Cidades

Agnelo diz que 2011 foi "muito difícil" em função do caos administrativo

Enviada Especial
postado em 01/12/2011 07:45
Bruxelas (Bélgica) ; A um mês de terminar os primeiros 12 meses de governo, Agnelo Queiroz (PT) acha que ainda há tempo para produzir resultados e minimizar os efeitos de um ano que ele próprio avalia como ;muito difícil;. O governador atribui alguns resultados ainda aquém do prometido na campanha à ;situação dramática; que herdou e enfrentou no Governo do Distrito Federal.

Agnelo justificou que 2011 foi o ano da ;arrumação;, de colocar o Estado em ordem, por a burocracia para funcionar e sanear dívidas de convênios sem prestação de contas com o governo federal: ;Houve um esforço gigantesco, sem contar com o fato de que chegamos e tivemos de tapar buraco, cortar a grama, fazer mutirão para que as crianças pudessem ir à escola. Por tudo isso, 2010 foi um ano de arrumação, que considero atisfatório;, avalia.

Em entrevista concedida em Bruxelas, onde Agnelo foi defender a candidatura de Brasília para sediar os jogos universitários de 2017, o governador fez um balanço positivo da campanha candanga, embora tenha sido derrotada para a cidade chinesa de Taipé. ;Ao nos candidatarmos, elevamos Brasília ao plano internacional, mostramos as virtudes da nossa cidade. Perdemos no voto, mas ganhamos o debate;, acredita.

O petista repete para 2012 um de seus principais compromissos de campanha: a melhoria substantiva no sistema de Saúde. Ele reconhece que o governo ainda não conseguiu ampliar a rede de atenção básica, mas sustenta que em 2012 a população sentirá as melhorias. O governador atribui a crise política que enfrenta em função de denúncias sobre sua atuação como ministro do Esporte à atuação ;antidemocrática; de seus opositores, que, segundo define, ;agem na escuridão, com ;métodos baixos;, na tentativa de desestabilizar o governo. ;Ficam requentando denúncias da época da campanha eleitoral que vêm de depoimentos comprados;, acusa. Confira a seguir os principais trechos da entrevista:

Qual o balanço que o senhor faz dessa candidatura à Universíade, depois da derrota de Brasília na terça-feira para sediar os jogos universitários?
O balanço é muito positivo. A candidatura de Brasília à Universíade está de acordo com um projeto nacional de projetar o Brasil e Brasília no mundo, especialmente pelo momento histórico que estamos vivendo. Ao nos candidatarmos, elevamos Brasília neste plano internacional, mostramos as virtudes da nossa cidade. Tenho certeza que ganhamos o debate de ideias e conceitos dos jogos, do papel do esporte universitário como fator de desenvolvimento humano e da necessidade de a América do Sul sediar um evento como esse, que há 50 anos não ocorria nessa região. Perdemos no voto, mas ganhamos o debate, mostramos os atrativos do Brasil, não só para atletas, mas para suas delegações e para os turistas. Um trabalho como esse ajuda no desenvolvimento humano e econômico de uma cidade.

Há um grupo que torceu pela derrota da candidatura de Brasília à Universíade porque é contra os investimentos recorrentes em eventos de esporte, levando em conta que a cidade ainda carece de melhorias em áreas como saúde, educação e segurança.

Como o senhor pode justificar essa agenda?
Essa é uma visão esquemática, limitada, porque um evento como esse atrai dinheiro para a cidade, muito mais do que os investimentos que possamos fazer diretamente. Além disso, não há o menor cabimento pegar os recursos destinados a áreas essenciais para colocar em um evento como a Universíade. Uma coisa não tem nada a ver com a outra. A resolução das políticas essenciais que para nós é prioridade zero, então não oferece nenhuma contradição nesse sentido. Pelo contrário, temos de fazer os investimentos e a política correta nas áreas essenciais e, ao mesmo tempo, estar desenvolvendo a cidade, gerando oportunidade, emprego e renda. Esses fatores são fundamentais e estratégicos para resolvermos o problema das políticas públicas de natureza essencial.

Estamos chegando ao fim do primeiro ano do governo. O senhor está satisfeito com a própria atuação e a de sua equipe?
Esse foi um ano muito difícil porque pegamos o governo em uma situação dramática. Nem a nossa população sabe ao certo o que recebemos. Tivemos quatro governadores no ano de 2010, uma crise profunda, e esse primeiro período foi de organizar o Estado, retomar os processos institucionais ; todos rompidos completamente ;, colocar para funcionar a burocracia do Estado e também sanear as dívidas gigantescas que recebemos e os convênios que não tinham prestação de contas com o governo federal. Foram mais de 90. Então, houve um esforço gigantesco, sem contar com o fato de que chegamos e tivemos de tapar buraco, cortar a grama, fazer mutirão para que as crianças pudessem ir à escola ; reformamos 300 em 40 dias ;, tivemos que assumir o Hospital de Santa Maria em 21 dias e dobrar o atendimento dessa unidade. São situações emergenciais que tivemos de enfrentar, e não tinha nem como reclamar, não adiantava ficar dizendo isso para a sociedade e criar um ambiente de falta de credibilidade. Foi um esforço que demandou, muitas vezes, 18 horas de trabalho por dia. Por tudo isso, 2011 foi um ano de arrumação, que considero satisfatório. É claro que queria muito mais do que já conseguimos, mas tenho certeza de que instalamos uma base concreta e desenvolvemos as políticas com a nossa concepção. Estamos prontos para dar um grande salto no ano que vem.

Onde o governo pode melhorar em 2012?
Vamos ter uma melhora muito forte na saúde. Fazer uma mudança de modelo de assistência, que é a nossa proposta, é diferente de simplesmente construir um prédio, um hospital. Até o fim de 2012, tenho certeza de que a população perceberá mudanças de qualidade. Já fizemos um investimento fortíssimo na área física, que estava terrível na rede, colocamos 4 mil servidores neste período, onde a carência é grande, fizemos uma parceria importante com a Abrace para abertura do Hospital da Criança e também cuidados do abastecimento da rede. Mas precisamos ainda fazer a ampliação da atenção básica, a instalação de uma rede de urgência e emergência. Precisamos também construir 10 UPAs (Unidades de Pronto-Atendimento) em 2012, cujo objetivo central será o tratamento das emergências e de urgências.

Nessa semana, fortes chuvas causaram alagamentos em Brasília. Acha que o governo é capaz de conter esse problema evitar que ele se agrave?
Essa é uma questão de ação preventiva. Esse trabalho tem que ser feito ao longo dos anos, para não permitir que a nossa cidade repita casos como os das grandes metrópoles, porque esses efeitos são crônicos. Evidente que uma chuva mais forte veio e o que era para chover em um mês inteiro choveu de uma só vez. Em qualquer lugar, um evento como esse tira a situação da normalidade. A aplicação de recursos em infraestrutura nas partes mais carentes, como a drenagem pluvial, é investimento que não aparece, mas se faz necessário. Por isso, liberei recursos imediatos para esses investimentos de emergência, mas já está no nosso planejamento a destinação de verbas para obras em pontos principais da cidade. Espero que ao longo de quatro anos a gente possa diminuir o risco de situações como a que ocorreu no fim de semana.

Um dos gargalos em Brasília é o problema do transporte público, área em que o governo pouco avançou neste ano.

É possível estar com o setor funcionando bem até a Copa do Mundo de 2014?
Com certeza. Vamos estimular o uso do transporte coletivo. Para isso, temos que primeiro oferecer um transporte público coletivo de qualidade, que seja digno. Para isso tomamos medidas fundamentais, como a aprovação do Plano Diretor de Transporte Urbano. Era um absurdo Brasília não ter o seu plano diretor. Esse plano define as ações na área de transporte e dá as diretrizes gerais. Outra medida foi a retomada do sistema de bilhetagem eletrônica. Ocorria desperdício de dinheiro porque não havia controle sobre o número de passagens gratuitas, a quantidade de passe estudantil. Nos próximos meses, será instalado o primeiro corredor preferencial para ônibus no DF, que vai ser na Estrada Parque Núcleo Bandeirante, no trecho que liga o Pistão Sul, em Taguatinga, até a Candangolândia. Isso vai aliviar muito o trânsito pesado nessa região. Também estamos com grande expectativa do anúncio da presidente Dilma sobre os projetos que serão contemplados com o PAC da mobilidade urbana. O DF está com vários projetos disputando os recursos, que vão chegar a R$ 2,4 bilhões para o setor de transporte.

Historicamente, as crises fragilizam o Executivo na relação com a Câmara. Em função do delicado momento político enfrentado pelo governo, o senhor ficou refém de interesses dos distritais, está mais difícil lidar com eles?
Não, pelo contrário. A base está ainda mais unida. Conseguimos aprovar projetos importantes para a capital com a ajuda da Câmara.

O senhor prevê mudanças administrativas na virada do ano?
O governo está em construção e sempre que for necessário farei mudanças, especialmente quando os resultados não forem apresentados.

O senhor tem um estilo muito próprio de fazer trocas no governo, que em geral ocorrem sem grandes alardes. Desde o início do ano substituiu vários integrantes do primeiro escalão. Ao mexer na Polícia Civil, no entanto, contrariou esse estilo? Foi obrigado a agir assim para contornar alguma situação de
instabilidade política?
Não é bem assim. Mudei o diretor da Polícia Civil, coloquei o Onofre, que é uma pessoa muito competente, com mais de 30 anos de polícia, que dedicou a vida toda para a instituição. Dei autonomia para ele montar a equipe.
Os remanejamentos em cargos de chefia sempre ocorrem quando assume um novo diretor, isso faz parte. Essa impressão de mudança radical é uma visão equivocada, não por má-fé, mas por ignorância de pessoas que não conhecem a rotina administrativa. Na Polícia Civil não ocorreram demissões, mas sim remanejamentos. Inclusive, nessas trocas, houve promoções.

O senhor foi alvo de denúncias sobre corrupção durante atuação como ministro do Esporte. Acha que ficou devendo explicações que lhe prejudicam hoje?
Não deixei absolutamente nada pendente, pelo contrário. Todas as contas das minhas gestões foram aprovadas. Saí do Ministério do Esporte há seis anos. Como não encontram qualquer irregularidade no meu governo, ficam requentando denúncias da época da campanha eleitoral que vêm de depoimentos comprados. Tentam criar fatos de um período passado que já foi fiscalizado pelos órgãos. Não sou réu em processo algum, não fui denunciado pelo Ministério Público, não consta nada pendente em relação a mim no TCU (Tribunal de Contas da União) ou na CGU (Controladoria Geral da União).

O senhor acha que existe um grupo agindo contra o governo?
Criei a Secretaria de Transparência e investiguei as empresas inidôneas da Caixa de Pandora. Com isso, desagradei muita gente. Há forças que atuam na escuridão. Ter oposição faz parte, mas a que existe no Distrito Federal é diferente da de todo o resto no Brasil. Usa métodos baixos, antidemocráticos, não aceita um governo eleito pela maioria.

O que o senhor prepara para a lista de ano-novo do governo?
O ano ainda não terminou. Dezembro está aí e temos muito o que fazer. Vamos virar o ano já com duas medidas importantes encaminhadas. Está saindo, por exemplo, o edital para a aquisição dos GPSs que serão instalados nos ônibus. A medida será uma forma de garantir o cumprimento de itinerários e horários. Uma outra iniciativa é a elaboração do edital de licitação das linhas de ônibus em que se cobrará serviço mais eficiente. A audiência pública sobre o assunto está prevista ainda para dezembro. Além de todo o nosso planejamento nas áreas de saúde, vamos também dar continuidade a um trabalho de conter a violência e o uso de drogas iniciado ste ano. Essa é uma prioridade. A partir do ano que vem, contaremos com o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, que criei para trazer representantes de todos os segmentos da sociedade com a missão de discutir os rumos do DF com o overno e pensar Brasília para os próximos 50 anos. É nisso que estamos focados.

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