Cidades

Moradores se dividem quanto a memorial para celebrar João Goulart

Pracinhas alegam que o terreno, no Eixo Monumental, já havia sido destinado a uma homenagem a ex-combatentes da FEB

postado em 30/03/2015 07:02
Cerca de uma semana após os preparativos para as obras do Memorial Liberdade e Democracia Presidente João Goulart começarem, entre o Memorial JK e a Catedral Rainha da Paz, a polêmica em torno da edificação tem dividido moradores, órgãos governamentais e representantes da sociedade civil organizada. Quem é a favor defende que o monumento, idealizado por Oscar Niemeyer, será mais uma opção cultural para os brasilienses e ajudará a preservar a história brasileira. O GDF cedeu o terreno ao empreendimento em 2013. Uma das justificativas de quem discorda, no entanto, é que o espaço de 3 mil metros já tinha sido destinado à construção de um memorial para ex-combatentes da Força Expedicionária Brasileira (FEB). Para 12 de abril, está sendo planejado um protesto contra a iniciativa, com a participação dos veteranos e de outros apoiadores da causa.

Trabalhadores começaram a fechar a área prevista para receber a obra, entre o Memorial JK e a Catedral Rainha da Paz: até quatro anos de construção

O presidente do Clube dos Pioneiros, Roosevelt Dias Beltrão, é um dos que estão à frente da manifestação. ;Queremos que os tapumes que foram colocados no Eixo Monumental sejam retirados. Esse lote pertence aos pracinhas;, afirma. Ele informou, ainda, que se reunirá hoje com o Comandante Militar do Planalto, Racine Bezerra Lima Filho, para discutir o que pode ser feito a respeito do memorial. O ex-secretário de Cultura do Distrito Federal Silvestre Gorgulho também é contra a obra. ;Eu ouvi, do próprio Niemeyer, que a ideia era construir o monumento na cidade onde Jango nasceu, Bagé (RS), e não em Brasília. É um absurdo;, afirma.



A polêmica é grande, mas, ao que tudo indica, a construção tem tudo para ser concretizada sem grandes empecilhos. O órgão responsável por levantar a verba necessária para as obras é o Instituto João Goulart. Um dos instrumentos para a arrecadação é a Lei de Incentivo à Cultura. De acordo com a secretária-geral da entidade, Verônica Fialho, o projeto está em tramitação há sete anos e seguiu todos os devidos procedimentos legais. ;A iniciativa foi aprovada por todos os órgãos competentes e, se o GDF entendeu que o memorial é culturalmente viável, não há por que criticar;, diz ela.



O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) aguarda a apresentação do projeto para estudar se está dentro das regras de tombamento. A documentação necessária também foi entregue à Administração de Brasília durante o governo anterior e está em fase de análise, mas não há sinais de irregularidade. Caso tudo seja aprovado, a previsão é de que o memorial seja erguido em até quatro anos.

Entre arquitetos e urbanistas, o posicionamento tende a ser contra o monumento. ;Acho o memorial um absurdo. João Goulart não fez nada por Brasília e não se justifica fazer um monumento em sua homenagem no centro da cidade;, defende o arquiteto Carlos Magalhães, um dos maiores especialistas nas obras de Niemeyer.

Na quarta-feira, ele se reúne com o presidente do Clube dos Pioneiros para definir as próximas ações. Para a arquiteta Laila Mackenzie, integrante do grupo Urbanistas por Brasília, a obra também não se justifica. ;No momento de crise em que estamos vivendo, a construção de um novo monumento não deveria ser prioridade. Ainda que a construção seja custeada pelo Instituto João Goulart, nada garante que custos de manutenção não acabem caindo nas mãos do governo também;, diz.

Debate nas ruas
As opiniões de moradores da capital a respeito do memorial também são variadas (Veja Povo fala). Os amigos André Victor Dias, 17 anos, e Antônio Marcos Ferreira, 38, vão com frequência ao Eixo Monumental andar de bicicleta. Ao passar pelos tapumes onde será erguida a edificação, tiveram opiniões diferentes sobre o monumento. ;Eu sou a favor da obra. Será mais uma atração para os brasilienses e outra bela obra para se admirar;, conta André, morador do Cruzeiro há 3 anos. Ele já visitou vários museus da capital e acha que é um ótimo passeio.

O colega do estudante, no entanto, tem outro ponto de vista sobre a questão. Para Antônio, morador da Estrutural e encarregado de setor em um supermercado, a construção não teria muito para acrescentar ao cenário cultural da população. ;Tem outro memorial bem ao lado e erguer mais um seria um gasto de espaço. Acho que os moradores do Plano Piloto já contam com suficientes opções de museus e não é necessário mais um;, argumenta.

Povo fala

Você é a favor ou contra a construção do Memorial de João Goulart em Brasília?

José Ângelo Manchine,
48 anos, servidor público
e morador da Asa Norte

;Sou a favor. Acho que o João Goulart faz parte da história do país e tem o que acrescentar para a cultura da capital.;

Wenderson Mota,
36 anos, administrador
e morador do Sudoeste

;Novas opções culturais são sempre bem-vindas, mas acho que a escolha de um memorial para João Goulart em Brasília precisa ser mais bem justificada.;

Lívia Pineli,
35 anos, professora
e moradora do Cruzeiro

;Eu não concordo. Um memorial para João Goulart representa apenas uma ideologia e um ponto de vista parcial, e não a história brasileira de forma universal.;

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