Cidades

Passada a estiagem, chuva forte expõe ainda mais as falhas técnicas na EPTG

postado em 10/10/2011 06:10
Bastou a primeira chuva forte depois da estiagem para que as falhas de infraestrutura da Estrada Parque Taguatinga (EPTG), mostradas na semana passada pelo Correio, prejudicassem mais uma vez a vida dos motoristas. Por volta das 15h, era impossível trafegar na via mantendo mais de 30km/h. Poças de água, que chegaram a altura das portas dos carros, atrapalharam quem saía de Águas Claras, Guará, Taguatinga e Vicente Pires rumo ao Plano Piloto. Quem tentou fazer o caminho inverso, enfrentou o mesmo transtorno.

Choveu por apenas 20 minutos. Mesmo assim, alguns motoristas foram obrigados a parar o carro no acostamento, por não conseguir trafegar. De acordo com especialistas ouvidos pelo Correio, as obras da EPTG, que custaram R$ 306 milhões até agora, não incluem sistema de escoamento adequado para suportar o volume das águas pluviais. Outra hipótese levantada por eles é que o barro das áreas sem vegetação tenha escorrido e entupido os sistemas de drenagem.

O Departamento de Estradas de Rodagem (DER) informou, na semana passada, que existe a intenção de fazer o sistema de drenagem complementar em alguns pontos da via, de 12,6km. Mas, segundo o professor em engenharia de tráfego da Universidade de Brasília (UnB) Paulo Cézar Marques, isso deveria ter sido feito antes de as obras serem entregues à população. ;Creio que muita coisa não foi concluída. A pista não está completa e a população é quem sofre;, diz. Até quesitos simples, como o plantio de grama nos canteiros, deixam a desejar. ;As chuvas, mesmo as mais fracas, podem ter levado sedimentos ao sistema de drenagem e entupido o escoamento;, afirmou.

Quando uma via começa a ser construída, a primeira parte a ser feita é o que os especialistas chamam de drenagem profunda, ou todo o sistema que fica enterrado. Logo após, são concluídos os mecanismos da superfície, que vão captar a água para que ela não empoce no asfalto. Em obras desde abril de 2009, até agora, esta segunda parte da EPTG ainda não saiu do projeto inicial. Na rodovia onde 140 mil carros passam diariamente também não há sinalizações horizontais e verticais adequadas e áreas de desacelaração e contenção. O pedestre é um dos mais afetados. Nenhuma das 15 passarelas construídas tem cobertura. Na época da chuva, quem quer atravessar tem que estar disposto a se molhar.

Na hora da chuva, motoristas tiveram de manter velocidade baixa e faróis acesos para conseguir romper a EPTG

Mortes
A alternativa para quem depende de uma das vias mais importantes do DF é esperar. ;Ainda bem que hoje (ontem) era domingo. Alagamentos como o que ocorreu podem provocar a interrupção do trânsito e acidentes;, disse Paulo Cézar Marques. Até junho deste ano, 10 pessoas morreram na EPTG. Em 2010, foram 14 óbitos em 12 meses.

O especialista em patologia de estruturas da UnB Dickran Berberian afirma que se o problema for bocas de lobo entupidas, o serviço de limpeza poderia ter sido feito antes das chuvas. Foram 106 dias de estiagem antes de a cidade ter as primeiras precipitações. ;Brasília sofre com os sistemas de escoamento de água malfeitos. As tesourinhas do Plano Piloto alagam quando a chuva é forte, agora a EPTG também. O problema é que para melhorar isso depois da obra pronta é necessário quebrar o asfalto. Aí vem mais gasto público e transtorno para a população;, lamentou o especialista. A reportagem entrou em contato com o DER, responsável pelas obras na EPTG, mas, até o fechamento desta edição, não havia recebido nenhuma resposta.

O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) prevê mais chuva até sexta-feira. Embora o Sol possa abrir pela manhã, à tarde e à noite, as precipitações devem a contecer em áreas isoladas. Hoje, a previsão é que a temperatura mínima seja de 18;C e a máxima de 30;C, com umidade variando entre 50% e 90%.

Para saber mais
Obras se arrastam

A reforma da EPTG começou em abril de 2009 com a previsão de terminar um ano depois. Desde então, a inauguração de toda a extensão foi adiada. Na semana passada, o DER começou a reforçar as sinalizações horizontais e verticais de alguns trechos da pista, bem como a troca de algumas placas de sinalização. A previsão agora é de que, até dezembro, essas mudanças e as faixas especiais de ônibus, previstas dentro do projeto denominado Linha Verde, sejam concluídas. Parte da obra ficou suspensa devido a suspeitas de irregularidades, como sobrepreço, apontado pelo Tribunal de Contas do DF. (MA)

Raio e incêndio
Um raio causou incêndio no Parque Nacional, no fim do Lago Oeste, na tarde de ontem. Por volta de 30 hectares pegaram fogo. Bombeiros usaram cerca de 60 homens e 10 viaturas para conter as chamas. Às 17h, com o início da chuva, o trabalho tornou-se mais fácil e o incêndio acabou, depois de duas horas de duração. Segundo bombeiros que atuaram na ocorrência, é normal que queimadas tenham início por conta de descargas elétricas.

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