Cidades

Distorções nas áreas de desenvolvimento desafiam indústria candanga

Apesar de ter a maior renda per capita do país e ser o centro geográfico e do poder, o setor encontra entraves em infraestrutura

Ana Maria Campos, Flávia Maia
postado em 24/03/2013 07:35
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No desenho dos mestres da arquitetura e do urbanismo, Brasília é um ícone do moderno, da vanguarda, do desbravamento. Foi talhada no símbolo de um avião para uns, de uma borboleta para outros. Concebida como ponto de partida para o desabrochar do Centro-Oeste, a cidade decolou em vários campos. É o centro do poder político, seus monumentos são admirados no mundo, tornou-se Patrimônio Cultural da Humanidade e um paraíso da estabilidade funcional. Mas quando se trata de produzir riquezas, ainda é um boeing no pátio.

[SAIBAMAIS]Idealizada no traço para voar, a capital da República nasceu com o estigma da paralisia no setor produtivo. A estagnação está decretada ainda no concurso do projeto urbanístico do Plano Piloto. O edital prevê, em seu item sexto, um plano de "desenvolvimento limitado" para a indústria e a agricultura "Cem vista do caráter político-administrativo" de Brasília. "Essa colocação, embora discreta, acabou criando uma das maiores barreiras em relação à evolução da atividade produtiva, incutiu na cultura do DF uma visão equivocada de que não temos nenhuma vocação para a indústria", analisa o economista Diones Cerqueira, da Federação das Indústrias de Brasília (Fibra-DF).

No Setor de Oficinas Sul, mecânicas dividem espaço com empreendimento imobiliário que desponta no setor destinado a empresas: o desvio se repete em todas as 27 áreas de desenvolvimento econômico do DF

Mais de cinco décadas se passaram e as ideias inseridas no concurso para a construção da capital, que poderiam ter sido superadas com ações miradas no progresso, impregnaram de desídia as iniciativas de fomento da indústria candanga. O DF tem a maior renda per capita do Brasil. Mas depende da produção alheia. Nada menos que 92%, ou seja, nove em cada 10 produtos consumidos no DF são importados e valorizam a economia de vizinhos. E mais: de tudo o que vai à mesa na capital da República, apenas 13% têm origem local. Todo o resto vem de fora.

Da riqueza que o DF produz, apenas 1,7% vem da chamada indústria da transformação, aquela em que matérias-primas dão origem a produtos. Por exemplo, do couro é feito o sapato, da celulose vem o papel; da areia, o vidro; do calcário, o cimento. Menos de 2% é um desempenho reles, o menor do país. O Produto Interno Bruto do DF de 2012 deve fechar em R$ 180 bilhões. Apenas R$ 3 bilhões têm origem na indústria da transformação.

Apesar de ter a maior renda per capita do país e ser o centro geográfico e do poder, o setor encontra entraves em infraestrutura

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