Cidades

Com paradas mal conservadas, passageiros enfrentam sol e chuva na 040

Os pontos de ônibus também não tem recuo, o que aumenta o risco de acidente e até de atropelamento. Projeto com melhorias não tem data para sair do papel

Camila Curado - Especial para o Correio
postado em 16/02/2016 16:39
Jane se acostumou a enfrentar o descaso e as intempéries: %u201CSempre foi assim%u201D.
Às margens da BR-040, rodovia que corta Valparaíso de Goiás, a telefonista Jane Emanuele, 33 anos, pega o ônibus em direção ao Distrito Federal para trabalhar diariamente. Na parada em que espera a condução para o Gama, a cobertura está destelhada e é preciso enfrentar chuva ou sol por cerca de 40 minutos até conseguir uma vaga no coletivo. Além disso, faz parte da rotina dela atravessar a rodovia, na qual os veículos trafegam sob velocidade mínima de 80 km/h, para chegar até o ponto. ;Sempre foi assim;, lamenta a moradora, que tem 12 anos de vivência na cidade.

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A solução para o problema enfrentada por Jane e diversos passageiros que pegam ônibus no local está nas mãos da Via 040, concessionária responsável pela rodovia desde 2014. Aparentemente, no entanto, para que algo aconteça, a prefeitura do município precisa agir sem autorização da empresa. Foi o que aconteceu há duas semanas, quando o órgão reconstruiu, sem uma parada de ônibus que havia sido destruída após um acidente em 2011.

Chyntia Borges, Secretária Municipal de Desenvolvimento e Infraestrutura Urbana, argumenta que foram entregues documentos à administradora solicitando autorização para reforma. Ela diz que a iniciativa foi tomada pela prefeitura diante da demora da concessionária em iniciar as obras previstas no contrato de concessão, que prevê, segundo ela, a construção de cinco passarelas, reformulação dos pontos de ônibus e dois viadutos de acesso à cidade.

Por outro lado, a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) e a Via 040 negam ter recebido qualquer solicitação ou projeto da prefeitura. O Projeto Fluidez, que prevê a melhoria do tráfego e segurança da via, segundo o órgão regulador, foi entregue pela administradora em 2015, mas passa por reajustes e deverá ser apresentado em aproximadamente 30 dias. Já a concessionária afirma que o documento tramita no órgão desde 2014 a espera de aprovação. Nenhuma das entidades soube dar um prazo para quando o projeto poderá ser posto em prática.

A reportagem contou oito paradas de ônibus na BR 040 sentido Luziânia e 10, sentido Brasília, em um trajeto de 5,6 Km de extensão. Em todas elas foram encontrados problemas, como falta sinalização, cobertura danificada, e a ausência de recuo e baia para que o ônibus pare fora da rodovia. A solução continua no campo das promessas. A Via 040 disse ao Correio que, por meio do Projeto Fluidez, fará uma reforma geral, que conta com a modernização das paradas de ônibus, que terão recuo da margem da rodovia que permite a desaceleração e parada do veículo fora da via expressa, sem atrapalhar o trânsito.

De acordo com a prefeitura, a elaboração da proposta de reforma de 10 paradas localizadas na rodovia foi feita em 2013, mas não pode ser realizada, porque no ano seguinte a concessionária adquiriu o direito de exploração da via . Chyntia explica que o projeto reconstruiria as paradas em estrutura de ferro, e foi vetado por estar fora dos critérios de segurança estabelecidos pela ANTT. Depois disso, ela afirma ter participado de uma série de reuniões com técnicos das duas instituições para a reformulação do plano, e julga ;descortês e desleal; a atitude da ANTT de negar ter recebido os documentos do órgão.

Projeto provisório

Outra vítima do descaso do estado e da empresa é o vigilante Carlos Eduardo do Santos, de 40 anos. Morador de Luziânia há 10 anos, ele considera a proximidade dos pontos de ônibus com o asfalto um perigo de vida para usuários. Na parada reconstruída pela prefeitura, ele diz já ter presenciado alguns acidentes. O local fica em uma curva de descida da via. ;Já vi, mais de uma vez, carro perdendo o controle ali. É um absurdo não ter um recuo, as pessoas ficam praticamente na beira da estrada;, reclama.

Apesar da urgência relatada pelos moradores para a reconstrução dos pontos, o jogo de empurra-empurra se arrasta há pelo menos anos. A ANTT se justifica e garante que isso vai mudar. O órgão explica que um projeto executivo ainda deve ser elaborado para abranger as reformas previstas no contrato de concessão. A Prefeitura Municipal de Valparaíso de Goiás planeja lançar uma campanha para pressionar a administradora e a ANTT.

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