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Com 528 mil habitantes, Ceilândia comemora 44 anos

Movida pela união de seus moradores, Ceilândia antropofagizou Lucio Costa e Niemeyer. Expandiu-se além das linhas do projeto original idealizado pelo arquiteto Ney Gabriel de Souza.

postado em 27/03/2015 06:06

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A fila se formava cedo nas proximidades do chafariz, em 1971 ; onde mais tarde seria construída a Caixa d;Água de Ceilândia. Moradores transferidos de diversos pontos do Distrito Federal aguardavam a vez de encher latas e baldes e levá-los de volta para casa. A cidade, recém-inaugurada, ainda precisava de todo tipo de estrutura: encanamento, asfalto, hospital, escola e espaços culturais. Mas os habitantes logo aprenderam a lição que os levaria a criar uma região autônoma, diversa e rica. Aprenderam a se manter unidos.

[SAIBAMAIS]O esforço e a dificuldade dos primeiros anos se tornaram o impulso necessário para que a cidade crescesse. Ceilândia antropofagizou Oscar Niemeyer e Lucio Costa. O projeto original, idealizado pelo arquiteto Ney Gabriel de Souza, ganhou vida própria, assinado pelos moradores que ergueram seus barracos de madeira, suas casas de alvenaria e que, agora, começam a ocupar os primeiros apartamentos.



Os mesmos habitantes que carregavam as latas d;água na cabeça e em carrinhos de mão lutam por uma cidade cada vez melhor. Compõem músicas, dirigem filmes e criam arte que é reconhecida no mundo inteiro. Alguns deles também são exemplos para o resto do país nas áreas de educação e de saúde e ainda se destacam no esporte local.

Ceilândia é bem-humorada, inventiva.
Ceilândia é o hip-hop e o cordel, a cultura urbana e a cultura nordestina.
Ceilândia é a Caixa d;Água e a Casa do Cantador.
Ceilândia é de briga, da boa briga.
Ceilândia é a do bonezaço, movimento que exige o direito de o ceilandense usar boné sem ser considerado suspeito.
Ceilândia é o Jovens de Expressão.
Ceilândia é Beth e Lili Confecções.
É a Feira do Atacadão.
É o Ruas, Ceilândia.
Ceilândia é a Guariroba e a Expansão.
Ceilândia é o Setor O e o Setor P.
Ceilândia é Ceilondres.
Ceilândia é a Feira do Rolo e a Feira da Periquita.
Ceilândia é a QNN (Quê-Nada-Nada) e a QNM (Quê-Nada-Maria).
Ceilândia é o GOG e o Japão.
Ceilândia é a Vila do Iapi, o Morro do Querosene, a Placa da Mercedes, o Curral das Éguas, o Morro do Urubu, a Vila Esperança, a Vila Tenório.
Ceilândia é a Avenida Hélio Prates e a Praça do Cidadão.
Ceilândia é do skate e do forró.
Ceilândia era do Ceilambódromo.
É do São João do Cerrado, Ceilândia.
Ceilândia é Branco sai, preto fica.
Ceilândia é o Quarentão.
Ceilândia é do Chico Vigilante e da Maria Abadia.
Ceilândia já teve até um senador, o Eurípedes Camargo.
Ceilândia é da UnB.
É da biloca e da pipa, Ceilândia.
É do grafite e do poema urbano.
Ceilândia é do Jevan, a memória viva da cidade.
É do Breguêdo, artista plástico que retrata os candangos ceilandenses.
Ceilândia é Sol Nascente, o Pôr do Sol. É sol para quem procura.
Ceilândia é o mocotó da dona Galega e os mocotós de todas as cozinheiras da feira.
Ceilândia é o PF devorado antes das dez da manhã.
Ceilândia tem sustância.
Ceilândia é Niemeyer e é Carlos Drummond de Andrade.
Ceilândia, caro poeta, há muito não é mais uma favela, mas continua a abrigar favelados.
Generosa, Ceilândia.
Ceilândia é incansável.
Dos Incansáveis de Ceilândia.

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