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Bares renomados encontram mercado propício à expansão dos negócios no DF

Embora os preços sejam salgados, os brasilienses tendem a ficar longe das cadeiras de plástico e a buscar espaços mais elegantes para aproveitar o fim de tarde

postado em 26/11/2011 12:00
Vinícius Rezende (E), com a namorada, Suênia Paz, garante que compensa o custo em bar com qualidade:

A cultura do happy hour atraiu para Brasília, principalmente nos últimos três anos, redes nacionais de bares. De olho em um público disposto a curtir o fim de tarde em lugares mais sofisticados que os tradicionais botecos, franquias investiram milhões para abrir as portas na cidade e chamar a atenção dos boêmios. Apesar de o sindicato do segmento alertar para a saturação do mercado, empresários falam em faturamento crescente e alguns planejam até a expansão dos negócios.

O brasiliense é encarado pelos bares como bom gastador. Em 12 estabelecimentos pesquisados pelo Correio, o gasto médio por cliente varia entre R$ 35 e R$ 50. Os preços do cardápio parecem não assustar. Este ano, o valor da cerveja em Brasília subiu 11,5%, quase o dobro da inflação oficial do período, segundo o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Foi o quarto maior aumento entre as 10 capitais pesquisadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Muitos desses bares de luxo abandonaram as tradicionais garrafas de 600ml. Em uma clara estratégia para faturar mais, as opções aos clientes se restringem ao chope, de tamanhos variados, ou às garrafas long neck, entre 250ml e 355ml. Por quantidades menores, cobra-se o mesmo preço ou até mais caro. Um copo de chope pode custar até R$ 9,60. A long neck sai entre R$ 5,60 e R$ 7,30, a unidade. Na conta, somam-se ainda os petiscos com preços turbinados.

A cervejaria Devassa no Pontão do Lago Sul inaugurou em abril e, entre as lojas da marca, já é a que mais vende em todo o Brasil, segundo o gerente-geral, Leonardo Dal Pisol. Por mês, 22 mil litros de chope enchem as tulipas. Nos fins de semana, quando chegam a passar 2 mil pessoas pela casa, são comercializados, em média, 800 litros por dia. Este mês, a capacidade do estabelecimento passará de 480 para 500 lugares. ;Brasília começa a criar a cultura do bar cheio todo dia;, diz Dal Pisol.

Bem servida
Somente o investimento da Devassa no Pontão chegou a R$ 3 milhões. Satisfeito com o resultado, o gerente-geral pretende abrir uma segunda franquia em 2012. Para o presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes no Distrito Federal (Abrasel-DF), Jaime Recena, a capital do país está ;bem servida; de bares. Ele lembra que no horário de verão o movimento aumenta em até 20%. ;O tempo bom também influencia. Se não está chovendo, os bares ficam mais cheios;, acrescenta.

O Bar Boteco, rede pernambucana que se consolidou no Rio de Janeiro e ganhou fama em todo o país, chegou a Brasília em 2008, na Asa Sul. O gerente administrativo, Ivo Mendes, diz não ter do que reclamar. ;A tendência é que esse mercado cresça ainda mais;, acredita. O bar, onde a cerveja mais barata é uma long neck de R$ 5,60, fica cheio principalmente entre quarta-feira e domingo. Nos agitados happy hours, a conta individual não costuma sair por menos de R$ 50.

Em dias de bom movimento, além das 200 cadeiras ocupadas, fica gente de pé no Bier Haus, também na Asa Sul. Para atrair clientes no início da semana, o estabelecimento oferece a promoção dose dupla: em que a compra de um chopp dá direito a outro. ;Brasília tem um público que prefere botecos mais ajeitados;, afirma o sócio-proprietário Bruno Caçador Rodrigues. Apesar da casa cheia, ele não faz planos de abrir nova unidade. ;Uma está bom;, resume.

Promoções
Para fisgar os brasilienses, após os dias cansativos de trabalho, a rede carioca Enchendo Linguiça, aberta em julho de 2009 no complexo gastronômico Beira Lago, prepara promoções e apresentações de djs no início da noite, no mesanino do estabelecimento, com vista para o Lago Paranoá. ;Os bares estão cada vez mais modernos e os clientes têm exigido novidades, no ambiente e no cardápio;, diz o gerente do bar em Brasília, Evany Camelo.

Na hora de tomar uma ou mais cervejas, o estudante Vinícius Rezende, 26 anos, prefere um boteco ajeitado. ;Vale a pena gastar um pouco mais para sentar em um lugar confortável, que tenha um banheiro mais limpo;, avalia ele, com o aval da namorada, a advogada Suênia Paz, 26. Perto do pôr do sol, os dois curtiam drinks e petiscos na companhia de outro casal, os oficiais de náutica Vitor Rezende, 27, e Ísis Ferreira, 25. A conta não sairia por menos de R$ 100.

O empresário da cidade Jorge Ferreira inaugurou no shopping Pier 21, em outubro, seu oitavo bar no DF. O Bar do Ferreira, um investimento de cerca de R$ 1,2 milhão, é mais uma aposta dele no segmento, na tentativa de se firmar diante da invasão de concorrentes de fora. ;O bar é a praia do brasiliense. Ele quer sair do trabalho e sentar para comer e beber com os amigos em um lugar bacana;, comenta. O público tem exigido, completa Ferreira, ambientes cada vez mais arrojados.

Na contramão do otimismo propagado pelo mercado, o presidente do Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares do DF (Sindhobar-DF), Clayton Machado, mostra-se preocupado com o que chama de ;concorrência predatória;. Na avaliação dele, o segmento de bares em Brasília está saturado. ;Os empresários não vão dizer isso abertamente, mas posso assegurar que os resultados estão bem abaixo do esperado;, diz.

Mudança positiva
O horário de verão 2011/2012 será o mais longo desde 1985, com 133 dias de duração. Em outubro, moradores das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, além dos baianos, tiveram de adiantar o relógio em uma hora. A mudança segue até 26 de fevereiro do ano que vem.

Festival para cativar clientes
Segue até 8 de dezembro a quinta edição do festival Bar em Bar, organizado pela Associação Brasileira de Bares e Restaurantes no DF (Abrasel-DF). A expectativa é que as promoções aumentem em 30% o fluxo de clientes nos bares. Este ano, 30 estabelecimentos vão oferecer petiscos a um preço único de R$ 20. O valor pode cair pela metade para quem aproveitar a parceria da Abrasel-DF com um site de compras coletivas. Os petiscos e as casas participantes podem ser conferidos em www.barembar.com.br. O festival conta com o apoio da Ambev e do Sebrae-DF.

A inflação da cerveja
Confira as oscilações do IPCA em Brasília e outras capitais de janeiro a outubro de 2011:

Localidade - Percentual acumulado no ano
Brasil - 11,58%
São Paulo (SP) - 14,64%
Belo Horizonte (MG) - 13,02%
Porto Alegre (RS) - 11,60%
Brasília (DF) - 11,50%
Recife (PE) - 11,43%
Curitiba (PR) - 11,03%
Goiânia (GO) - 11,01%
Rio de Janeiro (RJ) - 9,54%
Belém (PA) - 8,82%
Fortaleza (CE) - 7,08%

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