Cidades

Famílias dedicam tempo e dinheiro à conservação de imóveis com até 300 anos

Renato Alves
postado em 24/01/2012 07:44
Elin Dutra restaurou dois casarões em Pirenópolis
Após conhecer meio mundo representando o Brasil, aos 70 anos, o diplomata gaúcho Elin Dutra decidiu fixar residência em Pirenópolis ; desejo alimentado desde a primeira visita à cidade goiana distante 140km de Brasília. Na oportunidade, 25 anos atrás, ele se apaixonou pelo casario histórico e pela vida pacata do lugar. Tanto que, no mesmo dia, escolheu um casarão em frente à Igreja Matriz e resolveu comprá-lo. Passou anos restaurando-o até deixá-lo como o projeto original. E não parou por aí. Adquiriu outro imóvel antigo no município e também o restaurou para transformá-lo em pousada. A mudança definitiva, para o primeiro prédio, ocorreu somente há um mês, após ele se aposentar no Ministério das Relações Exteriores.

[SAIBAMAIS]Elin Dutra é um dos tantos exemplos de brasileiros que lutam pela preservação de uma parte pouco conhecida da história do Distrito Federal e do Entorno. Eles dedicam um bom tempo e dinheiro à conservação de imóveis seculares. No caso do ex-embaixador brasileiro em cidades como Estocolmo (Suécia) e Cairo (Egito), ele agora aproveita ao máximo o tempo livre, a paisagem bucólica de Piri, a culinária e as músicas tradicionais do período colonial. ;Sempre quis morar em uma cidade histórica. Primeiro, pensei em Olinda (PE), mas, quando aqui pisei pela primeira vez, para assistir a uma cavalhada, logo me apaixonei e fui convencido por um amigo a comprar o casarão onde hoje moro;, recorda.

Um alferes do Império construiu, em 1830, a residência agora pertencente a Dutra. Com a estrutura toda em madeira maciça, o casarão tem quatro amplos quartos, duas salas, cozinha, varanda, um grande quintal e até uma charmosa fonte. O diplomata gosta de receber amigos ao redor dela. ;Aqui, nos reunimos para serestas, acompanhadas de comidinhas típicas, como pães de queijo e bolos.; Já a edificação em que Dutra montou numa pousada serviu de abrigo a vigários por mais de 100 anos e começou a ser erguida no século 18. Em vez dos turistas atuais, brasilienses em sua maioria, o imóvel hospedava religiosos católicos que peregrinavam pela região catequizando os índios. Época em que a cidade era um arraial e se chamava Meia Ponte.

Novos, mas antigos
Em Pirenópolis, de originais, como os casarões de Elin Dutra, restam cerca de 240 imóveis centenários, todos preservados no centro histórico tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em 1988. Mas outros 250 imóveis também fazem o visitante ter a sensação de voltar no tempo ao andar pelas ruas de pedra do município com mais de 280 anos e 22 mil habitantes. Mesmo construídos recentemente, os casarões de fachadas em cor branca, janelões coloridos e grandes portas de madeira têm as mesmas características do ciclo do ouro e dos tempos dos engenhos de cana-de-açúcar. O que, para alguns especialistas, não passa de uma mera cópia do estilo colonial, integrantes do Iphan consideram um estímulo à preservação do patrimônio histórico.

O chefe do instituto em Pirenópolis, Paulo Sérgio Galeão, é um dos defensores da construção de imóveis em estilo colonial na área tombada. ;Esses prédios não agridem o tombamento. Pelo contrário, ajudam a preservar a história;, ressalta. Ele lembra ser permitido fazer novas construções em qualquer centro histórico tombado do país, desde que a obra seja apresentada ao Iphan e aprovada por um dos técnicos do órgão. Além dos moradores e forasteiros, o órgão do governo federal também tem feito a parte dele em Pirenópolis. Os mais antigos e importantes prédios da cidade estão restaurados e abertos ao público. Entre eles, a Igreja de Nossa Senhora do Carmo, construída em 1750 e transformada em museu de arte sacra. A Casa de Câmara e Cadeia, por sua vez, abriga exposições de artes.

No entanto, mesmo bem conservada, a principal atração turística, a Igreja Matriz de Nossa Senhora do Rosário, tem pouco do modelo original. Culpa do incêndio ocorrido em setembro de 2002, que destruiu quase toda a estrutura, móveis e imagens do prédio erguido entre 1728 e 1732, o mais antigo do Centro Oeste. O Iphan o reconstruiu por completo quatro anos depois.

Turismo de fachada

O fenômeno virou dissertação de mestrado defendida na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília (UnB), em 2006. Comparando desenhos e fotografias dos séculos 19 e 20 com imagens recentes, a arquiteta Míriam de Lourdes Almeida, autora da pesquisa, concluiu que grande parte do perímetro tombado de Pirenópolis perdeu os elementos originais.


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