Cidades

Nos 55 anos da capital, estudo propõe reflexão por uma cidade melhor

Especialistas apontam que Brasília pode melhorar vários índices para a vida dos cidadãos em um futuro próximo, como a mobilidade urbana e a habitação, mas são necessárias políticas públicas e mudanças inteligentes

Isa Stacciarini, Flávia Maia
postado em 21/04/2015 09:03
O trânsito é um dos pontos que precisam melhorar na capital federal

O sonho de Dom Bosco concretizou-se, cresceu e já passa de meio século de existência. Mas a expansão da capital também trouxe problemas, semelhantes a qualquer grande região do país. O Distrito Federal enfrenta hoje deficit habitacional, crise econômica, trânsito caótico e níveis muito baixos do Lago Paranoá. Não é preciso cálculos ou estudos para enxergar que em 2020 os índices serão outros. Melhores ou estagnados, maiores ou estabilizados, o que importa é que as visões otimistas demandam políticas públicas estruturadas, investimentos, aplicações e mudanças inteligentes. É a avaliação de especialistas que estão de olho em um futuro não tão distante.

[SAIBAMAIS]O estudo feito pela empresa de consultoria Macroplan Prospectiva Estratégia & Gestão faz uma análise sobre os 55 anos da capital do país. Entre os destaques para o que temos de melhor, estão as maiores escolaridade média da população adulta, renda domiciliar per capita (R$ 1.849) e acesso à internet e à telefonia celular. Em contrapartida, a empresa cita as altas taxas de homicídios (38,9 para cada grupo de mil habitantes) e a queda da qualidade do ensino com relação a outras unidades da Federação como pontos a serem melhorados. ;Um caso bastante exemplar: Brasília não cai nas taxas de educação, mas os índices têm se mantido parados. Comparado ao DF, Goiás, por exemplo, teve melhor desempenho nos últimos anos e está ascendendo;, explica Gustado Morelli, diretor associado da Macroplan.

Especialistas apontam que Brasília pode melhorar vários índices para a vida dos cidadãos em um futuro próximo, como a mobilidade urbana e a habitação, mas são necessárias políticas públicas e mudanças inteligentesO levantamento mostra que os governantes precisam recuperar a capacidade de investimento ; hoje dependentes de operações de crédito ; e avançar na profissionalização da gestão a fim de entregar serviço público de qualidade. ;A cidade tem renda domiciliar alta e bom nível de escolaridade. Mas carrega o desafio simultâneo de ajustar a máquina para começar a produzir os resultados;, afirma Morelli.

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Segundo a pesquisa, com o aumento populacional, a capital federal apresenta problemas urbanos crescentes. Além da criminalidade, destacam-se a piora na mobilidade urbana e o aumento do deficit habitacional ; o terceiro maior do país em termos percentuais (16,2%), atrás apenas de Acre e de Mato Grosso. Além disso, o estudo mostra que o DF sustenta a maior desigualdade de renda das unidades da Federação.

De acordo com o professor do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília (UnB) Frederico de Holanda, as tendências para o desenvolvimento de Brasília são de estruturas dispersas, custo de vida alto e pouco investimento em mobilidade urbana. ;Vamos ter uma política perversa, com a expulsão dos pobres cada vez mais para a periferia mantendo grandes áreas sob especulação imobiliária;, prevê.

Com relação ao trânsito, o especialista também não vê uma solução sustentável. ;A previsão é de aumento de espaço para os carros. E não se fala em um transporte de massa decente, como, por exemplo, uma linha de metrô cruzada. As exceções são vozes isoladas.;

Projeções

POPULAÇÃO
Daqui a cinco anos, quando Brasília se tornar uma sexagenária, a população da capital do país terá passado dos 3 milhões de habitantes. Serão 551 pessoas para cada quilômetro quadrado. O território total do DF é de 5.779,999 quilômetros quadrados, a menor unidade da Federação. Os números foram calculados pelo Correio a partir de uma pesquisa feita pelo Conselho Federal de Economia (Cofecon) e pelo Instituto Brasiliense de Estudos da Economia Regional (Ibrase), divulgada em julho de 2012. O estudo revela que, por ano, a capital do país tem acréscimo de 2,28% de pessoas. Assim, seguindo a taxa da última década, serão 3,19 milhões de moradores em 2020. O que significa um acréscimo de 337,6 mil pessoas nos próximos cinco anos. O DF tem 2,85 milhões de habitantes, segundo o IBGE.

HABITAÇÃO
Com tanta gente nova em território brasiliense, as políticas urbana e habitacional do Distrito Federal devem, obrigatoriamente, se desenvolver. Isso significa completar os núcleos urbanos, principalmente, de regiões do Setor Oeste do quadrilátero, de Ceilândia ao Gama. A projeção do deficit de moradias no Distrito Federal, feito pela Companhia de Desenvolvimento Habitacional do DF (Codhab), vai até 2018. Segundo os dados, daqui a três anos, haverá necessidade de pelo menos 180 mil unidades habitacionais. O secretário de Gestão do Território e Habitação (Segeth), Thiago de Andrade, esclarece que 60% do deficit habitacional de Brasília ocorre pelos altos valores do aluguel, pela habitação precária e pela moradia instável.

VOCAÇÃO ECONÔMICA
Com a terceira maior taxa de desemprego entre as regiões metropolitanas brasileiras e com dificuldade de aumentar a arrecadação tributária, especialistas advertem que a capital precisa, de maneira emergencial, diversificar a matriz produtiva, ainda tão dependente da administração pública. A boa localização geográfica, a alta qualificação de boa parte da mão de obra e a característica administrativa levam a cidade para vários caminhos produtivos, quase todos ligados à indústria do conhecimento, como tecnologia da informação, biotecnologia, indústria de mecânica de precisão, bolsa de commodities agrícolas, fundos de previdência complementar e polo logístico. O índice mais recente do Produto Interno Bruto do Distrito Federal foi calculado em R$ 171,236 bilhões, sendo que 55,2% saem do setor público.

MEIO AMBIENTE
O abastecimento de água é um dos grandes desafios para Brasília. Ao contrário do que ocorre em outros unidades da Federação, especialistas acreditam na melhoria da gestão dos recursos hídricos do Distrito Federal, desde que sejam elaborados critérios para o uso e a ocupação do solo. O presidente do Comitê de Bacia Hidrográfica Paranoá (CBH) e pesquisador da Embrapa, Jorge Werneck, espera que, em 2020, os sistemas de abastecimento da Companhia de Saneamento Ambiental do DF (Caesb) para o Lago Paranoá estejam em operação, minimizando a falta de água para os próximos 20 anos. O espelho d;água também vai continuar como ponto de diversão. Segundo a empresa, 90% da área superficial do reservatório é adequada para recreação.

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