Cidades

Jovem que devolveu carteira com R$ 1,6 mil é homenageado em escola

Diretora elogiou a atitude do aluno e entregou a ele uma medalha de honra ao mérito

postado em 20/08/2015 09:43
Um singelo gesto de honestidade virou de ponta-cabeça a rotina do estudante Lucas Yuri Marques, 16 anos. Há pouco mais de uma semana, em 10 de agosto, o rapaz ia para a aula, no Centro de Ensino Fundamental (CEF) 312, em Samambaia Sul, quando encontrou uma carteira jogada entre dois sacos de lixo. Ao abri-la, ficou em choque: havia R$ 1,6 mil dentro. Os colegas que estavam com ele o incentivaram a ficar com o dinheiro, mas Lucas não teve dúvidas sobre o que deveria fazer. Mesmo com poucas pistas, encontrou o dono do objeto e devolveu a quantia encontrada. Além de lhe render a gratidão do proprietário, o bom caráter do garoto ecoou na escola onde estuda. Ontem, foi homenageado pela diretora do colégio, que concedeu ao estudante uma medalha de honra ao mérito.

Lucas Yuri (E) se emocionou ao receber a premiação

;Eu estava com dois amigos e minha irmã indo para a escola quando vi a carteira. Ao encontrar o dinheiro, meus amigos ficaram empolgados e falaram em dividir o valor, mas eu sabia que estaria errado;, afirma Lucas. Durante a aula, o rapaz ficou inquieto, pensando em como localizar o dono do objeto. Dentro, havia apenas a nota fiscal de uma oficina de carros, com um nome. ;Decidi pedir ajuda a uma professora, porque não sabia o que fazer;, relata o garoto. A coordenadora do colégio, Rivânia de Araújo, 50 anos, ficou emocionada com a integridade do rapaz. ;Fiquei feliz que ele confiou em mim para auxiliá-lo. De imediato, fui à oficina e pedi o contato do suposto proprietário do dinheiro. Quando o encontrei, no dia seguinte, fiz algumas perguntas para me certificar de que era ele mesmo e decidi apresentá-lo a Lucas;, conta a professora.

O dono da carteira é o pedreiro aposentado Benício Eleutério Sobrinho, 66 anos, morador de Samambaia. Ele saía para levar a mulher ao Hospital Universitário de Brasília (HUB), às 6h, quando, sem querer, jogou o objeto fora. ;Senti falta horas depois e me desesperei. Achei que teria deixado no carro, mas não estava lá. Quando voltei para casa, o caminhão de lixo já tinha levado tudo embora;, relata. O dinheiro ; correspondente a todo o benefício que recebe ; seria destinado a pagar contas da casa, abastecer o carro e comprar remédios. ;Fiquei aliviado quando me devolveram a carteira. Enquanto tantos políticos roubam por aí, Lucas foi um exemplo. Ele teve a atitude de um adulto, e não de uma criança;, elogia.

Orgulho

Em meio ao barulho do intervalo do CEF 312, a diretora da unidade, Elizabeth Ferreira, 42 anos, chama os alunos pelo microfone instalado no pátio. ;O caso de Lucas saiu em vários jornais, mas também é importante trabalhar a parte pedagógica no colégio e mostrar o gesto que ele teve para os outros estudantes;, explica. Ao som de aplausos e gritos dos colegas de sala, Lucas é premiado com uma medalha brilhante de honra ao mérito, pendurada numa fita azul. A mãe do garoto e a coordenadora Rivânia recebem a mesma condecoração. A diretora passa o microfone ao rapaz, convidando-o a dar um discurso, mas ele fica tímido. ;Se pudesse voltar atrás, faria do mesmo jeito?;, pergunta Elizabeth. ;Claro;, responde Lucas.

Ao ver o filho calmo e humilde contando sua história, os olhos da ex-profissional de marketing Cíntia Marques da Silva ficam marejados. No dia em que Lucas encontrou a carteira com os R$ 1,6 mil, ela tinha sido demitida. O padrasto do menino também está desempregado. Além de Lucas, o casal cuida de três filhos. ;Eu moro no Mangueiral e ele, em Samambaia, com a avó paterna. Fui encontrá-lo na terça-feira, para contar sobre o trabalho, e ele me disse do dinheiro. Contou que os amigos o xingaram, chamaram ele de burro por querer devolver o valor, mas ele não ligou;, relata a mãe. Depois de voltar para casa, ela mandou uma mensagem pelo WhatsApp ao rapaz, para confortá-lo: ;Tenho muito orgulho de você... É por essas boas atitudes que eu sei que fiz um bom trabalho... Obrigada, filho;.

Além de estudar de manhã, Lucas trabalha como auxiliar administrativo à tarde, pelo programa de Aprendiz Legal. No tempo livre, ele se dedica aos jogos de videogame favoritos. ;Ainda não sei qual carreira quero seguir, mas já pensei em ser militar e até jornalista;, conta. Os familiares não dispensam elogios à honestidade do garoto. ;Fiquei muito orgulhosa dele. Ele estava muito preocupado em encontrar o dono da carteira e só ficou aliviado quando conseguiu;, diz a avó de Lucas, a dona de casa Josefa dos Santos Bezerra, 55 anos. Uma das irmãs do jovem, a estudante Maria Regina Marques, 14, brinca: ;Geralmente, irmãos mais velhos são chatos, mas ele sempre teve um coração bom.;

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