Cidades

Artigo: 'E por falar em coragem'

São covardes os maus gestores públicos e políticos que usam o cargo para fazer tramoias e encher os bolsos. Também são covardes os vassalos que se sujeitam, que se vendem por qualquer troco

Ana Dubeux
postado em 26/03/2017 17:16
A pretexto dos 55 anos da Universidade de Brasília, lembrei-me de uma citação que adoro de Darcy Ribeiro. Algo assim: ;Fracassei em tudo o que tentei na vida. Tentei alfabetizar as crianças brasileiras, não consegui. Tentei salvar os índios, não consegui. Tentei fazer uma universidade séria e fracassei. Tentei fazer o Brasil desenvolver-se autonomamente e fracassei. Mas os fracassos são minhas vitórias. Eu detestaria estar no lugar de quem me venceu;. De uma beleza tocante esse pensamento. Darcy foi um homem de coragem; assim como a UnB, um projeto totalmente inovador comprometido pela ditadura, foi um ato de coragem. E é sobre coragem que eu gostaria de falar.

É uma virtude, um impulso, a transposição do medo, a não paralisia diante de qualquer obstáculo. Lido com muitas pessoas corajosas no meu dia a dia, gente que luta até o fim por seus ideais e não transgride a própria consciência. É no exemplo deles, assim como no de Darcy, que tenho me apegado ultimamente. Vivemos tempos sombrios, em que a coragem deixa de ser atributo e passa a ser necessidade. É um escudo contra todo tipo de covardia.

São covardes os maus gestores públicos e políticos que usam o cargo para fazer tramoias e encher os bolsos. Também são covardes os vassalos que se sujeitam, que se vendem por qualquer troco. Bajuladores, entreguistas, traidores estão conseguindo espaços inimagináveis para transitar com desenvoltura, ganhar influência e enganar os bobos. Está cheio deles por aí. Os covardes se vendem por qualquer tostão, abrem mão de suas ideias sem qualquer contrariedade, se movimentam entre o bem e o mal com enorme naturalidade e têm um discurso pronto e bobo para justificar a fluidez e a fraqueza de seu caráter. Quer um exemplo? Seguem alguns: ;E quem nunca fez isso?;; ;É uma prática normal nas empresas, na política;; ;É preciso se adaptar aos novos tempos;; ;Cansei de ser certinho e só me ferrar;. E por aí vai.

O mundo hoje é para os fortes, para quem tem um triturador no estômago e uma proteção divina capaz de neutralizar as energias ruins. Portanto, meus caros leitores, prestem atenção em quem anda ao seu lado. Ouçam sua intuição; percebam as nuances, as atitudes, as palavras... Tenham coragem para se afastar de quem está sempre se justificando, apontando o dedo para o outro, acolhendo maus exemplos, se aliando a quem não presta. Desculpem, mas não dá para ser o bonzinho da turma dos maus, embora esteja fora de moda o maniqueísmo. Pessoalmente, ando meio farta dos advogados do diabo. Ama o diabo? Seja corajoso, não o justifique, apenas o siga. O falso moralismo talvez seja a pior forma de covardia.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação