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Segundo levantamento, 99% das pousadas em Pirenópolis são irregulares

A maioria das hospedarias instaladas na área tombada da cidade goiana não obedecem regras básicas, como taxa de ocupação do terreno ou disponibilidade de vagas de estacionamento

Otávio Augusto, Renato Alves
postado em 12/01/2016 06:05

A Secretaria de Meio Ambiente municipal notificou 68 pousadas. Outras 50 vão ser vistoriadas até o fim da semana

Em guerra contra a construção dos dois maiores empreendimentos imobiliários da cidade, os donos das pousadas de Pirenópolis (GO) passaram de investigadores a investigados. Após apontarem irregularidades nos projetos dos edifícios, que consideram uma ameaça ao centro histórico do município com 280 anos e distante 140km de Brasília, os pequenos empresários enfrentam a fiscalização da prefeitura. Em um levantamento feito no fim do ano passado, o poder executivo encontrou só dois (0,9%) estabelecimentos da rede hoteleira pirenopolina com licenciamento ambiental. Há 220 pousadas e hotéis na localidade.


No pente-fino, a prefeitura de Pirenópolis constatou ainda que cerca de 90% das hospedarias instaladas na área tombada pelo Instituto Nacional do Patrimônio Histórico e Artístico (Iphan) desobedecem regras básicas, como taxa de ocupação do terreno ou disponibilidade de vagas de estacionamento. A Secretaria de Meio Ambiente notificou 68 pousadas. Outras 50 vão ser vistoriadas até o fim da semana. Caso não se adequem, pousadas e hotéis podem ser fechados.


A mudança na formulação e execução das políticas de uso do solo escancaram as irregularidades e a omissão do poder público. Desde março de 2015, a Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Pirenópolis passou a emitir licenças ambientais e a fiscalizar o processo. Antes, a responsável era da Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos de Goiás (Semarh).


Até então, não havia qualquer informação gerencial. ;Não está sendo fácil. O hábito de construir de qualquer jeito e ficar por isso mesmo é histórico. Os empresários não querem se regularizar e evitam entregar documentos;, reclama o secretário municipal de Meio Ambiente, Arthur Abreu. Passados 70 dias desde as primeiras notificações, só 21 estabelecimentos manifestaram interesse na regularização.


No entanto, há várias brechas nesse processo, o que favorece as irregularidades. Arthur sequer sabe como vai funcionar o monitoramento dos comércios. ;Ainda estamos discutindo com o Iphan os casos do centro histórico. Sobre as áreas de proteção ambiental, o assunto é tratado com o Ministério Público e o Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), porque a maioria está fora do zoneamento urbano da cidade. Vamos traçar um plano para regularização;, explica.


Por enquanto, o Plano Diretor tem sido o argumento do executivo local para as alterações. ;Não tomamos nenhuma medida drástica, mas não está descartada a possibilidade. Vai chegar o ponto de embargarmos as pousadas. Estamos numa discussão para definir os parâmetros de fiscalização. Por exemplo, um dos critérios de regularização é a liberação do Iphan, só que depois ninguém fiscaliza se o projeto realmente seguiu ao documento avaliado pelo órgão. E assim se perpetuam os puxadinhos no fundo dos quintais;, ressalta Arthur. Os prejuízos ultrapassam as questões urbanísticas. ;Há uma grande sonegação de impostos. Não estamos arrecadando nem 10% do que deveríamos com esses comércios. Existe um prejuízo de décadas. Teremos muitas dificuldades, mas vamos organizar o básico.;
Abaixo-assinado

Os planos de expansão da hotelaria em Pirenópolis foram revelados pelo Correio, em novembro. Desde então, mais de 5 mil pessoas assinaram a petição contrária à construção de dois condomínios destinados à moradia e ao turismo. O próximo passo do grupo Piri Sem Time Share, que organiza as mobilizações, é recorrer ao Ministério Público a fim de impedir as obras. Juntos, os dois empreendimentos terão 262 apartamentos. Moradores temem a redução do fluxo de água e de energia, já escassos na cidade de 22 mil habitantes. Segundo denunciam os integrantes do movimento que tenta conter a empreitada, a ruptura do cenário bucólico de ruas e casas antigas ameaça também o meio ambiente, uma vez que os projetos preveem obras em áreas próximas a nascentes e córregos.

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