Cidades

Personagem histórico da UnB, Chiquinho corre risco de ser retirado do ICC

Como forma de impedir a retirada de Chiquinho do local, alunos, professores e representantes da sociedade civil organizada criaram uma página no Facebook que pede a permanência dele no ponto

Isa Stacciarini
postado em 11/11/2015 17:54
Página em apoio a permanência de Chiquinho no Minhocão da UnB
Um personagem ícone da Universidade de Brasília (UnB) está ameaçado de perder o quiosque ocupado há 40 anos no Instituto Central de Ciências (ICC) Norte, mais conhecido como Minhocão. Francisco Joaquim de Carvalho, 56 anos, o Chiquinho, recebeu uma visita do reitor Ivan Camargo no fim da manhã de terça-feira (10/11) que questionou a possibilidade dele ser realocado para outro espaço. O livreiro que desde 1989 toca o próprio negócio no câmpus Darcy Ribeiro ficou abalado com a notícia. Como forma de impedir a retirada de Chiquinho do local, alunos, professores e representantes da sociedade civil organizada criaram uma página no Facebook que pede a permanência dele no ponto.

Chiquinho é conhecido pela comunidade da UnB e moradores de Brasíla em geral. Tem, na ponta da língua, os nomes dos títulos mais requisitados de diversas áreas. Mas, na tarde desta quarta-feira (11/11) ele não escondia a tristeza de poder ser retirado de onde construiu a própria história. ;O reitor veio conversar comigo, porque tem tempo que está tendo a mediação para a gente sair desse espaço. Mas, para mim, no sentido lato da palavra, eu não queria ir embora daqui não. Se isso acontecesse representaria todo o descoroamento da minha história;, lamentou.

A página ;Chico fica!” tinha até às 17h30 desta quarta-feira (11/11) 698 curtidas. Chiquinho não é adepto a tecnologia, mas teve conhecimento da criação do grupo no Facebook por alunos e pessoas que frequentam a UnB. ;O reitor teve uma conversa amistosa comigo, não houve pressão, mas ele falou da possibilidade de eu sair daqui. No meu sentimento mais profundo eu gostaria muito de permanecer;, destacou.

Para o livreiro, a mobilização pela permanência dele no espaço significa solidariedade. ;Para mim, tudo isso representa um grande reconhecimento e parte disso são pelas amizades de todo o tempo de serviço. Se eu saísse daqui seria uma tragédia do século XXI;, considerou. ;Eu perderia todo um trabalho de serviço a sociedade acadêmica;, acrescentou
O assessor da reitoria, professor Ebnezer Nogueira, explicou que há três anos, em outra administração, o Tribunal de Contas da União (TCU) considerou que o ICC Norte e Sul não era o local apropriado para a atividade comercial. Na época três Módulos de Apoio e Serviços Comunitários (Mascs) chegaram a ser construídos: um próximo a Ala Sul, o outro perto da Ala Norte e o terceiro próximo a Faculdade de Direito. "Os órgãos de controle entenderam que se utilizou dinheiro público para essas contruções e o TCU pede que os comércios sejam instalados nesses locais. Tanto o Chiquinho como outros permissionários estão no ICC Norte e Sul há mais de 20 anos. O próprio reitor não pode mais renovar os contratos deles", alegou.
Segundo Nogueira, os permissionários que trabalham com alimentação têm um agravante em razão da inspeção da Vigilância Sanitária. "O Chiquinho é uma pessoa que conhecemos há anos e o reitor conversou com ele pessoalmente para tentar colocá-lo em um dos Mascs, porque uma vez que todos estiverem ocupados ele não terá como ir. Os órgãos de controle exigem que todos os permissionários do ICC Norte e Sul fechem. Estamos em um impasse", ressaltou. "Tentamos negociar o ano todo, mas no Brasil as pessoas acham que os espaço público é deles após alguns anos ocupado", acrescentou.
Chiquinho da UnB está no quiosque do ICC Norte há 40 anos

Manifestação
Em abril deste ano estudantes realizaram um protesto contra a retirada dos comerciantes do ICC Norte e Sul. A reitoria defende o realocamento das lojas nos Módulos de Apoio e Serviços Comunitários (Mascs). Professores também saíram a favor do comércio.
A comunidade acadêmica argumenta que a saída dos comerciantes do Minhocão, como é conhecido o local, prejudica o funcionamento da instituição. Lojistas temem a queda no movimento.

Na época a UnB alegou que a ação faz parte do plano de revitalização do ICC. A intenção é transformar o espaço em um local exclusivamente acadêmico.

História

Chiquinho veio do Piauí para Brasília aos 8 anos. Em 1975, depois de trabalhar como engraxate, virou jornaleiro ; chegou a ser conhecido como o melhor vendedor de jornal de Sobradinho. Trabalhou em uma banca na Universidade Brasília e, mais tarde, em uma livraria do Conic. Em 1989 se instalou de vez no Minhocão. Ao longo dos anos, teve muitos clientes ilustres e conheceu autores e intelectuais de peso, como José Saramago.
Ato
Alunos agendaram um abraço coletivo na livraria, ao meio-dia de 24 de novembro. As pessoas que quiserem participar, poderão assinar também um abaixo-assinado pela permanência dele.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação