Cidades

Após fuga da cadeia de Cristalina moradores contam o pânico que passaram

postado em 10/10/2011 07:10

O clima ontem nos arredores da cadeia pública de Cristalina (GO) ainda era de tensão. Nas ruas da cidade, situada a 135 quilômetros de Brasília, o assunto mais comentado foi a fuga cinematográfica de dois detentos, que morreram durante troca de tiros com a Polícia Militar. Antes, eles assassinaram um sargento da corporação, usado como escudo da dupla. Vizinhos da unidade prisional contaram detalhes dos momentos de terror e reclamaram da presença da prisão no centro do município goiano.

A professora aposentada Fátima Salles, 62 anos, acompanhou toda a movimentação na cadeia na manhã de sábado, quando os presos Fernando da Silva Ferraz, 27 anos, e Bento Jorge da Silveira, 24, usando um revólver calibre.38, renderam o sargento Antônio Albino Batista, 49, e o agente penitenciário Girlei Ferreira. O muro da casa de Fátima faz divisa com o pátio onde os presos tomam banho de sol. Ela relata que ouviu alguns gritos, seguidos de três estampidos de tiro. Fátima se assustou e se trancou no quarto. Minutos depois, foi surpreendida com um agente penitenciário batendo na porta dos fundos. Ele tinha pulado o muro do presídio para não ser morto por Fernando e Bento. ;Assim como um agente pulou, um bandido também poderia ter entrado no meu quintal. Tenho muito medo de algo mais grave acontecer com a gente. Estamos perto de uma bomba-relógio;, diz, preocupada, Fátima, que mora há mais de 40 anos no lugar.

Apenas um muro simples divide o quintal da residência do pedreiro aposentado Antônio Pereira da Silva, 60 anos, das celas da cadeia. Da sala da família é possível ouvir a conversa dos presos. Seu Antônio ainda reclama que, frequentemente, pessoas entram em sua propriedade e arremessam para dentro da cadeia drogas e até armas. Acuado, ele já pensou em vender o imóvel onde vive há 36 anos para proteger a família. ;Já cansei de ver gente dentro do meu quintal tentando jogar maconha e revólver lá para dentro. Já me ameaçaram porque eu fui repreender. Coloquei até cerca de arame farpado, mas eles não respeitam nada;, disse o aposentado.

O Kadett do carcereiro Girlei Ferreira foi usado na fuga de Fernando da Silva e Bento Jorge: no carro, os presos mataram o PM Antônio Batista

Situação pior
Já a situação do frentista José Domingos Vasconcelos é ainda pior. Da janela dos quartos dos filhos, de 13 e 4 anos, é possível ver toda a movimentação dos presos dentro de uma cela. ;É complicado você abrir a janela e se deparar com um monte de presos falando besteira, fazendo gestos obscenos. Poderiam colocar essa cadeia num lugar mais apropriado para proteger as pessoas de bem que vivem nessa comunidade;, sugeriu.

O supervisor de Segurança da Cadeia Pública, Marcos Vinícius Campos, disse que existe um projeto de desativação do presídio, mas que ainda não há previsão de quando o fechamento da unidade deve acontecer. ;Existe um projeto para tirar daqui, mas não sei em que pé que anda;, afirmou Marcos, lembrando que não é a primeira vez que um episódio de violência acontece no lugar. ;Em novembro do ano passado, teve uma fuga;, diz. A superlotação do estabelecimento carcerário contribuiu para a fuga dos presos. São 70 homens num espaço construído para 36. Na inspeção logo após a confusão, os agentes ainda encontraram uma outra arma em poder dos presos. A vigilância também é precária. Apenas dois agentes penitenciários e um PM são responsáveis pela segurança da unidade.

[SAIBAMAIS]

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