Cidades

Homens e mulheres com hanseníase vivem isolados em colônia de Goiás

Administração pretende demolir os pavilhões, lar dos pacientes

Flávia Maia
postado em 01/02/2015 08:06
Uma das muitas casas abandonadas no local: deterioração dá ar de cidade fantasma à colônia
As cercas verdes recém-pintadas delimitam uma história que ainda não acabou. Isolados entre lembranças e prédios desgastados pelo tempo, 25 pacientes habitam os pavilhões da antiga Colônia Santa Marta, localizada em Senador Canedo (GO), município distante 10km de Goiânia. São pessoas cuja história de vida está escrita pelas marcas que a hanseníase deixou no corpo. Arrancados do convívio social no passado, elas aprenderam a viver obedecendo regras ; as impostas pelo Estado e pelos profissionais de saúde. E, mesmo quase 30 anos depois da chegada da cura da doença ao sistema público de saúde e do fim do asilamento no Brasil, esses pacientes não sabem seguir sem a proteção que sempre lhes foi obrigada.

Símbolo de uma política de saúde pública ultrapassada, os 19 homens e as seis mulheres que insistem em viver nos pavilhões da Colônia Santa Marta veem aos poucos a vida que eles construíram seguir o mesmo destino das casas da vila, que, sem reformas estruturais, estão ruindo. Dos imóveis que resistem, uma parte está vazia, outra está cheia de entulhos e lembranças. ;Sabe, neném, muita coisa mudou por aí. Antes, tinha mais gente, mais moças, mais rapazes; hoje, tem menos. Esse lugar e quem mora aqui são a minha família;, conta Messias Pereira dos Santos, 50 anos, internada na colônia desde os 14 anos.

A fonte central com a imagem de Nossa Senhora está seca. Os antigos comércios e o posto da Polícia Militar não funcionam mais. O hospital está separado da vila por uma cancela, e a entrada é permitida mediante autorização dos seguranças. Quem era acostumado a cortar caminho para ter acesso mais rápido ao ponto de ônibus tem que dar a volta. O clube e a antiga capela podem ser demolidos, bem assim como os próprios pavilhões nos quais vivem os pacientes. De construção recente na Colônia Santa Marta, apenas os modernos ambulatórios e as unidades de saúde.

Boa parte dos residentes nos pavilhões foi levada para a colônia pelo carro da Vigilância Sanitária, conhecido como a Onça. O veículo passava nas casas dos doentes e os obrigava a ir para lá. Nesse momento, muitos pacientes perderam os vínculos com a família e os amigos. Por isso, hoje, preferem continuar vivendo no local que lhes foi determinado no passado. É o caso de Francisco Réges, o Chicão, 75 anos, e de Osório Gonçalves Vieira, 98, que nunca receberam visitas de familiares. Muitos até rejeitam os laços com a família. ;Parente não está com nada. Prefiro viver aqui;, afirma Joaquim Ângelo Teixeira, 53. Os que têm família fora temem o encontro e a possibilidade de não voltarem para o pavilhão. ;Eu quero visitar minha mãe na fazenda, mas vou voltar;, promete Joaquim Viera da Luz, 56.

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