Cidades

Seca agrava crise hídrica e governo não descarta aumentar racionamento

Com precipitações abaixo do esperado, especialistas reforçam a necessidade de continuar a economizar água até o próximo período chuvoso

Isabella Conte*
postado em 09/05/2017 06:00
A aposentada Ana Maria Veras teme ficar sem água:

A ausência de chuvas nos meses considerados essenciais para o abastecimento deixou a situação do Distrito Federal ainda mais crítica. No ano em que Brasília atravessa a sua maior crise hídrica registrada, a seca começou mais cedo do que o normal. Em abril, choveu apenas 26,7mm ; 78% menos do que a média histórica, que é de 123,8mm. O nível ficou abaixo até mesmo do esperado para maio (38,6mm). Diante desse cenário, o governo não descarta incluir mais um dia de racionamento. Especialistas avaliam que, nesse momento, é importante economizar ainda mais até a chegada do novo período chuvoso.

As chuvas só devem voltar com intensidade à capital no fim de setembro, de acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). Ontem, a Barragem do Descoberto estava com 55,87% da capacidade, e a de Santa Maria, com 53,71%. Ano passado, nesse mesmo período os reservatórios estavam cheios. ;As chuvas foram abaixo da média no período considerado chuvoso. Daqui para frente, dificilmente ocorrerá precipitações capazes de repor os volumes dos reservatórios. Então, é preciso fazer uma boa administração dos recursos hídricos para o DF não ficar totalmente na seca;, observa o meteorologista Luiz Cavalcante.

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A possibilidade de ampliação do racionamento no DF não é bem-aceita pela população. Moradora do Guará, Ana Maria Veras, 69 anos, adotou medidas de economia desde quando começou o rodízio. Na casa da aposentada, os banhos foram encurtados, as faxinas passaram a ser feitas apenas com pano e as roupas sujas acumuladas. ;Passar dois dias com os registros desligados é preocupante. Nunca achei que poderíamos chegar a essa situação. O medo é que a caixa-d;água não dê conta e fiquemos completamente sem nada;, disse. Em dia de racionamento, ela costuma armazenar o líquido em um contêiner.

O plano de racionamento interferiu na programação de uma lavanderia no Sudoeste. Atualmente, quando falta água, a entrega das roupas é agendada para dias posteriores. Em dia de rodízio, é possível apenas passar as roupas, uma vez que o comércio não possuí caixa-d;água. O armazenamento é feito apenas em garrafas de 5 litros, usadas justamente nos ferros e nos banheiros. ;Fica impossível atender algum pedido de urgência. Se realmente forem dois dias sem água eu não sei como faremos. Não quero fechar as portas, então vamos ter de nos adaptar;, argumentou João Eliseu, gerente do local.

Os níveis dos reservatórios estão sendo observados de semana a semana, segundo o presidente da Companhia de Saneamento Ambiental (Caesb), Maurício Luduvice. ;Isso está relacionado a chuva e a evaporação. Apesar de o volume de precipitações ter sido aquém do esperado, desde o início do rodízio conseguimos a recuperação a um nível de 50% da capacidade dos reservatórios;, explicou. Luduvice detalhou que, se a medida for implantada, a população será avisada a tempo de uma adaptação.

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Em setembro passado, no auge da seca, eram captados 5,1 mil litros de água do Reservatório do Descoberto. Depois do rodízio, esse volume caiu para 3,8 mil l/s ; 13,3% de economia. Na região abastecida pelo Sistema Santa Maria/Torto também houve redução. De lá eram tirados em torno de 2.090 l/s, número que passou para 1.830 l/s. De acordo com Maurício Luduvice, agora, é ainda mais importante a economia por parte da população. ;Vamos trabalhar com gestão de estoque. Esse volume terá que aguentar até o fim da seca. O consumo precisará ser responsável e mais racional.;

O especialista em recursos hídricos pela Universidade de Brasília (UnB) Gustavo Souto Maior Salgado observa, que, se a seca este ano for tão intensa ou igual à de 2016, as barragens correm risco de ficarem abaixo de 20%, como chegou a acontecer com a do Descoberto. ;A situação é grave e, com isso, a única solução será implantar um rodízio maior. Mesmo assim, o governo terá que fazer uma avaliação melhor, uma vez que não é possível saber se a implantação de um dia a mais seria suficiente para garantir o abastecimento no DF;, observa.

* Estagiária sob supervisão de Mariana Niederauer.

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