Cidades

Após aposentadoria de Cícero, Correio conta histórias de garçons da cidade

Os outros profissionais da cidade que conquistaram os clientes com a simpatia, o profissionalismo e uma cerveja gelada sempre a postos

postado em 05/07/2015 08:04
Antônio Amadeu Sousa Madeira, garçom do restaurante Libanus
São Cíceros, Paulos, Antônios, Josés que ganham apelidos variados. Com bandeja na mão ; escudo e espada do garçom ;, tornam-se chefia, parceiro, amigo, campeão. Infantaria do exército da boemia, eles fazem da noite a batalha diária e a conquista de uma vida. Servem mesas, recolhem pratos e copos, acompanham o desafio de fechar a conta proporcional. Postam-se como profissionais em guarda junto à multidão descontraída, comprometida com a diversão. A discrição que lhes é recomendada faz deles a cara e a marca de bares e restaurantes da cidade. Estão na linha de frente, em contato direto com o cliente, e são o diferencial no sucesso e no fracasso de um estabelecimento.

[SAIBAMAIS]Atenção é fundamental ao bom garçom, segundo definição de quem está na profissão há três décadas. Antônio Amadeu Sousa Madeira, 65 anos, atua no Libanu;s, na Asa Sul, desde os idos de 1990. Como atende uma média de 80 pessoas por dia, precisa contar com a boa memória para oferecer atendimento de qualidade. ;Temos os pratos executivos, por exemplo. Eles vêm montados, mas é comum o cliente pedir para substituir algumas guarnições. Se o garçom não estiver atento, ele se perde e traz o prato errado;, cita. Madeira, como é conhecido no restaurante, deixou Sobral, no Ceará, e enfrentou os primeiros tempos da nova capital. ;Meu irmão tinha vindo antes e me ligava dizendo para eu vir, que aqui tinha muito emprego;, lembra.

Veio como tantos de sua geração. ;Com aquela maleta aqui do lado, no braço, sabe?;, brinca. Em 1970, começou como funcionário de serviços gerais na piscina do Hotel Nacional. ;Dormia no alojamento do hotel, na Vila Planalto, em um papelão jogado no chão, debaixo do beliche de meu irmão. Não tinha cama, então eu forrava o chão e me cobria com um lençol. Passei 20 dias assim até vagar uma cama;, conta. Com um ano na empresa, passou a atuar na copa. Foram três anos de bastidores até que fosse para o salão, onde servia diretamente os hóspedes. ;Aí ficou melhor, porque passei a receber gorjetas;, explica. Depois de sete anos no hotel, trocou de emprego e foi para a Churrascaria do Lago. ;Ali, tinha que ser forte mesmo. O movimento era intenso. Era desmontar uma mesa que logo chegavam três ônibus com clientes. Tanto que fiquei quatro anos e tive que sair, senão não aguentaria;, explica. Ainda passou pelo Arabeske até chegar ao árabe da 206 Sul.

Por fazer do corpo o escudo e das mãos e pernas o instrumento de ofício, o garçom tem a resistência física testada no dia a dia. ;A primeira complicação são as veias, por ficar o tempo todo de pé;, explica. Mesmo com todas as provações, Madeira garante não sentir desconfortos. ;Eu me aposento daqui a dois meses, com saúde e sem dores. E olha que se aposentar em boteco é como jogar pedra na lua e acertar;, compara. Madeira encerra a trajetória com satisfação. ;É uma batalha. Não pense que é nada fácil, mas me sinto muito feliz. É o meu sustento e, com ele, formei três filhas;, diz, com largo sorriso.

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