Cidades

Escola de Ceilândia capta água da chuva para ensinar uso consciente

Por iniciativa de ex-alunos, Centro Educacional , em Ceilândia, capta chuva para irrigar horta, limpar o pátio da escola e ensinar aos alunos a importância do uso consciente da água. Sistema de calhas e reservatório custa mais barato do que caixa d'água

Michelle Horovits - especial para o Correio
postado em 10/04/2017 07:45
Partindo do princípio de que um exemplo vale mais do que mil palavras, o Centro Educacional 7 de Ceilândia resolveu mostrar aos alunos, na prática, a importância do uso consciente da água. Com a ajuda de um ex-estudante da escola, criou um sistema que capta mais de 60 mil litros de água da chuva.

A proposta de reaproveitamento da água veio do engenheiro civil Mario Fernando Pereira, de 22 anos. Ele estava se formando na Universidade Católica de Brasília e queria ajudar a comunidade onde cresceu. Convidou outros dois colegas, Matheus Augusto Oliveira dos Anjos, de 22 anos, e Luis Felippe Santana, de 23.

[SAIBAMAIS]Com uma equipe pequena, mas empenhada, calhas foram instaladas no telhado de um dos blocos da escola. Elas levam a água que escorre da cobertura para os reservatórios. Antes de chegar aos tanques de armazenamento, o líquido passa por um encanamento com gotejamento. A técnica utilizada para a construção dos reservatórios foi o ferrocimento, um método alternativo e mais econômico, muito utilizado no Nordeste para cisternas. Primeiro é feita uma armação de ferro no formato de gaiola, que, depois, é preenchida com o cimento.

Para a diretora da escola, Simone Rebouças, além da economia de água, o principal benefício do projeto foi o conhecimento que trouxe para os alunos. ;O investimento é mais do que físico, é pedagógico. Fizemos questão de construir os reservatórios no pátio para que os alunos vivenciassem a experiência e isso gerasse a conscientização;, destaca. A água coletada é usada para irrigar a horta e para limpeza do pátio da escola, que tem 76 mil metros quadrados e recebe mais de 2 mil alunos.

Aprendizado

A horta totalmente orgânica recebe o cuidado diário de 150 alunos do horário integral, que plantam as mudas como parte das atividades de consciência ambiental. São mais de 10 tipos de verduras e legumes. ;Precisamos desenvolver a educação ambiental e pensar os problemas a longo prazo para tentar minimizar os efeitos. Quando implantamos, em 2015, esse projeto, muita gente perguntava se não era melhor usar o dinheiro para coisas mais imediatas. A educação entra exatamente nessa discussão, para prevenir problemas futuros e ver de forma crítica a questão ambiental;, argumenta a diretora.

Juliana de Cassio, de 15 anos, é uma das alunas do 9; ano que trabalhou no plantio da horta. ;É um trabalho importante. Além de os produtos serem utilizados no lanche da escola, quem participa pode levar um kit de verduras para casa. Como não tem veneno, é bem mais saudável;, explica. Para Guilherme Mourão, de 14 anos, também do 9; ano, foi importante aprender a fazer as mudas. ;Posso fazer do mesmo jeito em casa, e como a água usada é da chuva, não teremos gasto. A gente tem que aprender a viver assim;, ensina.

A escola atende estudantes de 10 a 80 anos, que participam diariamente de várias atividades ligadas a medidas sustentáveis, como reuso da água, alimentação saudável de baixo custo, reciclagem, produção de sabão com óleo usado, reflorestamento, regras de economia de água e melhor consumo de produtos.

O desejo dos universitários é que a ideia sirva de exemplo para outras unidades de ensino e até mesmo para pais de alunos. ;É mais barato do que comprar uma caixa d;água. Calculamos que cada sistema, com calhas e reservatório, tem um custo aproximado de R$ 3 mil. Uma caixa desse tamanho (20 mil litros) chega a R$ 7 mil;, compara Matheus Augusto.

Fórum Mundial da Água

Educação ambiental, uso consciente e reaproveitamento da água, entre outros temas, serão abordados pelo Correio Braziliense no seminário sobre os desafios da crise hídrica, que será realizado amanhã. Os especialistas convidados vão discutir os problemas de abastecimento e os preparativos para o 8; Fórum Mundial da Água, que ocorrerá na capital em março de 2018. Os interessados podem se inscrever gratuitamente no site do jornal no ícone do Correio Debate. É importante lembrar que as vagas são limitadas.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação