Cidades

Jovens sem experiência sonham com empregos de bons salários e pouco esforço

Sem experiência e qualificação profissional, boa parte da população entre 18 e 24 anos é indecisa e não tem ânimo para encarar as vagas disponíveis.

postado em 11/01/2012 08:00
Pedro Mesquita, formado em ciência política, só conseguiu trabalho temporário. Hoje, estuda para concurso e se sente privilegiado por morar com a mãe
A falta de experiência, iniciativa e perseverança barram os jovens no mercado de trabalho. O índice de desocupados entre os brasilienses de 18 a 24 anos é duas vezes maior que a média do Distrito Federal, segundo dados da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED). Os entraves para a conquista da primeira oportunidade foram determinantes para manter, nos últimos 20 anos, a taxa da capital do país acima da registrada nas demais regiões metropolitanas analisadas pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).

O desemprego juvenil predomina nas estatísticas oficiais desde o início da série histórica, em 1992. Naquele ano, a taxa de desocupados entre os jovens era de 23,5%, bem acima dos 15,3% da média regional do mesmo período. Em 2011, a diferença ficou ainda maior: 23,4% contra 11,9%, em igual comparação. Os menores percentuais são historicamente observados entre os profissionais acima de 39 anos, consolidando um movimento natural, explicado pelo acúmulo de experiência dos trabalhadores ao longo da vida. Nessa faixa etária, em 2011, a taxa ficou em 5,6%, metade da média do DF.

[SAIBAMAIS]As características da chamada Geração Y influenciam os índices considerados elevados entre a população jovem, na opinião da psicóloga e mestre em desenvolvimento de recursos humanos Carmem Cavalcante. Experiências anteriores, claro, pesam na seleção, o que atrapalha os jovens. No entanto, observa a especialista, muitas empresas preferem candidatos sem vícios, crus no mercado, como costumam dizer. E é aí que, mesmo assim, os jovens de hoje continuam em desvantagem por, em casos não raros, transparecerem pouco comprometimento com a oportunidade que surge.

Concurso

Com o cuidado de deixar claro que há exceções, Carmem classifica como apática a juventude à procura de trabalho. ;O jovem senta para fazer uma entrevista e não sabe dizer a que veio;, comenta a psicóloga acostumada a comandar processos seletivos para empresas privadas. Em Brasília, acrescenta, os concursos públicos são usados como alternativa pelo jovem para fugir do desemprego, mas ainda com a intenção, quase sempre, de trabalhar pouco e ganhar bem. ;Em nome da estabilidade, muitos retardam a inserção no mercado sem nem saber o que querem da vida;, detalha.

Ter curso superior não representa mais garantia de emprego. Para ocupar um lugar entre os ocupados, o jovem precisa ter persistência e se convencer de que, além da formação, terá de aprender a trabalhar. Ganhar uma oportunidade pode levar mais tempo do que o planejado. E as primeiras vagas conquistadas não serão necessariamente aquelas com as quais o candidato sonhou. ;O jovem tem que ter a consciência de que pode demorar a galgar posições. O problema é que muitos não estão dispostos a começar por baixo;, avalia Carmen.

Pedro Mesquita, 23 anos, agarrou o diploma de cientista político pela Universidade de Brasília (UnB) no ano passado. Passou no vestibular assim que concluiu o ensino médio, em uma escola particular do Guará, e se dedicou à vida acadêmica durante os quatro anos de curso. Abdicou dos estágios para se envolver em monitorias e projetos de extensão, ensino e pesquisa. Tirou nota máxima na apresentação da monografia e, formado, começou a distribuir currículos. ;Até consegui alguns trabalhos temporários, mas exigiam experiência para algo fixo;, conta.

Privilégio

Sete horas de estudos por dia aproximam Mesquita da independência financeira e do início da vida profissional. Ele quer passar em alguma seleção pública relacionada à carreira escolhida. A dedicação aos livros e às apostilas no ritmo de um legítimo concurseiro o tranquilizam em relação à situação de desempregado. ;No começo, era complicado, mas agora não me incomodo mais;, afirma o jovem, ao reconhecer ser um privilegiado por poder morar na casa da mãe, e ter tempo para se planejar melhor. ;Que bom que tenho a chance de esperar um pouco mais para começar a trabalhar;, emenda.

As dicas para os que não têm condição de fazer o mesmo que Mesquita valem para antes da formatura. O dilema do primeiro emprego é mais facilmente vencido quando, ainda na graduação, existe a preocupação com o futuro. Fazer estágios e manter contatos com profissionais da área ajuda a romper a barreira da falta de experiência. ;O principal é não ficar acomodado, não perder a esperança diante das oportunidades que não derem certo. Portas fechadas serão inevitáveis;, completa a presidente da Associação dos Jovens Empresários do DF (AJE-DF), Elany Leão.

Nascidos nos anos 1980

A Geração Y é um conceito associado aos nascidos entre a década de 1980 e meados da década de 1990. Alguns autores relacionam o grupo a características como crescente individualismo e extremada competição. São jovens, em geral, que não têm a mesma consciência política de gerações anteriores e tendem a ter um conhecimento mais superficial.

Empreendedorismo

Entre as prioridades da entidade para este ano estão a busca de parcerias entre as faculdades e o mercado, e um trabalho com o governo para incentivar a abertura de empresas por jovens. Atualmente, a juventude encontra dificuldade em montar o próprio negócio, por não ter, na maioria dos casos, garantias para o financiamento.

Radiografia

Confira os números da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED) associados à faixa etária no mercado de trabalho do DF:

Taxa de desemprego

Ano 18 a 24 anos 25 a 39 anos Acima de 39 anos Total 1992 23,5% 11,7% 7% 15,3%

2001 33,9% 16,6% 10,5% 20,9%

2006 32,4% 15,4% 8,5% 19,1%

2011 23,4% 10,4% 5,6% 11,9%

Fonte: Codeplan/Dieese

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