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MP e MPF pedem destituição de comandante da PM de GO, acusado de extermínio

Tenente-coronel escolhido para combater o crime na Região Metropolitana de Goiânia responde a cinco ações penais (quando a denúncia já foi recebida pela Justiça) e cinco inquéritos policiais.

Renato Alves
postado em 08/03/2016 17:48

O tenente-coronel Ricardo Rocha, que assumiu o comando do policiamento da Região Metropolitana de Goiânia há 10 dias, é apontado como autor de mais de 100 mortes em Goiás

O Ministério Público de Goiás (MPGO) e o Ministério Público Federal (MPF) expediram recomendação conjunta ao comandante-geral da Polícia Militar de Goiás, coronel Divino Alves, para que destitua o tenente-coronel Ricardo Rocha Batista do Comando do Policiamento da Capital.

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Procuradores alegam os princípios constitucionais da legalidade, moralidade e eficiência. No documento, assinado pelo promotor de Justiça Giuliano da Silva Lima (da área de controle externo da atividade policial) e pelo procurador da República Mário Lúcio de Avelar, são destacados as ações e os inquéritos policiais a que o tenente-coronel responde em 10 comarcas. São cinco ações penais (quando a denúncia já foi recebida pela Justiça) e cinco inquéritos policiais.

O tenente-coronel Ricardo Rocha, que assumiu o comando do policiamento da Região Metropolitana de Goiânia há 10 dias, é apontado como autor de mais de 100 mortes no estado. Metade das vítimas não tinha ficha criminal.

[SAIBAMAIS]Segundo explicado no documento do MPGO e do MPF, a orientação tem como finalidade ;possibilitar que a função seja exercida por militar que não exponha o Estado de Goiás a eventual novo pedido de federalização (do julgamento de crimes) e que possua plena disponibilidade de tempo ao exercício deste importante mister, não carecendo de, a todo tempo, ver o seu posto sujeito a questionamentos em razão dos diversos procedimentos de natureza criminal nos quais figura como investigado ou acusado;.

;Incentivo à violência policial;

A recomendação também menciona que, ao analisar o Incidente de Deslocamento de Competência (IDC) n; 3, federalizando (transferindo para a Justiça Federal) três procedimentos investigativos que tramitavam na Justiça Estadual em Goiás, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) entendeu haver provas de crimes de graves violações aos direitos humanos cometidos por agentes da Polícia Militar de Goiás, em caso no qual figura como possível autor o tenente-coronel Ricardo Rocha Batista ; essa investigação específica refere-se a fatos ocorridos na comarca de Alvorada do Norte (GO).

;A nomeação do mencionado militar representa um incentivo para excessos e violência policial, já que o indivíduo que ostenta a condição de processado é premiado com exercício de função de patente superior à que ocupa (CPC é cargo de coronel, e não de tenente-coronel);, observa a recomendação.

O documento dos MPGO e do MPF reitera ainda que a própria administração militar inviabiliza a promoção de policiais que se encontram processados, conforme o Decreto Estadual n; 2.464/1985, no artigo 26, inciso II). Quanto à inexistência de condenação criminal transitada em julgado contra o militar, os membros do MP-GO e do MPF salientam que a condição de processado ;já representa a existência de uma análise perfunctória de viabilidade da acusação, tanto assim que, caso não houvesse nenhum respaldo do pleito acusatório, as várias denúncias sequer teriam sido recebidas;.

A recomendação pondera também que o cargo que tem a tarefa de comandar todo o policiamento ostensivo e preventivo na capital reclama operacionalidade, rigor e equilíbrio, além de plena disponibilidade para o exercício da atividade, ;incompatível, portanto, com a defesa pessoal em mais de uma dezena de processos;.

Entre as justificativas que fundamentam a recomendação dos MPs está o fato de o Brasil ser signatário de tratados internacionais que buscam reprimir as violações aos direitos humanos e os crimes contra a humanidade, entre os quais estão incluídos ataques sistemáticos contra a população civil por meio de ações como extermínio e desaparecimento forçado de pessoas.

Ofício ao secretário

Além da recomendação ao comandante da PM, os integrantes do MP-GO e do MPF encaminharam ofício ao secretário de Segurança Pública e Administração Penitenciária, José Eliton Figueiredo Júnior, informando sobre o teor do que foi recomendado. Tanto a recomendação quanto o ofício foram expedidos nesta terça-feira (8/3).

Com informações do MP-GO

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