Cidades

Cooperativas habitacionais do DF são acusadas de calote por 400 pessoas

A Polícia Civil investiga os casos, que também chegaram à Justiça. Os contratos são correspondentes aos anos de 2000 até 2013

postado em 15/02/2017 06:00 / atualizado em 19/10/2020 17:54


O sonho da casa própria veio acompanhado de pesadelo para alguns brasilienses. Pelo menos 400 pessoas denunciam ser vítimas de um calote aplicado por cooperativas habitacionais do Distrito Federal. Os contratos são correspondentes aos anos de 2000 até 2013, cujos valores não foram repassados pelas associações às construtoras. Os prejuízos dos associados variam entre R$ 15 mil e R$ 70 mil. A quantia seria destinada para bancar os projetos iniciais das construções. Ao serem chamados para pegar a chave dos empreendimentos, os novos proprietários tiveram os valores cobrados novamente.



De acordo com as vítimas, 30 cooperativas ligadas ao ex-deputado distrital Batista das Cooperativas estão envolvidas na fraude. É o caso do correspondente bancário Leonardo Rodrigo Gonçalves, 32 anos. Em 2004, ele ingressou na Associação Habitacional da Casa para adquirir um imóvel na Etapa 4 do Riacho Fundo 2. À época, a instituição exigiu R$ 5 mil, correspondentes aos projetos do novo condomínio. Pagou R$ 500 à vista, e o restante, em cheques. Ao ser convocado para assumir o apartamento, veio a surpresa: o dinheiro não havia chegado à construtora. “Disseram que eu não poderia pegar as chaves se não pagasse o valor. Tive de pagar novamente para entrar na minha casa”, queixou-se.

Leonardo, assim como os demais moradores do condomínio, se sentem prejudicados. “Fiz tudo certo. Paguei o dinheiro que foi exigido na cooperativa e agora tive um grande prejuízo. Sinto-me totalmente lesado. Quando questionamos os responsáveis, não temos nenhuma resposta. A solução é entrar na Justiça”, disse. Ele também registrou uma ocorrência contra José Matildes Batista, o Batista das Cooperativas, acusando-o de estelionato. “O que eu quero é uma forma de recuperar esse dinheiro”, contou.
 
A frustração se repetiu com Ailton Mendes, 39. Em 2012, quando se associou a uma das cooperativas administradas pelo ex-distrital, ele repassou o valor de R$ 6 mil. “Ele simplesmente sumiu com o dinheiro e não repassou os valores. Eu fiquei no prejuízo”, reclamou. O vigilante entrou na Justiça. Até então, o caso segue sem acordo. Aílton teve de ingressar em outro programa habitacional para conseguir a casa própria.

Polícia

Em abril do ano passado, uma das cooperativas administradas pelo ex-deputado distrital fechou as portas. A promessa era de retomar as atividades em menos de dois meses, mas isso não aconteceu. Além dos associados, funcionários acumularam prejuízos. Muitos ficaram com os salários atrasados e os direitos trabalhistas afetados. Jeová Oliveira Dias, 38, trabalhou durante 10 anos como atendente na empresa. “Entrei na Justiça trabalhista por causa de 11 meses de trabalho que não foram pagos. Nas minhas contas, ficaram mais de R$ 10 mil para receber. O FGTS também não foi pago e fiquei sem tirar férias por dois anos”, lamenta. Pelo menos oito profissionais estão nesta situação.

Na Polícia Civil, há pelo menos 20 ocorrências registradas contra Batista das Cooperativas, a maioria por estelionato, seguido por esbulho possessório (ocupação ilegal). O ex-deputado também responde na Delegacia do Meio Ambiente (Dema) por crime ambiental. A última ocorrência foi registrada no fim de janeiro deste ano, na 32ª DP (Samambaia Sul). Segundo a ocorrência, a vítima relatou que, entre 2006 e 2013, pagou R$ 5 mil referentes à parte de pagamento de quotização, além de R$ 230 de taxas de manutenção, a uma cooperativa ligada a Batista. Na ocasião, relatou que o escritório do Recanto das Emas encerrou as atividades. Todos os casos estão em investigação.

Justiça

As cooperativas ligadas ao ex-distrital também são alvo de processos no Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios. Pelo menos 20 datados entre 2010 e 2016 circulam na esfera judicial. A maioria das ações se refere à rescisão de contratos, indenizações por danos materiais, enriquecimento sem causa, estelionato, entre outros. Nos últimos dois dias, o Correio tentou contato por meio de dois telefones pessoais de Batista, mas não houve retorno das ligações. A reportagem conversou com uma das advogadas apontadas como defensora em processos que envolvem o ex-parlamentar, porém, ela informou que estava em viagem e não conseguiria falar com ele.
 
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