Cidades

Frio é desafio a mais para quem precisa madrugar para ir ao trabalho

Quem precisa sair cedo de casa ou cumpre turnos à noite e pela madrugada sofre com as temperaturas mais baixas

Walder Galvão*
postado em 08/07/2017 08:00 / atualizado em 19/10/2020 12:19


Com as insistentes baixas temperaturas no Distrito Federal, os trabalhadores que cumprem expediente contrário ao horário comercial sofrem com a dificuldade de sair de casa ou virar a noite no serviço. Sair do chuveiro quente, encarar o transporte ou tentar se aquecer durante o expediente se revela um desafio para muitos desses brasilienses. Mesmo ativos nas respectivas funções, o semblante dessas pessoas denuncia o desejo de que o tempo gelado vá embora.

Às 4h30, Daiane Almeida, 23 anos, sai de Cidade Ocidental, distante 45km de Brasília, para estar na lanchonete onde trabalha, na Rodoviária do Plano Piloto, às 5h30. O celular da operadora de caixa desperta às 3h30. Em seguida, ela enfrenta o primeiro desafio: entrar e sair do banho. Às 4h25, Daiane pega o primeiro coletivo. “Faço o mesmo caminho, de segunda a sábado, sem pecar um dia. Com esse tempo, preciso usar três blusas de frio para me aquecer. Espero que esse período gelado acabe logo”, relata. Durante as folgas, aos domingos, a preguiça toma de conta. “Tá muito difícil levantar. Quando posso, aproveito para dormir até mais tarde e descansar”, comenta.

Saiba Mais

Em um posto de gasolina do Setor Hoteleiro Sul, o frentista Filipe Estevão, 25, comemora o fim das férias do colega de trabalho. Até o início do mês, ficou com ele o plantão noturno, das 18h às 6h. “Estava muito difícil enfrentar esse tempo. Eu tinha de usar várias blusas por baixo do uniforme, que é um moletom. Mas, mesmo no meu horário normal, das 10h às 22h, ainda sofro”, conta. Durante o expediente, os trabalhadores do local precisam estar sempre na pista de atendimento, aguardando os veículos. Além do frio, outra preocupação de Filipe é com a saúde. “Agora, o meu nariz vive entupido. O que posso fazer é tomar vitaminas para me prevenir das gripes”, diz.

O funcionamento das padarias começa nas primeiras horas da manhã. Para os clientes encontrarem os produtos nas prateleiras logo cedo, os padeiros são os primeiros a chegar. Morador do Gama, Rodrigo dos Santos Nunes, 36, acorda às 5h30 para chegar ao trabalho às 7h. O padeiro cumpre o trajeto em uma motocicleta, o que dificulta o deslocamento em épocas geladas. “Não fico animado nem para acordar. A vontade é de ficar embaixo das cobertas, tomando um caldo e assistindo a alguma coisa”, admite.



Prejuízo


A escala de plantão faz parte da rotina dos profissionais das forças de segurança. Policiais, bombeiros e agentes de trânsito viram as noites na companhia das baixas temperaturas. Por isso, o desafio de permanecer as madrugadas na rua é ainda maior. A bombeiro Juliana Marques, 27, nunca enfrentou um tempo tão frio durante o expediente. “Ficamos no alojamento, que é quente, e, quando somos chamados, temos de ir até o local do atendimento, no frio. Com isso, passei a usar uma blusa térmica por baixo do uniforme”, explica.

Até mesmo o mercado de sexo sofre com o frio. Garotos e garotas de programa evitam sair às ruas, tudo por causa do tempo. Carla (nome fictício), 23, aguarda os clientes, todas as noites, na W3 Norte. Independentemente do horário, ela ficava no local até garantir a renda do dia. No entanto, com os termômetros marcando baixas temperaturas, a moça passou a intercalar os dias de trabalho. “Moro com uma amiga, que também faz programas. A gente combinou de cada dia ir uma, mas, quando tá muito gelado, a gente prefere ficar em casa”, reconhece. Carla explica que precisa usar roupas curtas para chamar a atenção; por isso, não pode sair agasalhada. “No fim, perdemos dinheiro. Clientes sempre terão, mas preciso preservar a minha saúde”, conclui.
 
 


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