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Quadrilha junina de Ceilândia pede ajuda para se apresentar em concurso

Os Caipiras da Fé surgiram em 2014 e já conseguiram o direito de se apresentar no Grupo Especial da Liga Independente de Quadrilhas do DF e Entorno. Mas eles precisam de recursos para pagar as fantasias

Paulo Gonçalves*
postado em 27/05/2017 17:00
Pessoas brincam quadrilha de São joão
Foi da paixão de Pedro Vitor Lopes Sousa, 24 anos, pela Festa de Sâo João que nasceu, em Ceilândia, a quadrilha Caipiras de Fé. O professor de educação física e presidente da equipe registrou o projeto em cartório em 14 de abril de 2014. Dois anos depois de muita dedicação, o grupo se classificou para a Liga Independente de Quadrilhas do Distrito Federal e Entorno (LINQ-TFE) e, agora, em 2017, fará a primeira apresentação no Grupo Especial, que reúne a elite da liga.

[SAIBAMAIS]Cerca de 150 pessoas realizam o espetáculo. São homens, mulheres, idosos e crianças que, apesar de histórias de vida diferentes, compartilham um mesmo amor. Para fazer bonito e mostrar que merece estar entre as melhores quadrilhas da região, a trupe ensaia seis vezes por semana em uma quadra poliesportiva de Ceilândia Oeste. Nessas horas, as chuteiras dão lugar aos chapéus de palha, e os gritos de gol são substituídos por canções tradicionais da festa junina.

;Se eu pegar essa bola, eu não entrego mais. Levo ela pra minha casa;, grita Josefina Cecília do Nascimento, 58 anos, aos mais ;fominhas; que insistem em praticar o esporte em um canto da quadra enquanto o quadrilheiros treinam a coreografia. A simpática senhora é mãe de um dos dançarinos e uma das maiores entusiastas dos Caipiras de Fé. ;Essa quadrilha mora no nosso coração. Ela tirou muito garoto da rua, das drogas; deu muita oportunidade aos meninos que estavam no caminho errado;, conta.
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O caso do vigia Giovane Cordeiro dos Santos, 23 anos, ilustra bem o que dona Josefina descreve. Ele entrou na quadrilha em 2010 a convite de Pedro Sousa. ;Eu ficava na rua fazendo coisa errada, mexendo com droga. A dança ajuda os jovens, os insere na cultura. Se o governo incentivasse mais, poderíamos tirar ainda mais jovens da rua e ajudá-los a ter uma vida melhor;, diz o jovem.
Quem desde cedo experimenta o poder transformador da cultura é a pequena Halanna Batista de Oliveira, 13 anos, que ingressou no grupo este ano. ;Ano passado, eu os vi dançando e gostei da quadrilha. Perguntei para o Pedro se podia dançar, comecei a ensaiar e adorei;, destaca. Ela emenda, com doçura e timidez: ;A importância da quadrilha na minha vida é muito grande porque isso me faz feliz. Eu me divirto, me distraio, me emociono. Por isso estou aqui;.

Como tudo começou


Pedro alimentava o sonho de ter a própria quadrilha quando assistia aos eventos de São João na cidade. ;Nós tínhamos uma vontade muito grande de apresentar lá, o que serviu de incentivo a mais para criar o grupo independente;, conta. Depois de sofrer com alguns problemas burocráticos, o professor decidiu registrar a quedrilha em cartório, em 2014.

Com a decisão, veio a vontade de alçar voos mais altos, o que aconteceu no ano passado, na primeira apresentação na LINQ-TFE. Logo na estreia, foram campeões do segundo grupo, levando os títulos de melhor quadrilha, melhor casal de noivos e melhor marcador ; personagem que norteia a apresentação, incorporado pelo próprio Pedro. ;A competição é um incentivo a mais pra gente se readaptar, se reinventar. É um estímulo para o grupo. Nós ganhamos nome;, explica o idealizador dos Caipiras de Fé.

Agora, os pequenos gigantes enfrentarão quadrilhas mais tradicionais e fortes financeiramente. Para arrecadar verba e fazer bonito na apresentação, os participantes se dividem em grupos nos fins de semana e saem em busca de recursos: vendem bolo, água e refrigerante nas ruas da capital. ;Isso tudo pra a gente conseguir mão de obra de costureiro e tecido;, justifica Pedro.

Com o mesmo objetivo, o grupo realiza neste sábado e domingo (27 e 28/5) um festival com apresentações culturais, venda de alimentos e rifa de uma bicicleta na mesma quadra poliesportiva onde costuma ensaiar. ;Começamos a realizar o festival junino em 2015, já que não temos nenhum outro recurso para levar a quadrilha pra frente;, explica Johnson Correia Lima, 19 anos, coreógrafo do grupo.

Festival Junino da Quadrilha Caipiras de Fé

Sábado 27 (das 9h às 20h) e domingo 28 (das 11h30 às 18h)
QNN 17/19, quadra poliesportiva (Ceilândia Oeste)
Atrações: Quadrilha Aquarela Nordestina (GO), Quadrilha Caipiras de Fé e Funk Style
Entrada gratuita
* Estagiário sob supervisão de Humberto Rezende

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