Cidades

Especialistas reforçam importância da vacinação contra a febre amarela

No DF, mais da metade das 31 regiões administrativas estão com o índice de proteção abaixo do recomendado pelo ministério

Otávio Augusto
postado em 12/02/2017 08:00
Crianças devem ser vacinadas aos 9 meses e aos 4 anos de idade, mas alguns pais se esquecem de levá-las para tomar a segunda dose
Enquanto sanitaristas buscam meios para controlar o surto de febre amarela pelo interior do país, especialistas ressaltam a necessidade de reforçar a vacinação contra a doença nas grandes cidades para evitar a reurbanização do vírus. O foco são as pessoas que não procuram a imunização e ficam suscetíveis à doença. Na capital federal, mais da metade das 31 regiões administrativas estão com o índice de proteção abaixo do recomendado pelo Ministério da Saúde, de 95% da população. A Secretaria de Saúde admite que, em determinadas comunidades, é mais difícil alcançar as pessoas, apesar disso, mantém a meta de vacinar a todos.

A média da cobertura vacinal do DF até novembro de 2016 ; o consolidado com os dados do ano todo deve ficar pronto em março ; é de 89,5%. Paranoá, Itapoã e Jardim Botânico têm o pior cenário. Nesses locais, a imunização fica em torno de 72% da população. Asa Norte e Lago Norte também estão abaixo do protocolo, com 82% (leia Proteção). Apesar de a imunização ter apresentado queda em relação ao ano anterior, a capital está acima da média nacional. No Brasil, somente 62,7% das pessoas são vacinadas contra a febre amarela.

Em Ceilândia, cidade com 489 mil habitantes, a desaceleração na imunização foi a maior. Passou de 134,3% da população protegida em 2015 ; algumas pessoas foram imunizadas mais de uma vez ; para 84,1% até novembro do ano passado. Decréscimo de 37,3 pontos percentuais. A diferença pode diminuir quando forem apresentados os dados finais, segundo a Gerência de Vigilância Epidemiológica e Imunização, mas não deve alcançar o índice definido pelo Ministério da Saúde. Paranoá, distante 19km do Plano Piloto, registrou baixa de 28,8 pontos percentuais na vacinação. Saiu de 101,3% da população para 72,1%.

Desde o início do surto da doença, em janeiro, a Secretaria de Saúde vacinou 51,4 mil pessoas ; três vezes mais que a média para o período, de 17 mil. O DF recebeu 300% mais doses do Ministério da Saúde. O volume chegou a 80 mil no mês passado e, nesta semana, a capital federal recebeu mais 60 mil unidades. A pasta prepara um levantamento para saber onde houve a maior necessidade de vacinação. ;A população cresceu e estamos investindo para acompanhar isso. Temos uma série histórica desde 1982. Estamos preocupados em melhorar nosso cronograma para aprimorar as coberturas vacinais;, destaca a gerente de Vigilância Epidemiológica e Imunização, Olga Maíra Machado Rodrigues.

Prevenção

A sanitarista Marta Pereira de Carvalho, especialista em doenças imunopreveníveis que atua no setor há mais de 20 anos, faz boa avaliação dos índices do DF, mas destaca que é preciso focar nos adultos e nos adolescentes. ;A cultura do adulto de não se vacinar está ligada à falta de informação. Adulto só procura a imunização quando há surto de doenças;, explica. Desde que o surto começou a ser noticiado, os postos de saúde do DF têm registrado filas e muitos brasilienses reclamam da falta do insumo, apesar de a secretaria negar o desabastecimento.

Marta colaborou com o Plano Nacional de Imunizações (PNI) do Ministério da Saúde e detalha que essa sempre foi uma dificuldade. ;Isso tem melhorado, mas ainda deixa a desejar. Esse enfrentamento é difícil;, conclui.

Eliana Bicudo, da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), acrescenta que o DF faz parte da zona de vacinação obrigatória para a febre amarela. ;A maior dificuldade é o reforço. Muitas famílias vacinam suas crianças aos noves meses de idade e se esquecem do reforço aos 4 anos. A continuidade da prevenção, apesar de a vacina estar sempre disponível, é falha. Isso faz com que a estratégia não chegue integralmente às pessoas;, argumenta a infectologista.

Os bolsões de pessoas não vacinadas levanta o risco de uma possível reurbanização da febre amarela. Isso, aliado à infestação de Aedes aegypti, pode desencadear a transmissão da doença nos centros urbanos. ;Se a cidade tem menos gente vacinada, os riscos são maiores;, argumenta o consultor de febre amarela Munir Ayub, da SBI. Ele defende a ampliação da vacinação no Brasil. ;São cerca de 120 milhões de pessoas que não são imunizadas no Brasil por viverem no litoral. Há efeitos colaterais, mas temos que pesar o risco e o benefício;, frisa.

Atualmente, 19 unidades da Federação fazem parte da zona com recomendação. Entre elas, o DF e Goiás. Os últimos casos de febre amarela registrados em centros urbanos no país ocorreram em 1942, no Acre.

A presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Isabella Ballalai, salienta a necessidade de facilitar o acesso às salas de vacina. ;É preciso trabalhar melhor as informações. Além disso, atrair a população. Os centros de saúde funcionam em horário comercial, de segunda a sexta-feira. Nesse horário, adolescentes estudam e a maior parcela da população trabalha. Uma possibilidade é o funcionamento aos sábados;, afirma. São 123 salas de vacinação no DF, segundo a Secretaria de Saúde. Atualmente, a região com o maior número é Ceilândia e a menor é São Sebastião.


Panorama nacional

O Ministério da Saúde atualizou, na última sexta-feira, os números da febre amarela. No Brasil, são 230 casos confirmados e 79 mortes. Há, ainda, 847 suspeitas da doença e 104 óbitos ainda vão receber o diagnóstico. Minas Gerais, Espírito Santo, Bahia, São Paulo e Tocantins têm casos investigados. A mais recente unidade da Federação a entrar na lista é o Rio Grande do Norte. Lá, uma infecção está sob análise. Os casos confirmados subiram 7% em relação aos dados divulgados na quarta-feira. As mortes tiveram um crescimento de 13%.


Informe-se

Oito pontos para entender a febre amarela

1. As fêmeas dos mosquitos Haemagogus e Sabethes são as transmissoras na área rural. Na cidade, o Aedes aegypti (o mesmo da dengue, da zika e da chicungunha) é o vetor.
2. As primeiras manifestações da doença são febre alta, calafrios, cansaço, dor de cabeça, dor muscular, náuseas e vômitos.
3. A forma mais grave do mal, no entanto, compromete fígado e rins, provoca icterícia (olhos e peles amarelados),
sangramentos e queda de pressão arterial.
4. Não há medicamentos específicos. Analgésicos são usados para controlar a dor e soro, para manter a hidratação.
5. O calendário de vacinação contra a febre amarela passou por alterações no último ano. Agora, a recomendação é de duas doses para a imunização por toda a vida.
6. A primeira dose é aplicada nos bebês aos 9 meses e o reforço, aos 4 anos de idade. Quem receber a primeira dose depois dessa idade deve tomar a segunda após 10 anos.
7. O regime de vacinação adotado no Brasil é diferente daquele defendido pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que recomenda apenas uma dose.
8. Idosos acima de 60 anos, grávidas, lactantes, bebês com até seis meses, pessoas com imunodeficiência (como a Aids ou em tratamento de alguns tipos de câncer), transplantados e alérgicos a ovo não devem se vacinar.



Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação