Plácido Fernandes
postado em 11/01/2016 22:17
A denúncia de um estupro em plena festa de réveillon no Setor de Clubes Norte, em Brasília, incendiou discussões na internet. Uma jovem de 24 anos acusa um segurança, contratado para proteger as pessoas que se divertiam no local, de tê-la violentado. Moradora de Santa Maria, que chegou ao local de ônibus, com dois amigos, ela diz que havia open bar, que tinha bebido bastante -- isso pode ser considerado normal numa ocasião dessas? -- e que estaria completamente vulnerável quando foi abordada e coagida a sair da festa. "Realmente não entendi o motivo e, mesmo alcoolizada, só atendi por ser uma figura de autoridade no local", descreveu em rede social. No estacionamento, ela relata, ocorreria o crime sexual: "Ali, ele me virou de costas e, sem a menor cerimônia, me estuprou". E por que não gritou, pediu socorro? É a pergunta que todos se fazem. "Tive medo, não reagi (poderia ter sido pior se reagisse, eu poderia apanhar, poderia demorar mais...), só queria que acabasse logo", escreveu a estudante da UnB em rede social.
Em seguida, o segurança trouxe um colega, que também deveria proteger aquela jovem na festa, para fazer sexo com ela. "Não consigo descrever o que senti na hora", afirmou a jovem. Em entrevista ao Correio Braziliense, o acusado admite a relação sexual, admite que chamou o colega, mas conta que tudo teria sido feito de forma consensual. "Ela veio até mim e se esfregou em mim. Passei a mão nela." Mais adiante, ele diz: "Aí perguntei para ela se queria ir comigo até o lado de fora da festa (...). Fizemos sexo por cerca de 10 minutos. Foi coisa rápida."
Chamados a avaliar o caso com base nas informações disponíveis, uma doutora em direito pela UnB e um experiente professor de direito e juiz aposentado não hesitaram em classificar o acontecido como estupro. A conclusão a que chegaram é uma obviedade para qualquer pessoa de bom senso. A agressão sexual -- mesmo que laudo da polícia diga o contrário -- transparece no relato tanto da acusadora quanto do acusado. Vou além: ainda que a jovem -- e não parece ser o caso -- tivesse ficado nua na festa, se esfregado nele e implorado por sexo, naquelas circunstâncias o caso implicaria estupro. E com agravante, pois ele estava ali para garantir a segurança dela.
A Justiça pode decidir o contrário? Pode. Afinal, o machismo impera no Brasil. É quase regra. E pior: tanto entre homens quanto entre mulheres. Há pessoas que ainda vivem com a mesma mentalidade de séculos passados. "Ela procurou, ela se ofereceu, ela quis, ela mereceu", dizem. Há juízes, promotores, delegados, policiais que pensam assim? Certamente. São indivíduos que não conseguem entender que os tempos são outros. O mundo evolui apesar da Casa Grande, Kim Jong-un, Estado Islâmico e linchadores de redes sociais. É preciso enxergar a realidade com outra cabeça.