Cidades

Mais da metade dos menores infratores não tem a presença do pai na família

Do total pesquisado, mais da metade (539) cumpre medida de internação e tem entre 15 e 16 anos

Luiz Calcagno
postado em 25/03/2014 06:04
Do total pesquisado, mais da metade (539) cumpre medida de internação e tem entre 15 e 16 anos

Rafael* cumpre medida de internação na Unidade de Internação do Plano Piloto (UIPP), antigo Caje, há um ano e seis meses. Sentenciado por ato infracional análogo a furto, diz com naturalidade que já perdeu as contas de quantas vezes esteve internado. ;Precisava dinheiro. Para sobreviver, para ajudar minha família. Mas também usei para mim, para comprar roupas de marca;, afirma. Morador de Ceilândia e cursando o 6; ano do ensino fundamental, o jovem conta que só conheceu o pai recentemente. ;Ele está preso por homicídio;. O adolescente, negro, com baixa escolaridade e reincidente se enquadra no perfil da maioria dos jovens que passa pelo sistema socioeducativo do Distrito Federal, segundo levantamento da Companhia de Planejamento do DF (Codeplan).



O estudo, encomendado pela Secretaria da Criança e intitulado de Perfil e Percepção Social dos Adolescentes em Medida Socioeducativa no DF, vai auxiliar o desenvolvimento de políticas públicas efetivas para ressocializar meninos e meninas em situação de risco. A Codeplan entrevistou 1.147 jovens. Desses, mais da metade (539) cumpre medida de internação, tem entre 15 e 16 anos, não conta com a presença do pai na família e cometeu, principalmente, atos infracionais análogos a roubo, homicídio, tentativa de homicídio e tráfico de drogas (veja infográfico).

Se por um lado, a pesquisa é uma das maiores já realizadas sobre o tema no Brasil ; e reúne informações essenciais para a modernização do sistema ;, por outro, ela revela décadas de abandono do governo e da sociedade ao sistema socioeducativo. A secretária da Secretaria da Criança, Rejane Pitanga, admite que ;o diagnóstico é dramático;. ;Se continuarmos com a lógica, podemos construir 500 prédios que nada mudará. Temos que mudar uma cultura, que pressupõe uma mudança geral. A pesquisa nos mostra todos os desafios que temos para superar. Fizemos um trabalho científico para conhecer o perfil dos adolescentes;, explica.

Para o promotor de Infância Renato Varalda, faltaram políticas públicas, principalmente educacionais, ao longo de décadas. Ele explica que os adolescentes de regiões periféricas convivem com a violência e banalizam o crime. ;Falta controle familiar, pois a maioria deles só tem a mãe, que está trabalhando e não tem como controlá-los. Sem perspectiva, eles focam no presente e não pensam em consequências. Para completar, não têm acesso à cultura, e as escolas são fracas, então, não há estímulo para que continuem estudando. Isso pode ser resolvido com políticas voltadas para a educação;, diz.

*Nome fictício em respeito ao Estatuto da Criança e do Adolescente


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