Cidades

Depoimento de ex-secretário adjunto de Transportes compromete Fraga

postado em 25/10/2011 10:00
Júlio Urnau é acusado de participar de suposto esquema na Secretaria de Transportes, entre 2008 e 2009
No último dia 11, quando se entregou à polícia, o ex-secretário adjunto de Transportes Júlio Urnau prestou depoimento aos delegados à frente da Operação Regin, que investiga suposta cobrança de propina na pasta, entre 2008 e 2009. Ele admitiu que em pelo menos uma operação agiu como ;laranja; do ex-secretário de Transportes Alberto Fraga. Urnau, até então considerado foragido, pois não foi encontrado para que se cumprisse o mandado de prisão, apareceu para fazer revelações com potencial de comprometer Fraga. Ele afirmou para os policiais que um dos apartamentos onde houve busca e apreensão não era dele, mas estava em seu nome a pedido de Fraga.

Trata-se de um flat no complexo hoteleiro Golden Tulip, localizado perto do Palácio da Alvorada. Em 7 de outubro, uma sexta-feira, policiais da Divisão Especial de Repressão aos Crimes contra a Administração Pública (Decap) cumpriram 16 mandados de busca e apreensão. Um deles no apartamento 3.098, cuja propriedade é atribuída a Urnau. Os delegados apreenderam objetos e documentos que estavam no imóvel com o objetivo de aprofundar as apurações sobre suposta cobrança de R$ 800 mil em propina por funcionários da Secretaria de Transportes a uma cooperativa de vans do Gama.

Ao falar para os policiais, Júlio Urnau disse que a unidade no Golden Tulip não era dele. Segundo contou em depoimento, entre novembro e dezembro de 2006, ele foi procurado pelo então deputado federal Alberto Fraga (DEM), que teria lhe pedido a indicação de um corretor de imóveis de confiança. Foi então que Júlio apresentou a Fraga uma pessoa de nome Rubens. O corretor, segundo o depoimento, mostrou três flats do complexo ; até aquela época chamado de Blue Tree Park ; para o deputado, que se interessou por uma unidade com vista para o Lago Paranoá.

Júlio Urnau afirmou que Fraga quis comprar o apartamento e colocá-lo em nome dele. ;O depoente questionou o porquê de estar sendo convidado a figurar como proprietário do referido imóvel que de fato seria de Alberto Fraga, tendo este dito que posteriormente iria registrá-lo, no entanto, em razão das proximidades das eleições, que havia acabado de acontecer, preferiria que a aquisição ocorresse daquela forma;, consta no depoimento de Urnau à Decap, ao qual o Correio teve acesso. O ex-secretário adjunto de Transportes disse que, ;salvo engano;, o imóvel foi comprado em nome dele próprio por valor de R$ 135 mil. Ele afirmou aos policiais que não sabia como se deu o pagamento, pois as negociações teriam ocorrido entre Fraga e o tal corretor Rubens.

Urnau registrou o imóvel no cartório do Venâncio 2000, onde também fez uma procuração transferindo para Alberto Fraga ;amplos poderes sobre o imóvel, inclusive de transferi-lo;. Ele disse que nunca frequentou o flat e que não tinha nenhum conhecimento dos objetos e documentos encontrados pelos policiais. O ex-adjunto de Fraga ainda contou que por diversas vezes pediu a Fraga a transferência do apartamento, o que segundo Urnau nunca foi feito. Ao final do testemunho, ele registrou o temor por sua integridade e a de sua família.

Repasse a amigo
O ex-secretário de Transportes Alberto Fraga admitiu que o apartamento citado por Júlio Urnau em depoimento à polícia era de fato dele. Explicou que na época da compra estava em processo de separação e não queria que a mulher soubesse da transação. ;Era uma questão pessoal, por isso pedi a Júlio que registrasse o imóvel no nome dele;, disse.

O ex-deputado afirmou que, ao contrário do depoimento de Urnau, a transferência do flat foi feita em abril deste ano e a unidade foi vendida. ;Repassei a um amigo que me paga as prestações. Ele vai processar os policiais porque invadiram um apartamento que já não era de Urnau nem meu.; Segundo Fraga, não há no imóvel ;absolutamente nada; que possa ajudar nas investigações da Operação Regin. Até o fechamento da edição, o advogado de Júlio Urnau, Délio Fortes Lins e Silva, não atendeu as ligações da reportagem. Por se tratar de uma investigação em curso, a Polícia Civil disse que não vai comentar o teor do depoimento ao qual o Correio teve acesso.

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