28/08/2011 08:00
Se na rede pública do Distrito Federal o ensino religioso vem gerando polêmica (veja Entenda o caso), cerca de 70% das instituições particulares adotam publicamente um credo, de acordo com o Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do DF (Sinepe). Além de assumirem uma vertente religiosa, muitos colégios possuem disciplinas que abordam os princípios e os valores éticos das crenças. Especialistas ouvidos pelo Correio avaliaram que o tema religião pode ser positivo nos centros educacionais desde que não seja carregado de dogmas. A reportagem também visitou três escolas ; uma laica, uma católica e outra protestante ; para verificar como o tema é tratado em sala de aula.

A diretora do colégio Mackenzie, Débora Muniz Oliveira, explicou que a disciplina de ética e ensino religioso é ministrada na instituição presbiteriana. Segundo Débora, as aulas fazem parte do componente curricular e nelas são discutidas questões relativas a valores e a princípios que devem nortear a vida em comunidade. A diretora também detalhou que essa abordagem pedagógica é apresentada aos pais dos alunos no contrato de matrícula. ;Exploramos o cuidado com o mundo, o relacionamento com o próximo e com Deus, pois somos uma escola confessional e temos o direito garantido pela legislação. Mas não do ponto de vista de catequizar, ou de forma proselitista, e sim a religião como sustentadora dos princípios e dos valores que compõem a sociedade ocidental;, finalizou.

Para Célio da Cunha, professor da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília e especialista em políticas educacionais, o ensino religioso nas escolas pode ser positivo. Segundo ele, isso pode ocorrer na medida em que o currículo estabelecido para a disciplina seja uma oportunidade de reflexão sobre o papel da religião na vida das pessoas e no mundo, sem tomar partido por um credo específico. O especialista explica que esse tema faz parte de todas as culturas e está presente nas escolas desde a idade média. ;A educação religiosa é importante na sociedade, mas no sentido universal de valores. Por meio de uma pedagogia da interculturalidade, é possível colocar as diversas religiões e formas de pensamento em diálogo. O grande desafio do nosso tempo é aprender a conviver juntos. Com os avanços dos meios de comunicação e informação, há uma chance maior para a convivência entre as culturas;, opinou.

Valores

Segundo Amábile Pacios, presidente do Sinepe, a entidade é formada por escolas confessionais ; que elegem o credo publicamente ;, colégios que trabalham a orientação religiosa e outros que usam as aulas para desenvolver valores e princípios éticos. Amábile explica que 100% das escolas filiadas ao sindicato pregam valores como respeito ao próximo e cidadania, e alerta que sem esses recursos é difícil educar crianças e adolescentes. ;Quando os pais fazem a escolha por uma escola particular, eles observam a proposta pedagógica, na qual é fácil verificar o trabalho e as questões religiosas envolvidas;, completou.

De acordo com Marilda Lenzi Castro, professora de ensino religioso da Escola Paroquial Santo Antônio, a instituição católica trabalha nas aulas o conceito de ensino interreligioso. Marilda explica que, por meio dos livros, os estudantes têm contato com várias correntes, como o islamismo, o catolicismo, o judaísmo e o budismo. ;A religião é uma área do conhecimento. Aqui, não há aula de catequese ou proselitismo e, sim, diálogo e respeito;, disse.

Na opinião do professor de filosofia da religião da UnB Agnaldo Portugal, as instituições confessionais acreditam que o estudo acadêmico é enriquecido com a orientação religiosa. Portugal avalia que religião é uma parte importante da cultura e atende uma resposta humana de sentido geral da vida. ;A Universidade de Oxford, na Inglaterra, está fazendo uma pesquisa sobre religiosidade nas diferentes culturas humanas. Uma das conclusões a que estão chegando é de que a religiosidade parece algo realmente da natureza humana porque você encontra isso em todas as culturas e em todas as faixas etárias;, expõe.

O diretor do colégio Sigma, Ronaldo Yungh, detalhou que não há nenhuma observação de cunho religioso nas aulas ministradas no colégio laico. Segundo ele, a escola deve formar cidadãos que respeitem o próximo e isso é um princípio de todas as religiões. ;A pessoas têm que eminentemente respeitar seu vizinho, colega, amigo, parente, diretor. A escola trabalha dentro dessa linha pedagógica para a formação completa do cidadão. E essa pessoa deve ser ativa dentro da sociedade, crítica e atuante;, frisou.

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