Cidades

Pesquisa revela que a taxa de repetência no Distrito Federal é de 18,6%

Luiz Calcagno
postado em 10/10/2011 12:00

A agonia de perder um ano de escola e ter de rever todas as matérias se tornou rotina na vida de boa parte dos estudantes do ensino médio do Distrito Federal. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com base no censo escolar do Ministério da Educação de 2010, mostram que o DF está entre as três unidades da Federação com maior número de repetentes do país. Entre os matriculados no ensino médio das escolas públicas e privadas, 18,6% não atingem médias para concluir a série. Número inferior foi constatado somente nos estados do Rio Grande do Sul e do Rio de Janeiro (veja quadro). O índice brasileiro é de 12,5%.

No ensino fundamental, esses índices caem consideravelmente. Ao contrário dos vestibulandos, somente 10,1% dos estudantes do 1; ao 9; não conseguem passar de uma série para outra. A média nacional é de 10,3%, o que deixa o DF em 16; lugar no ranking nacional.

O desempenho das crianças e dos adolescentes matriculados nas escolas públicas contribui para o aumento da média da capital. No ensino médio, são 13,7% de reprovados, e, no fundamental, 12,4%. Nas unidades particulares, esses índices são reduzidos a 4,3% e 3%, respectivamente, índices encontrados em países desenvolvidos, como os Estados Unidos, a França e a Inglaterra. Embora em muitos casos os pais associem a repetência à falta de esforço dos filhos, especialistas ouvidos pelo Correio afirmam que o problema pode ter outras explicações. A metodologia de ensino, a qualidade das instituições e a formação dos professores são algumas das hipóteses apontadas.

De acordo com o consultor da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) Célio da Cunha, a discrepância entre os primeiros anos de estudo e os da conclusão da educação básica deve-se aos diferentes graus de investimento e aos métodos de ensino utilizados nos dois níveis. ;Dos anos 1990 até os dias de hoje, o Brasil iniciou uma política de melhoria do ensino fundamental com maior assistência pedagógica aos estudantes e verbas, como as oriundas do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb). Enquanto isso, o ensino médio deixou de evoluir ;, lamenta.

Para Cunha, o currículo não atende as necessidades dos jovens que vivem cercados pelas ferramentas virtuais e recebem, em tempo real, informações sobre os mais variados temas. ;As aulas não têm sido atraentes para os alunos. É um método arcaico. Estamos lidando com novas mentes, sem alterar as formas de ensinar;, complementou. Para que o número de repetências caia, o especialista sugere a criação de um método de ensino específico para a juventude, com disciplinas interligadas e capazes de dar ao estudante uma ideia do todo, e não somente da fragmentação explicada por cada professor.

Magali (C), que cursa o 1º ano pela segunda vez, Ludmylla (E) e Bruna dizem que é preciso tempo para se adaptar

Continuidade
O programa dos últimos anos de estudo deveria dar continuidade ao volume de conteúdo exigido no ensino fundamental. Os dados do IBGE mostram que 25,5% das reprovações acontecem justamente na fase de transição, ou seja, no 1; ano do ensino médio. ;Já existe a pressão do vestibular, além das mudanças de fase de vida. E, logo nesse início, o volume de matérias é muito extenso. Isso deveria mudar;, acredita o professor da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UnB) Carlos Augusto de Medeiros.

A estudante Magali Cristina Sousa, 17 anos, sentiu o aumento de exigência de um período para o outro. Matriculada no Centro Educacional Setor Leste, na 611 Sul, ela cursa, pela segunda vez, o 1; ano do ensino médio e ainda não sabe se será aprovada. A jovem tem dificuldades, principalmente, em matemática e história. ;Quando passamos do ensino fundamental para o médio, tudo muda muito, e de uma vez: a quantidade de matérias, o ritmo dos professores e as responsabilidades dos alunos. Fica difícil acompanhar e entender os assuntos. Eu me esforço;, diz. Ela admite trabalhar os pontos fracos, mas acredita que a situação seria diferente se o currículo escolar fosse readaptado. ;O ensino poderia ser melhor se tivéssemos mais tempo para nos adaptar às mudanças que ocorrem;, avalia.

Colegas de sala de Magali, Bruna Carolina Ribeiro e Ludmylla Florencio de Santana, ambas com 16 anos, também enfrentam dificuldades às vésperas do término do ano letivo. Bruna diz que ainda se sente um pouco perdida. A justificativa é a mesma da amiga. ;Não estava acostumada com o ritmo e a quantidade de matérias. É muito puxado. Devia ser mais devagar. Tenho medo de não conseguir;, desabafa. Já Ludmylla tem mais facilidade, mas, mesmo assim, se queixa do ;tranco; que sentiu ao entrar no 1; ano. ;Na oitava série, eles chegam a falar sobre os assuntos que veremos. Mas é muito pouco. Não chegamos preparados. Acho que um período de adaptação seria muito importante;, reflete.

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