Cidades

Falta de bicicletários e de paraciclos motiva ação de bandidos

Criada há dois anos, lei que determina a instalação desses locais em estabelecimentos do DF ainda aguarda regulamentação. Enquanto isso, ciclistas amargam prejuízos

postado em 05/08/2015 06:05

Na Rodoviária do Plano Piloto, até há um bicicletário, mas os suportes não têm proteção contra o Sol

Quando guardou a bicicleta nos paraciclos do Instituto Central de Ciências Norte (ICC) da Universidade de Brasília (UnB) para assistir a mais uma aula, o estudante Tales Ferreira, 23 anos, não imaginava que voltaria para casa a pé. ;Eram 14h quando cheguei. Assim que a aula acabou, por volta das 16h30, voltei para buscá-la e já não estava mais lá;, lembra o jovem sobre o furto do seu meio de transporte. Para ele, a falta de um local mais seguro para guardar bicicletas na instituição foi um dos principais motivos para o crime. ;Um bicicletário de verdade precisa de segurança. O local onde guardamos as bicicletas no ICC fica distante do campo de visão de qualquer funcionário. Nem todos os professores deixam que você as leve para a sala de aula. Acaba sendo um risco.;

Não é somente na universidade que manter as magrelas longe da ação de bandidos tem sido missão cada vez mais difícil. Apesar de aprovada em 2012, a Lei n; 4.800, que determina a instalação de bicicletários e paraciclos em diversos estabelecimentos do DF (leia O que diz a lei), ainda não tem uma regulamentação definida. De acordo com informações da Secretaria de Mobilidade (Semob), sem algumas diretrizes ; que envolvem aspectos como quantidade de vagas e com quem fica a responsabilidade pela segurança das bicicletas ;, fica impossível garantir a fiscalização necessária. Ainda assim, a pasta assegura que apresentou à Novacap um edital com o estudo de demanda de paraciclos, e aguarda recurso para implementá-los em áreas públicas. A previsão é que 7 mil deles sejam instalados em 26 cidades do DF.

A coordenadora geral da ONG Rodas da Paz, Renata Florentino, afirma que essa medida já é um avanço e um começo para que os bicicletários possam ser instalados de forma correta. ;Cada um tem características próprias. O que é colocado em locais de trabalho deve oferecer suportes, como chuveiro para os funcionários. Os de condomínios têm regras de uso comum exclusivas. E os de espaços públicos precisam ser instalados em locais seguros.;

Segundo Renata, a segurança em bicicletários públicos deve ser compartilhada. Em relação ao poder público, esses espaços precisam se localizar em áreas de grande visibilidade, com sinalização indicativa e, de preferência, com cobertura. ;Já os ciclistas devem ficar atentos à forma como prendem a bicicleta, sempre fazendo com que a corrente pegue tanto o pneu quanto o quadro. É preciso também investir na trava: ela deve custar entre 10% e 20% do valor da bike.;

Mesmo com todos esses cuidados, o servidor público Marcelo André Júnior, 39, teve um prejuízo de R$ 7 mil quando sua bicicleta foi roubada no bicicletário do antigo prédio onde morava, no Guará I. ;Ela ficava guardada no meu apartamento, mas tive que tirá-la durante uma reforma. Mesmo com o bicicletário tendo duas grades e a bicicleta, travas, eles conseguiram levar a minha e a da minha filha.; Um ano e meio depois do crime, Marcelo ainda não conseguiu comprar outra bike da mesma qualidade. Para ele, que pedalava tanto em trilhas quanto para ir ao trabalho, a insegurança está presente até mesmo quando a bike está guardada. ;Pretendo comprar uma nova, mas é um risco.;

Segurança
A discussão não fica apenas na vulnerabilidade desses espaços. A pesquisa Debaixo do Bloco: os Pilotis, da arquiteta Cristina de Oliveira, professora da UnB, constatou que 56% dos quase 400 blocos analisados nas asas Sul e Norte ainda não têm bicicletários. De acordo com a Agência de Fiscalização do Distrito Federal (Agefis), no próximo mês, será realizada uma fiscalização que vai abordar todas as áreas tombadas e os bens públicos do DF. A partir dela, serão feitas ações efetivas para cada caso especifico de alteração no projeto original da cidade. ;No exemplo dos bicicletários, a Agefis esclarece que cada caso deve ser analisando, pois alguns têm autorização da Administração Regional para sua permanência. As ações de rotina continuam no Plano Piloto até o inicio da operação;, explica, em nota.

Muitos síndicos não querem esperar as decisões do órgão. José Nazareno Farias Martins, que chefia um bloco na Quadra 114 Norte, garante que a obra de mudança do bicicletário está programada. Atualmente, elas são guardadas na lateral do prédio. Porém, duas vagas da garagem serão usadas para mudar a situação. ;O bandido sabe que há bicicletas, mas elas ficam mais protegidas na garagem.; Para Nazareno, que é membro do Sindicondomínio, a alteração exige que os porteiros fiquem mais atentos e os ciclistas respeitem as regras.

;O porteiro deve ficar de olho sempre que um carro chega na garagem, para evitar que algum estranho entre. Mas cada condomínio deve estabelecer suas diretrizes.; Outras regras determinadas no bloco é de que nenhum visitante poderá guardar as bikes na garagem e todas elas devem ser identificadas com o número do apartamento. Nazareno afirma que as medidas foram aceitas por todos os condôminos, principalmente porque, hoje em dia, muitos deles usam as bicicletas como meio de transporte. ;E investem muito nisso. Há alguns modelos aqui que custam mais de R$ 8 mil.;

Levantamento
De acordo com a Rodas da Paz, há 106 pontos em que os ciclistas podem guardar as bicicletas no DF, entre paraciclos e bicicletários. Nilza Silva de Oliveira, vendedora de 37 anos, guarda a sua todos os dias na Feira do Guará. Ciclista frequente, ela reclama que ainda são poucos os locais, diante da quantidade de usuários. ;Nunca tive problema aqui na feira, mas uso bicicleta para tudo, e não é fácil encontrar um local para guardá-la.; Na Rodoviária do Plano Piloto, os suportes não têm proteção contra o Sol, mesmo que estejam em um local visível.

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