Cidades

Em Brasília, 99% das residências têm sistema eficiente de coleta de esgoto

Helena Mader
postado em 18/11/2011 07:21
As ruas sem asfalto e com esgoto a céu aberto eram motivo de vergonha e muito incômodo para a comerciante Maria José Vieira, 45 anos. Moradora da Vila Estrutural, ela conviveu com a falta de infraestrutura até 2009, quando o governo concluiu as obras de saneamento na região. O sistema de coleta de esgoto mudou a vida de dona Maria e dos moradores da cidade. ;Antes, as ruas fediam o tempo todo e a gente vivia com medo de pegar doenças;, conta. Por conta de obras como as realizadas na Estrutural, o Distrito Federal ostenta o título de unidade da Federação com o menor percentual de domicílios com saneamento inadequado.

Em Brasília, o índice de residências com sistema fora dos padrões foi de apenas 1%. Os dados fazem parte do Censo 2010, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Na última pesquisa, feita em 2000, esse percentual era de 3%, ou seja, houve uma queda de 67,8% no total de casas com esgoto a céu aberto ou despejado em locais impróprios. Em todos os demais estados brasileiros, caiu a quantidade de domicílios sem saneamento adequado. A média nacional de casas sem esgotamento sanitário ou acesso à coleta de lixo é de 8,1%. Há 10 anos, 14% dos domicílios estavam nessas condições.

Dificuldades
A redução foi ainda mais forte em algumas capitais, especialmente do Norte e do Nordeste, onde o número de domicílios com saneamento inadequado era alto. No Maranhão, por exemplo, 41,3% das casas não tinham esgotamento sanitário em 2000. O percentual ainda é muito alto, mas houve uma queda significativa: hoje, 23% dos domicílios estão em condição sanitária precária. Nesse quesito, Rondônia é o estado em pior situação. Lá, quase um quarto das casas não têm saneamento básico adequado.

Pela metodologia do IBGE, é considerado domicílio com saneamento adequado aquele ligado à rede geral ou à fossa séptica. Também é observado se o local tem água oferecida pelos serviços oficiais de abastecimento e se o lixo é coletado pelos serviços de limpeza. Nas casas com sistema inadequado, o lixo é enterrado, queimado ou jogado em terrenos baldios. Nesses casos, o esgoto sanitário é escoado para fossas rudimentares, valas, rios, lagos ou para o mar.

O economista Júlio Miragaya, diretor de Gestão de Informações da Companhia de Planejamento do Distrito Federal, lembra que Brasília é uma área predominantemente urbana e que o território do DF é muito pequeno. Esses dois fatores, explica, contribuem para que o Distrito Federal seja a unidade da Federação com o menor índice de domicílios com saneamento inadequado. ;A maior dificuldade é levar saneamento para áreas não urbanizadas, e a maioria da população do DF está na zona urbana. Por isso, quase todos os domicílios de Brasília têm saneamento;, afirma.

O presidente da Caesb, Célio Biavati, atribui o bom resultado do Distrito Federal aos investimentos realizados na última década. ;Em 10 anos, o governo investiu R$ 1,3 bilhão em infraestrutura de água e esgoto. Nesse período, foram feitas 250 mil ligações novas de água e 150 mil ligações de esgoto;, explica Biavati. Ele conta que os domicílios sem saneamento adequado estão principalmente em áreas rurais ou em novas invasões na zona urbana. ;Existe um decreto que proíbe a Caesb de fazer ligações em ocupações recentes, para coibir as invasões de terra;, justifica o presidente da Caesb.

Investimentos
A expansão do sistema de saneamento no DF deixou o brasiliense protegido contra uma série de doenças infectocontagiosas que podem levar à morte. O sanitarista Pedro Tauil, professor da Universidade de Brasília (UnB), avalia: ;Os investimentos em saneamento básico, que compreende o abastecimento regular de água, a coleta de lixo, a drenagem pluvial e a coleta de esgoto, melhoram significativamente os níveis de saúde da população e protegem contra várias doenças;.

Pedro Tauil, no entanto, lembra que ainda há muitas pessoas que vivem em áreas de invasão e favelas, onde o saneamento sempre é precário. ;Mais de 20% da população brasileira estão nessa situação e sofrem com a falta de coleta de lixo e esgoto. Além disso, não adianta coletar o esgoto se não tratar adequadamente.;

O número de domicílios com saneamento é de 99%, mas 19% das residências do DF não têm rede de esgoto e usam sistema de fossa séptica ou outros métodos. O Censo mostrou que 641 domicílios não possuem nenhum sistema de esgotamento sanitário. Entre os brasilienses, 15% não são atendidos diretamente pelo serviço de limpeza, mas usam caçamba ou outros métodos. O grande desafio do poder público a partir de agora é fechar fossas sépticas construídas em local inadequado, especialmente próximo a poços artesianos.

Os dados divulgados pelo IBGE mostram que a maioria das casas do Distrito Federal está ligada à rede geral de abastecimento de água. Ao todo, 95% dos domicílios são abastecidos pela Companhia de Saneamento Ambiental do DF (Caesb), e os 5% restantes ainda usam água de poços artesianos ou de nascentes.

Um dos desafios para que todas as casas tenham esgoto sanitário no Brasil é o alto custo das obras. O professor do Instituto de Geociências da Universidade de Brasília Geraldo Boaventura lembra que essa é uma obra de difícil execução e com pouca visibilidade política: ;Executar essas obras é uma decisão política e demanda muitos recursos, mas a melhoria do saneamento é essencial.;

;No Entorno, os dados são o inverso;, atenta. ;Lá, ainda há muitos municípios que não são atendidos adequadamente. E, mesmo no Distrito Federal, há áreas que precisam de investimento para garantir o saneamento completo;.

O estudante Emanuel Macedo, 20 anos, mora na Quadra 4 da Vila Estrutural e lembra-se com tristeza da época em que a cidade não tinha rede de esgoto. ;Quando chovia, era um horror. A lama ficava misturada com o esgoto e a cidade toda fedia muito. A construção do saneamento na Estrutural foi a melhor coisa que aconteceu;, comenta.

Água tratada
O governo local capta água de cinco sistemas produtores diferentes, mas o principal deles é a Bacia do Descoberto. Além disso, há 10 estações de tratamento de água e 56 unidades de tratamento para cloração de poços. O DF tem ainda 6.469km de redes de distribuição de água, que atendem 774 domicílios, e 4.736km de redes coletoras de esgoto, além de 17 estações de tratamento.

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