Cidades

Estudantes de biologia se mobilizam para salvar espécies no Parque Nacional

postado em 20/01/2012 08:00
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O Parque Nacional de Brasília enfrenta muitas dificuldades para se manter como uma unidade de Cerrado preservada. Na lista de problemas, destacam-se a falta de recursos e de pessoal, o desmatamento e as constantes ameaças de invasão. Outro transtorno que coloca em xeque a diversidade da flora são as espécies não nativas do Cerrado. Para combater esse mal, um grupo de voluntários formado por estudantes de biologia dedica parte da semana à preservação do bioma, por meio do Projeto Manejo de Espécies Exóticas.

Em trabalhos anteriores, especialistas identificaram as quatro espécies exóticas mais problemáticas no Parque Nacional de Brasília. São elas capim-gordura, braquiária, andropogon e jaraguá. Agora, cabe aos voluntários mapear o local onde elas aparecem. Eles realizam o trabalho nas estradas e trilhas do parque. Os veículos, além do vento e dos animais, ajudam a espalhar as sementes e pequenas mudas. ;As estradas são um grande meio de dispersão das espécies não nativas. O bioma funciona em equilíbrio. Quando ocorre um desequilíbrio, como no caso de abertura de um caminho, as espécies exóticas aproveitam o espaço;, explicou a analista ambiental do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Christiane Horowitz. Os voluntários vão percorrer 250 km da Área 1 do parque.

O trabalho é realizado em duas fases. Na primeira, os estudantes identificam em quais locais essas espécies exóticas aparecem com mais frequência. Na segunda etapa, eles poderão propor soluções para evitar que as plantas não nativas impeçam o desenvolvimento das típicas do bioma. ;As espécies que vêm de fora competem por nutrientes, água e luz, e impedem a dispersão de sementes, por exemplo. Normalmente, as espécies introduzidas são melhoradas, mais resistentes e não têm predadores;, esclarece Christiane.

;A finalidade do parque é ter uma reserva genética;, detalha a analista ambiental. ;Com o surgimento e predominância dessas espécies exóticas, não faz sentido manter a unidade de conservação.; Segundo Christiane, a invasão de espécies exóticas é a segunda maior causa de perda de biodiversidade no mundo. ;No Parque Nacional, elas já chegaram à zona intangível e primitiva da unidade;, alertou.

Controle
Após concluído o trabalho, os voluntários vão propor ações de controle para evitar a dispersão ainda maior dessas espécies exóticas. Eles vão estudar maneiras de erradicar, controlar ou conter esses exemplares por meio de técnicas mecânicas, químicas ou bioecológicas. ;O trabalho é muito interessante, o diagnóstico levanta outros aspectos e a gente descobre outras coisas;, adiantou a analista ambiental.

Os estudantes Leonardo Pereira, 33 anos; Dayse Lanny de Melo Vieira, 20; e Mariana Rocha Maximiano, 19, fazem parte do projeto desde novembro do ano passado, quando as ações começaram. ;Descobrimos esse projeto por acaso no site da instituição, fomos aprovados e, de duas a três vezes por semana, vamos até o parque;, contou Leonardo. Antes de começar o trabalho de campo, eles fizeram um curso para saber identificar as espécies. ;Estamos fazendo um trabalho de campo pela primeira vez e isso é muito legal porque o que a gente aprende na teoria na sala de aula vê na prática aqui;, avaliou Leonardo. ;Estudando as espécies exóticas, a gente acaba estudando o Cerrado indiretamente, sem contar que temos acesso a uma área que ainda está protegida;, concluiu.

Invasoras
A espécie, de nome científico Melinis minutifolia, toma conta do Cerrado em algumas áreas do Parque Nacional de Brasília. Nativa da África, foi introduzida no Brasil como forrageira para formar pastos. Aqui, dispersou-se e se dividiu em espécies invasoras de muitos ecossistemas.

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