Cidades

Brasiliense se vale da criatividade e da ousadia para sobreviver à crise

Pechinchar, arriscar promoções, adaptar a lista de compras e cortar o supérfluo são algumas alternativas de sucesso na rotina doméstica e profissional

postado em 27/06/2016 06:00


Na casa da empresária Selma Lopes, 42 anos, o recado foi dado: feijão, só o preto. O grão, que é tido como um dos símbolos da carestia que tomou conta das prateleiras dos supermercados ; o preço subiu 58,6% em um ano ;, não é o único sinal das mudanças que ela teve de fazer para não ser engolida pela recessão econômica. ;O meu filho mais velho só continuou na faculdade porque conseguiu financiamento pelo Fies. O mais novo, que estudou a vida inteira em escola particular, teve de ir neste ano para uma pública. Só assim para continuar;, lamenta.

[SAIBAMAIS]Os sinais da crise se revelam em números. São mais de 11 milhões de desempregados no Brasil, 290 mil deles no Distrito Federal. Além do feijão, o mamão subiu 85,88% nos últimos 12 meses, seguido da batata-inglesa (65,41%), segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). ;O meu custo com combustível também cresceu muito e tive de diminuir o uso do carro. Porém, o que mais gasto atualmente é com educação e saúde;, diz Selma. A saída tem sido procurar caminhos alternativos e criativos.

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Para o autônomo Fábio Sipriano, 49 anos, facilitar o pagamento é a única forma de fazer negócio. Vendedor de roupas, ele mantém promoções para evitar que o cliente troque os produtos dele pelos de shoppings. ;Não acredito que haverá mudança no cenário até, pelo menos, 2018. E isso tornou o cliente ainda mais exigente. Então, tenho de ter ofertas sempre, parcelar no cartão. Mesmo assim, pechincham sempre;, conta.

Tais comportamentos do empresariado e dos consumidores sugerem retrações em índices como o número de inadimplentes. Em maio, a capital federal apresentou queda nessas taxas, em comparação aos primeiros meses do ano. Análise da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) do DF e da SPC Brasil mostra que, apesar de o número de mau pagadores ter subido 3,94% em relação ao mesmo período de 2015, o percentual é menor que nos meses anteriores: 4,65% em abril, 4,14% em março, 3,96% em fevereiro e 4,37% em janeiro.

O número de famílias endividadas segue a tendência: caiu de 728.383 em maio para 719.072 neste mês, atingindo o menor índice em 2016: 77,8%, segundo Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), divulgada pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do DF (Fecomércio).

Dívidas

O presidente da CDL-DF, Álvaro Silveira Júnior, no entanto, sugere cautela na análise desses percentuais. Segundo ele, a melhoria era esperada e aponta para o prenúncio de uma estabilidade que pode ou não gerar uma superação da crise econômica. ;Isso demonstra que a oferta de crédito está mais seletiva. O consumidor tem priorizado o pagamento daquilo que considera extrema necessidade para não ficar endividado;, explica. Esse esforço se reflete inclusive em quem tem dívidas e quer resolver a situação. Álvaro assegura que o momento é ideal para quem quer saná-las, pois os bancos não oferecem apenas parcelamento, mas também descontos que podem chegar a até 90% do valor. ;Este é um excelente momento para quem vai renegociar, pois os bancos estão fazendo de tudo para conseguir esses valores.;

É o que tenta fazer Pedro Henrique Ferreira de Paula, 31. Profissional de segurança da informação e estudante de engenharia civil, ele está sem ocupação desde dezembro. Ele usava o salário para manter em dia dívidas contraídas antes mesmo da crise econômica. Ao ficar sem serviço, tem de ajustá-las no SPC. ;Estou sem trabalhar por causa da crise. Não consegui nada ainda, o orçamento caiu e a gente ainda precisa gastar com outras coisas. Por isso, vim aqui tentar pagar tudo para ter crédito novamente;, conta.

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