Cidades

Personagens da farsa terrorista em um hotel de Brasília contam os detalhes

O mensageiro feito refém e o homem responsável pelo sequestro falam sobre as sete horas de tensão no centro da cidade

Isa Stacciarini
postado em 01/10/2014 06:00
José Aílton, a vítima: tranquilidade ajudou na rendição
Na casa simples de José Ailton de Sousa, 48 anos, no Jardim Lago Azul, no Novo Gama, a rotina tenta voltar ao normal após o sequestro no St. Peter Hotel. Funcionário há quase três anos, o mensageiro trabalha no ramo de hotelaria há 25 anos. Na sala da residência dele, e ao lado da mulher, a camareira de outro hotel Íris Maria Azevedo de Sousa, 48, Ailton contou detalhes dos momentos em que ficou sob o poder de Jac Souza dos Santos.

Ele explicou que, no início da manhã, antes das 8h, uma funcionária da lavanderia e o recepcionista Francisco Rogério tinham sido rendidos no quarto do suposto hóspede. Segundo Ailton, Jac solicitou o serviço de lavanderia e pediu que o recepcionista recebesse o pagamento das despesas do hotel, mas exigiu que o dinheiro fosse repassado no apartamento. ;A mando dele, o recepcionista ligou no hall, e eu atendi. Pediu que eu subisse para ser testemunha do pagamento. Quando bati à porta, o hóspede abriu com a arma em punho, perguntou o meu nome e disse que, dali em diante, eu seria o refém dele.;

Minutos depois, o acusado pediu que ele vestisse o colete com falsas dinamites. A situação abalou a funcionária de lavanderia, que chorava e tremia. ;Eu pedi para trocar de lugar com ela, e o homem a libertou. O recepcionista ficou responsável por entregar os CDs que ele queria enviar à imprensa com as reivindicações políticas. Coloquei a minha vida nas mãos de Deus e, naquela situação, pensava que podia viver ou morrer;, ressaltou José Ailton.

Sem equilíbrio

O mensageiro contou que Jac permanecia calmo, mas alternava momentos de nervosismo com os negociadores. Ailton suspeitou de a arma ser uma réplica em razão da cor e teve pelo menos três oportunidades de tomá-la. ;Pensei em jogar as armas para os policiais e tirar o colete com os explosivos, mas pensava que ele poderia ter dinamites no bolso, o que acabaria com tudo. Ele falava que era uma pessoa do bem, nunca havia matado ninguém e só queria resolver as coisas políticas boas para a sociedade;, relatou.

Ailton teve a chance de ligar para a mulher e os filhos, de 25 e 26 anos, três vezes. ;Não o tive ele como criminoso, achei que fosse loucura mesmo.; O mensageiro fez com que Jac telefonasse para a mãe, no Tocantins. Quando Jac revelou a fraude com os explosivos e a arma, Ailton teve vontade de reagir. ;Ele disse que eu era muito inteligente e corajoso. E eu respondi: ;Quem tem coragem é você de fazer o que fez;.;

Depoimento

;Foi a coisa mais terrível;

;Em nenhum momento, ele (Jac) me impediu de fazer nada. Eu bebia água, refrigerante e ia ao banheiro. Mas, a todo momento, eu pensava que poderia sair em paz daquela situação ou virar fumaça. No andar onde estávamos (13;), todas as portas dos quartos ficaram abertas. As que fecharam era por causa do vento. Ele saía do quarto onde estava comigo e ia até o outro da frente. Entrava e saía de um para o outro e até me disse que escolheu aquele hotel por ter a vista para o Eixo Monumental. Os negociadores estavam a mais ou menos 10m de distância da gente. O sequestrador pediu notebook e uma Bandeira do Brasil. Quando tudo acabou, os policiais mandaram que ele deixasse a arma de lado. Ele saiu comigo algemado, como se eu fosse um escudo. Ele foi preso, e o chão se abriu para mim. Dormi pouco essa noite. Foi a coisa mais terrível que eu vivi em toda a minha vida.;

José Ailton de Sousa, 48 anos,
mensageiro do St. Peter Hotel

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