Cidades

Nível de reservatório sobe em mês de racionamento, mas ainda é crítico

Em um mês de racionamento, Caesb registra economia de 25% na captação de água. Índice da Barragem do Descoberto, porém, está menos da metade da taxa histórica para o período. Próximo a entrar no período de seca, situação preocupa

Pedro Grigori - Especial para o Correio
postado em 15/02/2017 06:00


Na tarde de ontem, a pensionista Maria da Conceição Pinto, 64 anos, usava as garrafas de água que sobraram do dia de racionamento em Taguatinga Sul para encher a máquina de lavar. ;Moro aqui há 40 anos e nunca imaginei que chegaríamos nesta situação. É difícil, mas somos obrigados a nos acostumar;, relata. O rodízio de água que atingiu a casa da pensionista e as cidades abastecidas pelo Reservatório do Descoberto completa um mês amanhã. O saldo dos primeiros 30 dias, avalia a Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal, foi positivo. A redução de vazão de captação registrou média semanal de 3.800 litros por segundo ; número 25% menor do que o apurado em setembro do ano passado, quando passava de 5.100 litros por segundo. Segundo a Caesb, a economia seria suficiente para abastecer Ceilândia ou Taguatinga.

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Apesar da economia, o racionamento não tem data para acabar. O motivo é simples: o nível das barragens do Descoberto e de Santa Maria ainda está bem abaixo da média histórica para a época. Em um mês de racionamento, o reservatório do Descoberto apresentou crescimento no volume de 16,57% ; passou de 19,30%, em 16 de janeiro, para 35,87%, ontem. O índice, porém, está bem abaixo do registrado no mesmo período do ano passado: 50,12% e 80,80%, respectivamente (veja quadro). Mesmo sem o rodízio, o crescimento nos primeiros meses de 2016 foi de 30,68%, quase o dobro do deste ano.

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[SAIBAMAIS]Para o professor Marco Antônio Almeida Souza, do Programa de Pós-graduação em Tecnologia Ambiental e Recursos Hídricos da Universidade de Brasília (UnB), essa diferença no nível da barragem não está relacionada apenas a um maior volume de chuvas em 2016 ; foram 483 milímetros nos dois primeiros meses do ano passado, 51% a mais do que nos primeiros 45 dias de 2017 ;, mas também ao prolongamento da estiagem. ;Devido à seca no fim de 2016, as primeiras chuvas deste ano foram suficientes apenas para abastecer o nível subterrâneo, recarregando o aquífero da região. Só após isso, o aumento no volume do reservatório começa a ser registrado;, justifica. O professor acrescenta que um novo ano de seca fará a situação ficar ainda pior em 2018. ;O ano passado foi o terceiro seguido em que foram registradas as maiores temperaturas no mundo, então a expectativa é que o cenário continue semelhante;, aponta.

De acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), na primeira metade do mês de fevereiro, choveu 172,1 milímetros, 79% do esperado para o mês. A meteorologista Morgana Almeida explica que, mesmo expressivo, o número ainda não consegue compensar a pouca chuva registrada em janeiro. ;Só a partir do dia 14 do mês passado começou a chover consideravelmente. Mesmo assim, foi atingido apenas 59% do esperado para o período;, relata. Apesar da melhora, ontem, diferentemente do informado pela Caesb nos últimos meses, o governador do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg, admitiu que a Barragem do Descoberto pode não chegar ao seu volume total até o fim do período de chuvas.

Seca

A volta do tempo seco é também um dos medos de Maria da Conceição. A pensionista mora com mais 11 pessoas em um lote próximo à Estação de Metrô de Taguatinga Sul e tem passado por dificuldades por não ter caixa-d;água. ;Tenho poucos baldes. Para ajudar, encho algumas garrafas pet, que usamos para fazer comida e dar banho nas crianças. Ainda encho umas extras, porque, neste período, passa muito morador de rua pedindo água. Agora, ainda podemos captar água da chuva, mas nem imagino como ficará a situação na época da seca;, confessa. Outra revolta da mulher é em relação à conta. ;Estou pagando a tarifa de contingência. No último mês, a despesa chegou a R$ 510;, revolta-se.

Para dar conta da demanda, a pensionista tem comprado garrafas de água para consumo. Atitude que fez as vendas de padarias, como a de Filipe Alves, 19, localizada em Taguatinga Norte, subirem nos dias de racionamento. ;A mais vendida é a de 5 litros. O pessoal costuma estocar água, mas prefere comprar um pouco para consumo;, afirma. Mesmo registrando aumento nas vendas, o comerciante afirma que passou por dificuldades no começo do rodízio. ;Não tínhamos muita noção dos gastos e, como não há reservatório na padaria, acabamos tendo uns problemas. Agora, estamos nos adequando. Um dia antes, adiantamos as massas doces, lavamos as louças e a loja e estocamos águas em baldes apenas para o banheiro e a confecção de pães de sal;, declara.

* Estagiário sob supervisão de Sibele Negromonte

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